O governo de Burkina Faso decidiu anular a votação prevista para esta quinta-feira (30) de uma revisão constitucional e pediu calma à população depois que manifestantes atearam fogo ao prédio da Assembleia Nacional.Os protestos contra a reforma constitucional, que permitiria ao presidente prolongar seu mandato depois de 27 anos no poder, resultaram em confrontos entre os manifestantes e oficiais do exército nacional, com o registro da morte de um homem na capital Uagadugu, onde as instalações da televisão pública também foram atacadas.Além de atear fogo ao prédio da Assembleia Nacional, centenas de pessoas invadiram o prédio da Radiodifusão Televisão de Burkina (RTB), onde saquearam e destruíram veículos.
A prefeitura, a casa do prefeito pró-situação e a sede do partido presidencial também foram incendiadas em Bobo Diulasso, a segunda cidade mais importante do país.Na véspera, milhares de pessoas voltaram às ruas para protestar contra o projeto de reforma constitucional que permitiria prolongar o mandato do presidente Blaise Compaoré após 27 anos no poder.A oposição afirmou que o número de manifestantes chegou a um milhão, algo histórico no continente africano.Uma greve convocada pelos sindicatos e a sociedade civil provocou lentidão na quarta-feira no funcionamento dos serviços públicos e em algumas empresas.O Parlamento do país examinaria nesta quinta-feira o polêmico de lei polêmico, que pretendia revisar o artigo 37 da lei fundamental para permitir a Compaoré, que deve abandonar o poder em 2015, a governar durante três quinquênios, ao invés de dois.
A mudança permitiria que ele disputasse novamente as eleições presidenciais.Compaoré, que chegou ao poder em 1987 com um golpe de Estado, concluirá no próximo ano seu segundo quinquênio (2005-2015), depois de dois mandatos de sete anos (1992-2005).Compaoré tinha 36 anos quando tomou o poder em outubro de 1987, após um golpe de Estado contra seu outrora amigo Thomas Sankara, um carismático e jovem líder conhecido como o "Che Guevara Africano", que foi assassinado depois de ser derrubado do poder.O governo dispõe de maioria parlamentar para ratificar diretamente a lei, sem passar por referendo, como estava previsto inicialmente.
A oposição teme que a mudança constitucional, que não deveria ter caráter retroativo, leve o chefe de Estado, eleito quatro vezes com maioria esmagadora, a tentar permanecer no poder por mais 15 anos.A oposição e a sociedade civil de Burkina Faso deram um ultimato ao poder e exigiram a deposição do presidente.Como resposta às ameaças, o governo fechou escolas e universidades durante a semana para evitar discussões entre os estudantes e professores.
Campaoré tem uma imagem sólida no exterior, apesar de seu envolvimento em diversos escândalos, como a atuação do presidente em redes de tráfico de armas e de diamantes com os rebeldes de Angola e Serra Leoa.A situação já é corrente na África. Nos últimos anos, foram tomadas decisões parecidas em pelo menos oito países – Argélia, Chade, Camarões, Togo, Gabão, Guiné Equatorial, Angola, Djibuti e Uganda – onde alguns presidentes seguem no poder há mais de três décadas.
G1