Opinião

Bullying

Palavras usadas para definir sentimentos e relatar sintomas às vezes podem causá-los.
Veja o caso do termo estresse, que entrou no uso popular do país há uns 20 ou 30
anos.

Antes dele, encarávamos cansaço, tédio ou mau humor como estados normais e
passageiros, insuficientes para justificar faltas ao trabalho ou à escola.

Aí, um dia, copiamos do inglês a palavra estresse (stress) que passamos a usar na
definição de cansaço, desânimo, apatia, mas também para justificar preguiça ou
malandragem e tirar alguma vantagem.

Do estresse para a depressão foi um pulo. A tristeza, desânimo, sensação de
infelicidade ou desalento, ainda que passageiros, passaram a ser chamados de
depressão e tratados como tal.

Um pouco depois, adicionamos a palavra LER (lesão por movimentos repetitivos),
nome novo para um mal antigo, que no passado raramente afastava alguém de suas
obrigações. Incorporada a palavra, foi uma fila aos ortopedistas e consequentes
ausências do serviço.

Os estressados e os acometidos por LER abusaram dos atestados médicos para
encobrir a malandragem, a indolência e a preguiça.

Copiamos, também do inglês, a palavra bullying, que no original define um tipo de
agressão física ou psicológica intencional e recorrente.

Distorcida, ela está servindo para qualificar qualquer brincadeira feita entre
adolescentes ou crianças, que de alguma maneira desagrada a pessoa atingida pelo
gracejo. Essa afirmação não atenua a malignidade do bullyng verdadeiro. Este sempre
existiu nas escolas, mas muitas vezes não foi tratado com a severidade que merece.
Ainda temos as palavras: discriminação, assédio, etarismo, homofobia ou transfobia e
racismo.

A tal da discriminação ficou tão popular que se atribui a ela qualquer insucesso na vida
social, no emprego ou na escola. Uns se acham discriminados porque são negros,
outras dizem que foram preteridas por serem mulheres. Há os que se dizem
prejudicados por pertencerem ao grupo LGBTQIA+, ou por frequentarem tal ou qual
religião, sem falar dos idosos que acham que não estão recebendo atenção por conta
desta condição.

O assédio, que originalmente, significava somente cercar ou importunar
(sexualmente), a partir deste século, impulsionado por debates trabalhistas e pela
difusão de conceitos internacionais, passou a designar qualquer conduta reiterada que
constranja, intimide ou pressione.

A palavra da vez é woke O “movimento woke” que surgiu nos EUA significa
literalmente acordado. Era usada (a palavra) entre os afro-americanos para mostrar a
revolta contra desigualdades, discriminação e violações de direitos. Mas seus
seguidores, estenderam de tal forma a ação e abrangência desta teoria identitária que
despertou o atual movimento “anti-woke”, que começa a alastrar-se pelo mundo.

Defendo com fervor o combate ao preconceito, ao etarismo e ao assédio em todas as
suas formas e manifestações. Também repudio a transfobia, a misoginia, o racismo e
concordo que seus praticantes sejam tratados como criminosos que são.

Parece-me, entretanto, que destes, o pior é o bullyng por atingir crianças e
adolescentes quando eles mais precisam de acolhimento. Deveria haver uma punição
severa para os pais dos garotos e garotas que cometem este crime e um esforço das
escolas para diferenciá-lo de uma simples “zoada”, comum entre a molecada.

Renato de Paiva Pereira.

Foto Capa: Mikhail Nilov / Pexels

Renato Paiva

About Author

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Você também pode se interessar

Opinião

Dos Pampas ao Chaco

E, assim, retorno  à querência, campeando recuerdos como diz amúsica da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul.
Opinião

Um caminho para o sucesso

Os ambientes de trabalho estão cheios de “puxa-sacos”, que acreditam que quem nos promove na carreira é o dono do