Opinião

Bugrinhos no Masp

Conceição Freitas da Silva, conhecida como Conceição dos Bugres (Povinho de Santiago-RS,1914-Campo Grande-MS, 1984), está no Museu de Arte de São Paulo (MASP), na exposição “Conceição dos Bugres: tudo é da natureza do mundo”, com curadoria assinada por Amanda Carneiro e Fernando Oliva.

“Tudo é do mato.

A cera é a abelha que faz,

a madeira é do mato…

Tudo é da natureza do mundo.”

Conceição dos Bugres, 1979.

Em terras do Mato Grosso do Sul a ancestralidade indígena de Conceição dos Bugres se fixou em suas esculturas de madeira cobertas por cera e tinta que ela deu vida ao longo de três décadas. Seus “bugres”, como foram batizados pela artesã, foram esculpidos “para ter a companhia deles”. Se perpetuaram em cilindros de dimensões variadas. A destreza das mãos no manejo da machadinha de Conceição dos Bugres construiu Mariquinha, João Grilo, Chiquinho e tantas outras personagens cinzas, ocres, marrons, pretas.

Em 2014, Conceição e seus “bugrinhos” estiveram em Cuiabá, no Museu de Arte de Mato Grosso, na exposição “Modernistas Brasileiros”, ao lado de Tarsila do Amaral, Marciej Babinski, Clóvis Graciano, Cícero Dias, Antônio Carlos Rodrigues e Ademir Martins. Desde de 1995, o acervo, confiado à Secretaria de Estado de Cultura pelo Banco do Brasil, reúne obras de um dos períodos mais importantes da artes visuais no país: o Modernismo.

Inaugurado naquele ano, o imóvel do Museu de Arte de Mato Grosso foi a residência oficial dos governadores de Mato Grosso, uma construção de 1941. Por 45 anos passaram por lá 14 chefes do Executivo do Estado. Nas paredes e no chão do primeiro piso do casarão estiveram artistas plásticos dos Matos Grossos e de outros cantos do Brasil. No segundo, depois de subir imponente escadaria, os modernistas, tendo como testemunho um personagem sobre um vitral que demonstra a violência do colonialismo que se fez presente na relação dos bandeirantes com os povos indígenas.

 Em 1974, em rara entrevista, a artista explicou como nasceram os bugres: “Um dia, me pus sentada embaixo de uma árvore. Perto de mim tinha uma cepa de mandioca. A cepa de mandioca tinha cara de gente. Pensei em fazer uma pessoa e fiz. Aí a mandioca foi secando e foi ficando parecida com uma cara de velha. Gostei muito, depois eu passei para a madeira.”

Mais de um século sem Conceição dos Bugres. Seus bugrinhos vêm passando de geração a geração: primeiro por seu filho Ilton e depois por seu neto Mariano, que nos remetem às esculturas sagradas e lúdicas do povo indígena Kadiwéu, ressaltadas pelos etnólogos Guido Boggiani e Claude Lévi-Strauss.

 

Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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