O brócolis, alimento rico em vitaminas e antioxidantes, pode ajudar a prevenir o aparecimento de tumores malignos no organismo humano e ainda auxiliar pacientes que tratam algum tipo de câncer a driblar os efeitos dos tratamentos quimioterápico e radioterápico, afirmam especialistas da área médica que estudam a atuação de alimentos preventivos e complementares. As informações foram divulgadas nesta semana durante o Broccoli Consumption Conference, evento mundial que reuniu a cadeia de produção do vegetal em Atibaia, interior de São Paulo.
Chamados de alimentos quimiopreventivos, o brócolis, assim como os alimentos da cadeia das crucíferas (couve, rúcula, agrião, couve de bruxelas, couve-flor, mostarda) é um vegetal rico em glucosinolatos, substância que após passar pelo processo de hidrólise enzimática (no caso da ingestão, a mastigação promove esse processo), se transforma em sulforafano, que já se provou ser um dos agentes quimiopreventivos mais potentes que agem dentro das células, e em Indol 3 Carbinol, fitonutriente que age como antitumoral, anti-inflamatório, antineoplásica e antioxidante.
De acordo com o biomédico Henrique César Santejo Silveira, pesquisador do Hospital do Câncer de Barretos, essas substâncias são poderosas inibidoras da multiplicação tumoral maligna. “Por suas características já comprovadas cientificamente e por se tratar de um produto neutracêutico [rico em nutrientes], o brócolis é chamado na medicina de quimiopreventivo verde”, explica o especialista. “Estudos in vitro mostraram que suas substâncias podem suprimir a proliferação de diferentes células tumorais do câncer de mama, próstata, endométrio e colón”.
Silveira diz que as substâncias, como o Indol 3 Carbinol, por exemplo, agem na regulação de hormônios, reparação de DNA, divisão celular, crescimento, angiogênese, inflamação e resistência a múltiplos medicamentos. “Por isso, ela também é muito benéfica para quem já realiza algum tratamento quimioterápico ou radioterápico, que têm inúmeros efeitos colaterais”, disse o biomédico. “Uma dieta rica em crucíferas ameniza os efeitos colaterais desses tratamentos também”.
Dentre as crucíferas, segundo o pesquisador, o brócolis foi o produto que apresentou os melhores resultados e é o mais rico em sulforafano, indol 3 carbinol, tiocianato, isotiocianato, zeaxantina e luteína, que são antioxidantes poderosos. “Sabemos que apenas 10% dos casos de câncer têm origem em fatores hereditários. Os outros 80% são desencadeados por fatores ambientais, ou seja, da relação que os homens têm com a poluição do ar, os hábitos de consumo, estilo de vida (sedentarismo) e outros 10%, de interações químicas, medicamentosas e alimentares”.
Questionado sobre contra-indicações, Santejo afirmou que dificilmente o vegetal poderia causar algum tipo de problema, a não ser que haja o excesso no consumo. "Se alguém consumir quatro cabeças de brócolis por dia, pode ter um problema, principalmente na glândula tireoide. Estamos falando de porções de 300 gramas, 500 gramas por semana", alerta. O biomédico diz que consumir 3 a 5 porções de crucíferas por dia inibe o crescimento das células cancerígenas.
Cirurgia verde
O médico Alberto Peribanez Gonzalez, do Hospital Albert Einstein, e coordenador de um programa chamado Oficina da Semente, diz que consumir mais vegetais e menos gorduras de origem animal comprovadamente previnem doenças, de um modo geral. Gonzalez defende que lugar de médico é na cozinha e que o consumo de vegetais em suas formas naturais são uma verdadeira “cirurgia verde” no organismo humano.
“Se uma pessoa quer ter uma alimentação saudável e ainda tem dúvidas de quais nutrientes ela deve ingerir para ser realmente saudável, siga as cores do arco-íris”, diz ele, se referindo ao que chama de “as cores do espectro solar no prato”. “Será um prato saudável, com quantidades suficientes de nutrientes para suprir o organismo humano e evitar o aparecimento de doenças”.
O médico, porém, ressalta que é importante que o consumidor saiba qual a origem do alimento porque o consumo de alimentos com excesso de defensivos químicos podem inibir totalmente as características originais dos vegetais, provocando reações químicas, assim como as formas de preparo dos vegetais. "Descongelar vegetais no microondas, por exemplo, é um erro. As substâncias boas reagem e se transformam em radicais livres", diz.
Ele explica que um prato saudável deve conter as cores vermelha (tomate, cereja, melancia), laranja (cenoura, pimenta, abóbora, batata doce, inhame, pêssego, manga), verdes (rúcula, brócolis, alface, mostarda, agrião), azuis (amora, jamelão), roxos (uva, morango) e brancos (maçã, couve-flor, rabanete, alho, cebola, mandioca). “Só que não adianta incluir tudo isso na dieta e não eliminar os hábitos que não são saudáveis como o tabagismo, alcoolismo, noites mal dormidas e a falta de cuidado com a origem dos alimentos que consumimos”, alerta.
Segundo o médico, é possível sim, ter uma vida saudável, sem precisar ir ao médico, somente se alimentando bem e cultivando hábitos saudáveis. “A medicina está na cozinha”.
Gonzalez defende que a alimentação à base de vegetais pode reduzir a incidência de uma série de doenças, mas lembra que não adianta apenas comer vegetais. "É preciso repensar o estilo de vida. Não adianta investir em uma alimentação à base de vegetais e continuar sendo sedentário, ingerir bebidas em excesso, fumar. Nenhum brócolis sozinho vai fazer milagre"
Câncer no Brasil
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o Brasil registrou 600 mil novos casos de câncer em 2016. Em homens, a maior incidência foi o câncer de próstata, com 61 mil novos casos, seguido pelos cânceres de cabeça e pescoço, 17 mil novos casos. Nas mulheres, o câncer de mama vem em primeiro lugar, com 61 mil novos casos, seguido do cólon retal (17,3 mil) e do câncer de colo de útero, 16,3 mil novos casos.