Faltando pouco mais de dois meses para a Copa do Mundo no Catar, o espírito coletivo do futebol já está se manifestando em Cuiabá pelas bancas que vendem o álbum de figurinhas oficiais da copa. Viral, a “febre” tem atingido pais que buscam passar às próximas gerações a tradição de torcer pela pentacampeã canarinha; mães que desbravam com suas filhas praticantes do esporte o costume de vibrar por meio álbuns; rapazes adultos que viram o penta e já são antigos colecionadores e o público maciço da “gurizada” que tenta completar a primeira edição na esperança de ver Neymar, Vinícius Júnior, Marquinhos, Alisson e companhia levantarem a sexta taça para o Brasil.
No centro da capital, na Avenida Getúlio Vargas, nem o sol escaldante tem impedido que os fãs de futebol deixem o conforto de suas casas aos finais de semana para formarem longas filas na Banca Central, instalada na Praça Santos Dummont, em frente à Igreja Mãe dos Homens.
Todos os sábados e domingos, a partir das 16h, a banca organiza encontros àqueles que querem completar o álbum da copa. Ali é o lugar ideal para trocar as figurinhas repetidas e, a depender da sorte, precificar os cromos raros e as legendárias brilhantes.
“Com o momento das trocas que a gente faz aos sábados e domingo às 16h, e sendo uma banca familiar, o pessoal tem se reunido aqui. Acaba sendo um ponto de encontro para as famílias”, disse a proprietária da banca.
Marcelo é autônomo e, acompanhado de seu filho e um amiguinho, chegou na banca no começo da tarde do último sábado. Ele, que já gastou mais de mil reais no álbum, não reclama. Pelo contrário, tem aproveitado o momento com os pequenos para transmitir os costumes de torcer pela canarinha e, especialmente para eles, encontrar o “Neymar Ouro” – que já foi colocado à venda em certas ocasiões por cerca de 9 mil reais.
Sobre o momento de interação coletiva entre as famílias que vão às praças com o mesmo propósito, Marcelo exclamou: “é ótimo, importante. Quando a gente era criança e comprava um pacotezinho, era a maior alegria. Hoje eu quero fazer isso para meu filho”,disse.
Engenheiro Civil, Heitor foi sozinho para a Banca Central. Carregando apenas o álbum, um calhamaço de figurinhas e o celular, estava na busca de incrementar mais uma edição. Colecionador antigo, quer preencher seu quarto álbum. No celular, o aplicativo da Panini estava aberto para que ele pudesse organizar os jogadores que já possui e os que precisa para a nova coleção.
Desde 2006 que ele investe nas figurinhas. De lá pra cá, foram quatro copas do mundo: na Alemanha, África, Brasil e Rússia. Heitor contou que a maior mudança que percebeu foi o incremento da internet na cultura dos álbuns, o que viralizou a vontade de completar os álbuns. “Com a internet, tiktok e tudo, ajuda a criançada vim completar. A internet acabou incentivando a criançada vim pra cá”.
Estudante da Escola Presbiteriana de Cuiabá, a pequena Sofia de 10 anos e sua amiguinha foram se aventurar pela primeira vez no encontro de trocas. Entusiasmadas, elas contaram com felicidade sobre já ter o brasão raro do Brasil em bronze e o Messi de bronze. Mas, ainda falta o Neymar.
A mãe de Sofia contou que nem sabia da existência do álbum, que foi dado à filha pelo pai. Ela que já gastou mais de R$ 200 reais nas compras, ponderou sobre a novidade de ser um trio de mulheres desbravando um campo normalmente preenchido por homens.
“Na verdade, assim, a gente ainda vê como uma coisa que não é muito comum. Mas como minha filha já faz futsal, ela já gosta e tudo. Aí o pai providenciou o álbum, que eu nem sabia que existia. Agora fiquei encarregada de vim aqui comprar as figurinhas, elas querem toda hora”.
Instalada na Praça Santos Dummont desde abril deste ano, no “pós pandemia”, a Banca Central tem vivido bons momentos com o álbum da copa. Segundo a proprietária do local, teve final de semana que mais de trezentas pessoas se enfileiraram para adquirir os pacotinhos.
Ela disse ainda que o público deste ano tem sido bem diversificado. São pais que se envolvem, adolescentes, a gurizada e a intrigante novidade: o elevado número de meninas indo buscar as figurinhas. “Não era um público que procurava muito”, disse.
Mesmo com os pacotinhos custando R$ 4, o dobro da edição passada, quando custavam R$ 2, o público não se acanhou. Os fãs de futebol continuaram comprando, inclusive, a banca teve que restringir a quantidade de pacotinhos por pessoas.
“Já teve dia de ter que restringir. Porque a Panini, que é a distribuidora, não estava preparada para esse Boom que aconteceu com esse álbum. Acabou que eles mesmos estão limitando os números de figurinhas que as bancas podem comprar”.
Na leitura da proprietária, o período pós isolamento da pandemia fez com que as pessoas buscassem momentos de interação coletiva, sendo os encontros de trocas a ocasião ideal para isso.
“Com o momento das trocas que a gente faz aos sábados e domingo às 16h, e sendo uma banca familiar, o pessoal tem se reunido aqui. Acaba sendo um ponto de encontro para as famílias”, disse.
E como resultado positivo destes momentos, a banca tem passado por ótima fase nas vendas, até esgotando todos os pacotes viabilizados. “Com certeza mais de mil em um dia. Estamos abrindo todos os dias às 7h da manhã e fechando só a noite. Aqui não para desde o começo dos álbuns”, finalizou.