Opinião

BRIGA BOA

As portas ainda fechadas da entrada principal diminuem a cacofonia sonora que invade a plateia vazia do teatro. No palco cadeiras são arrastadas e alinhadas, estantes montadas e, nelas, colocadas cuidadosamente  partituras musicais. Os monitores passeiam com seus diapasões eletrônicos entre os músicos afinando violinos e violoncelos. Grandes, médios e bem pequenininhos.

Os membros da orquestra chegam aos poucos e vão assumindo suas posições procurando ocupar da maneira mais confortável possível o espaço que lhes cabem no apertado latifúndio musical. O palco é o limite. Todos muito compenetrados, cientes de seus papéis. Alguns esticam o corpo corrigindo a postura para empunhar seus instrumentos.

O programa distribuído na entrada do Teatro do Centro Cultural Light, no centro do Rio de Janeiro, informa que o Núcleo de Vivência Musical da Rua Larga apresenta “Luna, um olhar sobre a Terra”, de Leonardo Sá, com a Orquestra e o Coro  Infanto-juvenil Maestro José Siqueira, regidos por Noemi Uzeda Leon. O projeto é patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura do Governo do Rio de Janeiro, por meio da Lei de Incentivo à Cultura e a Light.

A orquestra de cordas é formada por 50 crianças, de 8 a 16 anos. O coro, da Escola Villa-Lobos, tem mais 30 componentes. Alguns dos talentos que estão no palco para o concerto cruzam sozinhos de um lado ao outro da cidade para participarem das aulas de música.

Quando as portas se abrem e os assistentes começam a entrar em busca de lugares para acompanharem a apresentação, as crianças perdem um pouco o ar compenetrado e se concentram em procurar com seus olhares parentes e amigos que lotam o teatro.

É uma plateia diferente. Pais, mães, irmãos (incluindo os bem pequenininhos), amigos e participantes de outros projetos que se desenvolvem no Centro Cultural. A entrada é grátis, para um espetáculo que não tem preço!

Nada se compara as emoções expressas nas faces de todos. Das crianças por estarem mostrando seus talentos. Dos professores e monitores pela realização de mais um ano do projeto que começou em 2008. Ainda restam dois alunos da turma original, aplaudidos com entusiasmo. Os pais se sentem recompensados pelo esforço do leva-e-traz para as aulas. Um sacrifício, agora sabem, compensador.

E aí, vendo os incríveis efeitos desse convívio musical e o aprendizado da criançada, fica a pergunta: se é lei, por que ainda não estão reimplantadas nas escolas públicas e particulares as aulas de música? O que falta para que seja implementada uma disciplina  de aprendizado tão fundamental como essa?

Ver as crianças da orquestra disciplinadas, concentradas e responsáveis pelos seus respectivos papéis dentro da coletividade, é comprovação mais que suficiente dos benefícios que o ensino musical produz na formação de um cidadão. Quem mais precisa vir ver in loco o que este processo de aprendizado pode fazer pelas crianças brasileiras?

Qual a ação necessária para que se faça cumprir a lei?

No momento em que as diferenças se sobrepõem e dominam o debate social de uma forma dramática e apaixonada, é essencial um movimento na direção inversa. Precisamos ensinar e difundir as semelhanças, incentivar o coletivo, a convivência, a solidariedade. E, quando o assunto é educação, lutar batalhas que valham a pena. As que agreguem e criem harmonia. Caso do ensino de música.

Se todos os atores deste processo se unirem e as ações existentes forem devidamente difundidas e valorizadas, em algum momento, a luz da música vai iluminar a escuridão da ignorância. E todos, juntos, cantarão a vitória de uma prática que, além dos demais benefícios,  alegra a alma.

#musicanaescola #édelei

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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