“O brasileiro é muito familiar, pela nossa herança católica. Família é uma coisa muito mais presente no nosso dia a dia do que na Europa nórdica”, aponta Fernanda Brunsizian, porta voz do LinkedIn. Apesar disso, os três principais temas de conversa dos brasileiros com os seus colegas de trabalho são atualidades e política (77,6%), questões de saúde (72,7%) e comida e alimentação (67,9%).
A cultura mais afetiva dos brasileiros também fica clara quando perguntados se eles têm colegas que cuidam ou olham por eles no escritório como um pai/mãe – quase um terço (32,50%) disse que sim. E para 35,8% dos entrevistados, a amizade com colegas de trabalho os tornam mais motivados e produtivos. Apenas 9,70% acredita que este tipo de relação no escritório os torna mais distraídos.
De acordo com Fernanda, o resultado da pesquisa aponta para a importância de cada vez mais as empresas contratarem funcionários baseados na sua cultura e não apenas em qualificações. “Se está fazendo tanta diferença na produtividade estar em um ambiente em que você consiga ter amigos, é super importante na contratação você observar que a cultura daquela pessoa combina ou não com a da empresa”, diz. “As empresas brasileiras estão sim notando que isso é importante, porque a maioria das pessoas que não dão certo não é por causa da qualificação da pessoa, é porque ela não está combinando com o que a empresa valoriza.”
Amizade no trabalho deixou de ser tabu
No entanto, essa correlação entre amizade no ambiente de trabalho e produtividade não é exclusividade do Brasil. Segundo Fernanda, essa característica está cada vez mais visível em todos os países, pela maior presença da geração Y (jovens de até 24 anos) no mercado de trabalho.
Fernanda lembra que a geração passada raramente misturava as informações pessoais com a sua vida no trabalho. Já para a nova geração, que cresce juntamente com as redes sociais, essa relação mudou. “Da mesma forma que eu não vejo problema em colocar uma foto minha em um momento de lazer na internet e compartilhar com colegas de trabalho, eu não vejo problema em conversar sobre o meu namorado com o meu colega do lado. Isso não é mais um tabu”, comenta ela.
E não é apenas com colegas do mesmo nível hierárquico que isso está acontecendo. De acordo com a pesquisa, mais da metade (51,60%) dos entrevistados no Brasil adicionam o seu gerente nas redes sociais e, dentre todos os países pesquisados, os brasileiros são os mais suscetíveis a ter um relacionamento de longo prazo com o seu chefe, representando mais de um terço (36,80%) dos consultados.
“De maneira geral, está sendo quebrado esse distanciamento entre equipe e liderança. Isso é muito importante, pois tem de ser uma relação mais próxima mesmo”, vê Fernanda. Para a especialista, quando o chefe passa a entender um pouco mais da vida pessoal da pessoa que ele coordena, ele também consegue orientar o trabalho da pessoa de maneira a não prejudicá-la fora do ambiente do trabalho.
Por exemplo, se o seu subordinado precisa levar o filho para a escola toda a manhã e ele não está conseguindo, pelo horário do expediente, o gestor pode mudar o horário desta pessoa e criar um ambiente mais agradável e, consequentemente, mais produtivo para aquela pessoa.
Brasileiros são mais leais as colegas de trabalho
Segundo o estudo, mais da metade dos brasileiros (53,6%) disseram que não estariam dispostos a sacrificar uma amizade com um colega, mesmo que isso significasse receber uma promoção. Já em Hong Kong, mais da metade (51,90%) disseram que considerariam, se isso resultasse em uma promoção.
No entanto, Fernanda lembra que é preciso haver um limite nas amizades de trabalho, para não resultar em um atraso na vida profissional da pessoa. Muitas pessoas não conseguem manter o profissionalismo quando um amigo do escritório é promovido e ele se torna seu chefe. “O que tem que ser analisado é que, se as duas pessoas não estiverem de acordo com essa nova relação de trabalho [de pares para líder e liderado], eles não vão trabalhar bem e eu quero uma equipe que funcione”, comenta.
IG