Nadar em rios perigosos, dividir uma casa com dezenas de pessoas, se esconder e, claro passar por barreiras policiais são alguns dos desafios pelos quais as pessoas que se aventuram a entrar ilegalmente nos Estados Unidos passam. Os coiotes que pagam propina aos policiais americanos cobram mais caro porque a travessia é mais fácil. Trajetos perigosos, em terrenos insalubres, são mais baratos.
Em busca de uma vida melhor, uma professora de 35 anos, que preferiu não ter o nome revelado, se arriscou em um desses caminhos em 2003. Ela levou cerca de 30 dias para chegar ao destino final e pagou US$ 3 mil aos atravessadores mexicanos. Nesse trajeto, a imigrante, que já voltou para o Brasil, correu várias riscos.
"Meu maior medo era o rio. Aquilo ali eu já comecei a entrar em pânico. Ele falou 'você não sabe nadar…', mostrou que estava com uma câmara de pneu e que ia encher com a boca e eu poderia atravessar. Aliviou um pouco. Foi tenso na hora porque realmente tem correnteza. O pessoal me ajudou e conseguimos atravessar. Tive medo, pânico. Depois que atravessar o rio, foram mais de 12 horas na boleia de um caminhão. Sem parar, viagem direto", conta a professora.
Desde o início dos anos 2000 a vigilância nas fronteiras ficou mais rígida e a travessia ilegal, mais cara. Em 2002, depois de ter o visto negado, uma mulher de 40 anos decidiu largar a faculdade de direito para viver o sonho americano junto com o marido, de forma ilegal. Em 2011, precisou voltar para ao Brasil porque o pai dela morreu. Depois disso, não conseguiu mais retornar ao país americano.
"Nós só passamos em um rio e andei uns 10 a 15 minutos. Normal. Nessa época, eu paguei US$ 5 mil. Hoje, dizem que se passar um morcego lá, voando, não consegue passar. Hoje em dia, é nessa faixa de US$ 18 mil a US$ 20 mil. A primeira vez eu tentei voltar e me barraram no aeroporto do México. Aí eu voltei mais uma vez e fui pela Guatemala. Consegui entrar em solo mexicano, mas aí eu fui detida", relembra a brasileira.
Confiar o futuro a uma pessoa desconhecida é outro risco. Um homem de 35 anos foi enganado por um atravessador brasileiro, quando já estava na fronteira, em 2001.
"Ele nunca pagou ao coiote pra gente entrar nos EUA. E ele tinha o dinheiro para fazer isso. Então, ele falou que tinha que ir pro Brasil para mandar o dinheiro, que não tinha o dinheiro com ele. Ele fez sacanagem não só comigo. As outras pessoas, a mesma coisa. Nesse processo, meu pai teve que vender um carro que valia muito mais dinheiro por um preço barato para poder me mandar pra frente. Se hoje fosse pra fazer a mesma coisa eu não faria", afirma o homem.
Apesar de ter se arrependido, ele hoje vive o sonho de todo imigrante nos Estados Unidos: finalmente ganhou o GreenCard, depois de se casar com uma americana, quatro anos atrás.
Nem todos têm essa sorte. Ana Alice Teixeira, de 70 anos, que trabalha como empacotadora na empresa da família na Flórida ainda luta para ter a situação regularizada, depois de atravessar a fronteira do México. Ela viveu cinco anos nos Estados Unidos, com visto de turista. Uma vez por ano ela ia ao Brasil para driblar as autoridades, até ser barrada. Por causa disso, a idosa se arriscou a atravessar com coiotes pagando US$ 6 mil. Atualmente, morando com o marido, filhos e netos, todos já regularizados, na Flórida, ela não se arrepende.
"Eu fiquei nove dias dentro de uma casa com 72 pessoas. Não tinha cama para todo mundo, o povo dormia no chão. Comia muito mal. Você não podia abrir a persiana para nada, não podia olhar lá fora. Valeu muito a pena. Minha vida é muito melhor do que aí (no Brasil)", garante.
Esses imigrantes representam apenas uma parte do mar de brasileiros que vai para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor todos os anos. De acordo com os últimos dados do Itamaraty, 1,41 milhões de brasileiros vivem no país, em situação regular e irregular.
Fonte: G1