Cidades

Brasil testa estratégia para melhorar imagem nos EUA

A iniciativa segue os passos de outros países e busca colocar o Brasil na agenda dos principais think tanks de Washington, em um momento em que a Operação Lava Jato respinga nos Estados Unidos (a Petrobras é ré na Justiça americana em ação movida por acionistas que se dizem prejudicados pela má gestão na empresa).

Think tanks – depósitos de pensamento, em tradução literal – são centros de pesquisa e debate que buscam influenciar políticas públicas em áreas como economia, diplomacia e segurança. Donas de orçamentos polpudos, as maiores dessas organizações costumam ser convidadas a opinar em audiências no Congresso e, com frequência, fornecem funcionários para o Executivo e Legislativo do país. Muitas são dirigidas por ex-congressistas ou autoridades que deixaram o governo federal.

Os planos começaram a sair do papel no fim de 2013, quando a embaixada estava sob o comando do atual chanceler, Mauro Vieira, e ganharam impulso com uma parceria fechada em 2014 entre um dos principais think tanks americanos, o Center for Strategic & International Studies (CSIS), e a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Pelo acordo, a Apex – braço do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – se comprometeu a doar duas parcelas anuais de US$ 150 mil (R$ 470 mil) ao CSIS, que em troca criou uma Iniciativa Brasil para publicar artigos e organizar eventos sobre o país.

"Há tempos percebíamos que o Brasil estava sub-representado nos think tanks, mas até então jamais tinha ocorrido um esforço sistemático para mudar esse quadro", diz Benoni Belli, ministro-conselheiro da embaixada.

Belli afirma que o objetivo da iniciativa é superar "visões superficiais" sobre o Brasil nessas organizações. É comum, diz ele, que ao tratar do Brasil elas reproduzam análises sobre os demais países da América Latina sem considerar as peculiaridades nacionais.

"Não se trata de obter um alinhamento automático dos think tanks nem de impedir que nos critiquem, mas de sofisticarmos o debate e adicionarmos outras visões que nos interessam", ele afirma.

"Queremos que os formuladores de políticas saibam que somos uma democracia sólida com uma economia vibrante e diversificada, um país que apresenta várias áreas oportunidades aos Estados Unidos."

Listas e coquetéis
Como parte da estratégia, a embaixada mapeou dezenas de think tanks americanos e montou uma lista de profissionais brasileiros ou brasilianistas (estrangeiros especialistas em Brasil) que pudessem ser indicados a participar de eventos ou ocupar postos nessas organizações.

Em outubro de 2014, vários desses especialistas e representantes de centros de pesquisas influentes foram convidados à embaixada para um debate sobre a imagem do Brasil na imprensa americana. Três meses depois, no coquetel de despedida de Mauro Vieira, membros dessas organizações – entre as quais o CSIS, a Brookings Institution e o Atlantic Council – circulavam entre jornalistas, diplomatas e autoridades americanas na residência do embaixador.

Para diplomatas, os esforços de aproximação levarão algum tempo para surtir efeitos. E para que a estratégia realmente decole, eles esperam que instituições de ensino brasileiras se aproximem de think tanks americanos e que empresas brasileiras com negócios nos Estados Unidos se convençam a patrocinar programas nos moldes da parceria entre a Apex e o CSIS.

Gerente executiva de estratégia de mercado da Apex, Ana Paula Repezza diz que as doações da agência à organização buscam não só melhorar a imagem do Brasil entre autoridades americanas, mas valer-se de sua influência junto a congressistas para impedir que se aprovem leis prejudiciais ao país.

"Percebemos que tão importante quanto divulgar nossos produtos no exterior era trabalhar para que eles não encontrassem barreiras técnicas nos mercados onde queríamos vendê-los", ela afirma.

Repezza diz que, pela parceria, a Apex pode sugerir temas para debates e eventos no CSIS, mas o órgão pode recusar as propostas e, mesmo que as aceite, dará espaço a visões divergentes.

Desde o início do acordo, há um ano, o centro de estudos tem publicado artigos frequentes sobre o país. Numa de suas primeiras análises sobre a economia nacional, a organização elogiou os "valores ocidentais que sustentam as instituições" brasileiras e afirmou que o Brasil está posicionado "para servir de ponte entre o Norte e o Sul globais, tanto econômica quanto politicamente".

O CSIS diz que as doações de parceiros não influenciam o teor de suas análises. Como boa parte dos think tanks americanos, a organização se apresenta como plural e independente.

Think tanks X lobistas
"Os think tanks oferecem algo que falta aos lobistas: credibilidade", diz Donald Abelson, professor de Ciência Política da Universidade Western (Canadá) e estudioso do papel dessas organizações nos Estados Unidos.

Para Abelson, a estratégia tem dado certo e os think tanks vêm abocanhando cada vez mais espaços que eram ocupados por agências de lobby. Por isso, diz ele, faz sentido que vários governos estrangeiros estejam procurando esses centros para tentar influenciar políticos americanos em seu favor.
A presença brasileira no setor é tímida se comparada à de outras potências emergentes. Prestigiados think tanks americanos têm centros dedicados a China, Índia e Coreia do Sul. O maior think tank turco mantém uma filial em Washington, e um dos principais think tanks americanos (Brookings) abriu uma filial na Índia.

As crescentes relações entre governos estrangeiros e think tanks, no entanto, têm gerado questionamentos sobre a independência desses grupos.
Em setembro de 2014, o jornal The New York Times publicou uma reportagem afirmando que, por meio de doações, potências estrangeiras estavam "comprando influência" em think tanks.

Segundo a reportagem, desde 2011 ao menos 64 governos, agências estatais ou funcionários públicos estrangeiros fizeram doações para 28 think tanks americanos. O Brasil não é citado na lista, composta na maioria por países europeus e nações árabes exportadoras de petróleo. Grandes bancos e petrolíferas também estão entre os maiores doadores a essas organizações.

Para Abelson, embora os centros de estudos enfrentem cada vez mais críticas por causa de suas relações com doadores, as organizações continuam bastante populares e poderosas.

"Enquanto os doadores e os políticos gostarem do que elas estão fazendo – e tudo indica que estão gostando muito -, nada indica que vão perder influência ou mudar seus comportamentos", diz o professor.

Fonte: BBC BRASIL

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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