Os resultados fazem parte do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e foram divulgados nesta terça-feira (1º).
A diferença de pontos a favor dos garotos na comparação entre os sexos só é maior na Colômbia (31) e em Xangai-China (25).
Já as estudantes do sexo feminino apresentaram pontuação maior que a deles em 8 dos 44 países analisados. Nos Emirados Árabes, a diferença foi de 26 pontos a favor das meninas.
Para Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, essa diferença de desempenho reflete o fato de meninos e meninas terem habilidades socioemocionais distintas. Segundo ele, a habilidade socioemocional que mais impacta no desempenho em matemática, uma das disciplinas avaliadas pelo exame, é aquela relacionada à organização, à disciplina e à responsabilidade (chamada pelos educadores de conscienciosidade). Como os meninos costumam ter essa competência mais desenvolvida, eles tendem a se dar melhor em testes que envolvam cálculos.
A pesquisadora Gláucia Torres Franco Novaes, do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, acrescenta que a diferença de desempenho entre meninos e meninas é esperada e é verificada na maioria dos países.Sabemos que tem um forte componente cultural, as meninas são mais estimuladas para certas atividades e os meninos para as ciências mais 'duras', mas isso tende a diminuir um pouco. Se olharmos os dados da educação superior, há cada vez mais mulheres entrando nas áreas de ciências mais duras.
O Pisa é um exame reconhecido mundialmente por avaliar o desempenho de estudantes de 15 anos em matemática, ciências e leitura. Pela primeira vez, testou também as habilidades não cognitivas dos estudantes, ligadas a características como autonomia, raciocínio crítico, liderança, facilidade de relacionamento e tolerância.
Sobre essa mudança no perfil do exame, Ramos afirma que ela reflete uma tendência de aproximar a educação dos conhecimentos necessários para o cotidiano.Um dos problemas que se percebe no ensino de matemática é que, muitas vezes, além da má formação do professor, o conteúdo não dialoga nem com a sala de aula nem com o cotidiano. O aluno estuda, mas não entende como aquilo pode ser aplicado na vida real.
Para chegar ao resultado, a avaliação incluiu perguntas nas quais os alunos tinham de, hipoteticamente, otimizar o uso de aparelho de MP3 player ou, ainda, comprar bilhetes em uma estação de trem em uma máquina de forma mais barata.
De acordo com Gláucia, a aproximação das questões à vida real é uma tendência nas avaliações.A maior parte das tarefas apresentadas nessas avaliações têm relação com a vida do aluno. Nas áreas de ciências, leitura e matemática, você procura colocar situações com as quais o aluno possa se deparar no dia a dia para que ele consiga solucioná-las fora do senso comum.
O Brasil ficou na 38ª posição no ranking geral das notas, com 428 pontos. Só 2% dos alunos brasileiros conseguiram resolver problemas de matemática mais complexos. Entre os estrangeiros, esse número chegou a 11% (veja no vídeo ao lado).
Ramos destaca ainda que os resultados do Pisa são compatíveis com o que também se observa em avaliações nacionais no que diz respeito à desigualdade do país.Mesmo nesse novo formato, que avalia o desempenho com base em problemas reais, o aluno do Sudeste está no mesmo patamar do que o Chile, cuja educação é considerada de boa qualidade. Já o aluno do Nordeste fez a mesma pontuação que os alunos da Colômbia, último no ranking em matemática.
Segundo o estudo, como as questões não foram fundamentadas no conhecimento de um conteúdo específico, uma das hipóteses levantadas para a vantagem dos meninos é a de que os problemas do teste envolviam mais matemática que leitura. O desempenho deles na área é ligeiramente melhor na maioria dos países, como mostra o próprio Pisa. Já as meninas de todos os países são superiores em leitura.
G1