Opinião

Brasil, cultura no plural

Um pouco do percurso do alagoano que virou carioca, Cacá Diegues. Particularmente, o cineasta me parece muito próximo, até mesmo um conhecido de longa data porque se deixou ver por sua gloriosa obra cinematográfica que mostra em suas películas quilométricas que o Brasil é singular por ser plural.

Pandemia! Oportunidade de um balanço das marcas que está deixando. Em um jornal carioca, Cacá Diegues, escreveu: Precisamos recuperar nossa alegria de viver, nossa herança das três raças tristes. A ideia de que a espécie humana possa ser dividida em “raças” está em desuso. Isso porque estudos de geneticistas revelam que a cor avaliada pela aparência das pessoas tem uma correlação fraca com o grau de ancestralidade africana estimada geneticamente. Em outras palavras, no Brasil, a nível individual, a cor, como socialmente percebida, tem pouca relevância biológica.

As três “raças” tristes (as aspas são minhas) referendadas pelo cineasta dizem respeito ao índio, ao português e ao africano que deram cores, formas e sons ao Brasil quinhentista e que, com outras cores, outras formas e outros sons emolduram os dias de hoje. O que passa ser entendido é que cada brasileiro tem uma proporção individual única de ancestralidade ameríndia, europeia e africana”, diz o médico-geneticista Sérgio Danilo Pena. Para o cientista, a noção de raças humanas é tóxica: Como uma casca de banana, o conceito de raça é vazio e perigoso. Vazio, porque sabemos que ‘raças humanas’ não existem como entidades biológicas. Perigoso, porque o conceito de ‘raça’ tem sido usado para justificar discriminação, exploração e atrocidades.

Lembremos o que profetizou o erudito francês Michel de Certeau (1925-1986): que façamos a cultura brasileira uma cultura no plural para que todos tenham a coragem de lançar mão da cultura comum para fugir de seus amos, sonhar com a felicidade, enfrentar a violência, povoar as formas sociais de saber, insinuar-se na escola e na universidade, dar nova forma ao presente e realizar essas viagens do espírito sem as quais não há liberdade. Que a liberdade possa entremear-se com a justiça para que a “cultura no plural”, gentes plurais que formam a população brasileira e tantas mais que existirem alcancem com dignidade seus direitos específicos e universais e conquistem suas existências com certa qualidade. Em tempos pandêmicos, a desigualdade social veio à tona do dia a dia. Está escancarada. É um momento comovente, sem dúvida. Hora de vermos o Brasil plural apresentar suas caras e começar realmente a tirar a Carta Magna do envelope, da gaveta palaciana.

À espera, Cacá Diegues nos presenteia com tantas caras brasileiras, especialmente aquelas que estão à margem da atenção do Estado, vale à pena reprisar: É hora do jogo virar. Deus é brasileiro (2002). Vamos pegar Um trem para as estrelas (1987) porque Dias melhores virão (1989) e bons ventos levarão as Chuvas de verão (1978). Bye Bye Brasil (1980), até Quando o carnaval chegar (1972), assim que a pandemia chegar ao fim.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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