Ontem, o clima era de desconforto com a situação, pois mesmo após ministro mexicano de Economia, Bruno Ferrari, ter afirmado que Brasil e México haviam chegado a um acordo para a revisão do tratado, as autoridades brasileiras não confirmavam o fato. O México acatou o pedido brasileiro de frear a exportação de carros mexicanos ao Brasil até 2015. Haverá um regime temporal e crescente de cotas no valor de US$ 1,4 bilhão durante o primeiro ano, US$ 1,56 bilhão no segundo e US$ 1,64 bilhão no terceiro. Os termos do acordo e os valores foram confirmados pelo MDIC, em nota divulgada nesta sexta-feira.
O anúncio coloca fim a uma novela de negociações que já se arrastava desde o início do ano em reuniões bilaterais — com concessões dos dois lados para um final aparentemente feliz. Com a renegociação, o Brasil consegue impor um limite nas exportações mexicanas que têm inundado a indústria nacional e o México garante a volta ao livre comércio após três anos, algo que o Brasil queria, até nesta quinta-feira, condicionar a uma nova discussão de acordo com o cenário econômico futuro.
Depois de dois dias de discussões na capital mexicana com autoridades brasileiras, o MDIC anunciou o reajuste do índice de conteúdo nacional nas peças automotivas mexicanas: até março de 2013, ele passará dos 30% atuais a 35%. O segundo patamar deverá vigorar até março de 2016, elevando-se para 40%. Porém, entre março de 2015 e março de 2016, os países estudarão a possibilidade de elevar o conteúdo regional ao patamar de 45%. A inclusão de veículos pesados no acordo, outra das solicitações brasileiras, ainda não será contemplada neste momento. O MDIC divulgou que “serão realizadas consultas para alcançar acesso recíproco e a homologação de normas técnicas e ambientais”. Os mexicanos pediram mais tempo para revisar as normas que vigorarão para o comércio desses veículos, em uma nova etapa ainda sem previsão.
Na coletiva concedida no Ministério de Economia mexicano, na qual estava prevista a participação que não se confirmou do ministro brasileiro de Relações Exteriores, Antonio Patriota (que volta esta noite ao Brasil), Ferrari evitou atribuir vitórias a um lado ou outro, “como se fosse um jogo de futebol”. Mas há fatores que levam a crer que a negociação não terminou em empate. Apesar da volta ao livre comércio depois dos três anos, o México terá, de fato, uma redução em suas exportações que beiraria os 30%, considerando o alcance de US$ 2,1 bilhões para os mexicanos no comércio automotivo com o Brasil. A imprensa mexicana deixou a coletiva com a sensação de que o Brasil saiu ganhador com a assinatura do protocolo de complementação do acordo automotivo que entrará em vigor a partir da próxima segunda-feira.
― Se o acordo tivesse sido denunciado, como o Brasil cogitou a princípio, se teria perdido uma oportunidade justamente no momento em que somos duas das áreas de maior crescimento na América Latina e no mundo. Preferiria anunciar muito mais crescimento e integração comercial, mas, infelizmente, o acordo automotivo teve de ser atendido de maneira prioritária porque se tratava de algo que já se havia conquistado ― afirmou o ministro da Economia mexicano.
Ceder com as cotas de exportação foi a alternativa encontrada pelos mexicanos para manter um comércio que, no ano passado, passou a ser deficitário para o Brasil e despertou preocupação entre as autoridades brasileiras de uma competição desleal para a indústria nacional. Diante da ameaça na semana passada de ruptura do tratado, autoridades mexicanas e representantes da indústria local consideram que salvar o acordo já foi uma vitória.
― Não suspender o acordo e garantir a volta ao livre comércio era fundamental ― disse o presidente da Associação Mexicana da Indústria Automotiva (AMIA), Eduardo Solís, acrescentando que o ideal é não haver restrições — Preferiríamos não ter restrições, mas o Brasil disse que necessitava uma transição, e negociamos nos melhores termos possíveis.
O consenso sobre o acordo automotivo abre espaço para que Brasil e México voltem a negociar um tratado econômico mais amplo, o que acabou paralisado com o imbróglio sobre as exporteções de veículos. Neste primeiro semestre de 2012, haverá missões empresarias dos dois países para fortalecer o comércio bilateral. Mas ainda não há previsão para a discussão de um novo tratado.
— Até que os setores de investimentos e indústria restabeleçam sua confiança, falar em um acordo mais amplo seria precipitado — concluiu Ferrari.
Fonte: OGLOBO