O braço direito do ex-governador Silval Barbosa, Silvio César Correa de Araújo, afirmou ter atuado como arrecadador de propina no esquema em que visava saldar dívidas de campanha adquiridas na campanha eleitoral do peemedebista no ano de 2010.
As declarações constam na decisão de soltura de Silval e Sílvio proferida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, nesta terça-feira (14). Ambos já estão em prisão domiciliar, usando monitoramento eletrônico.
Em seu depoimento, Silvio declarou que durante as eleições de Governo, chegou a receber pessoalmente algumas doações extraoficiais em dinheiro de empresas para a campanha, caracterizando caixa 2. “Sempre a pedido do seu chefe Silval”, conta na decisão.
“Confessou, também, que entre as suas funções estava a de recolher dinheiro oriundo de pagamento de propinas diretamente com empresários que pagavam o Governo, como também com Secretários de Estado que tinham a função de arrecadar propina, além de levar esses valores tanto para o chefe SILVAL BARBOSA, como para outras pessoas que se beneficiavam desses pagamentos e também para operadores financeiros”, diz decisão.
As declarações foram dadas ao Ministério Público Estadual (MP) e à Delegacia Fazendária (Defaz) pelo ex-governador e seu comparsa à época da prisão, em 2015.
Silval confirmou a relação de irmandade que possuía com Sílvio César em seus depoimentos. Ele conta que conheceu o comparsa quando era piloto de avião em Matupá (680 km de Cuiabá), e que desde a época de deputado estadual, em 2003, Silvio atuava como seu chefe de gabinete.
O ex-governador revelou que Silvio atuava em diversas ações da organização criminosa quando era exigido um “homem de confiança”. “[Silval Barbosa] Disse que se trata de pessoa de sua extrema confiança que recebia diversas missões no interesse da organização criminosa, como arrecadar propinas, realizar pagamento de dívidas, realizar operações com alguns operadores financeiros, fazer reuniões com empresários, controlar os pagamentos das propinas, já que muitas vezes não conseguia saber de todos os assuntos, sendo Silvio o seu braço direito tanto nos assuntos lícitos como nos ilícitos”, conta na decisão da juíza Selma.
Sodoma 2 e 3
De acordo com a decisão, no dia 1º de junho, Silval prestou depoimento a Defaz e disse que autorizou o ex-secretário de Estado de Gestão, César Zílio, a cobrar propina do empresário Willians Mischur e Julio Tisuji, da Consignum e Webtech. Eles pagaram propina para continuarem com seus contratos de prestação de serviço ao Governo do Estado.
No esquema, investigado na 2ª e 3ª fases da Operação Sodoma, parte do dinheiro arrecadado como propina foi utilizado por Zílio para a aquisição de um terreno de R$ 13 milhões na Avenida Beira Rio, em Cuiabá.
Silvio Araújo revelou que fez parte de uma reunião com Zílio e o proprietário da Consignum, Wlliams Mischur, para que fosse ajustado o valor da propina referente ao contrato que mantinha com o governo.
“[Silvio Araújo] Disse ainda que em algumas ocasiões chegou a receber pessoalmente os valores e os entregou a Silval, o qual já determinava que Silvio desse destino aos valores, de acordo com as dívidas que tinha para pagar”, relata decisão.
O comparsa de SIlval também confessou que em 2014 recebeu a quantia de R$ 600 mil pelo ex-secretário de gestão, Pedro Elias, relativo à ausência de pagamento de propina por parte da Consignum. “[…] recebeu o valor, entregou a Silval Barbosa, o qual determinou que fossem utilizados para pagamentos de contas pendentes na ocasião”.
Liberdade
O ex-governador e seu comparsa estavam presos em decorrência das fases 3, 4 e 5 da Operação Sodoma, e após disponibilizar bens à justiça foram liberados. Silval Barbosa disponibilizou mais de R$45 milhões e Silvio mais de R$ 410 mil.
A coincidência da parceria realiza pelos dois, é de que, ambos dedicaram à justiça terrenos vizinhos. O lote 1 e 2 da rua Amsterdan, no bairro Rodoviária Parque, em Cuiabá, pertence a Silval. Já os lotes 3 e 4, da mesma rua, ao ex- chefe de gabinete.
No local, funciona uma casa de apoio a atende centenas de pacientes da alta complexidade todos os meses, de cinco municípios do norte do Estado: Peixoto de Azevedo, Guaratã do Norte, Matupá, Terra Nova e Novo Mundo.
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