Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta quarta-feira (6), o presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou a suposta relação do ex-contador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a facção criminosa PCC.
"O meu contador não é picareta", disse o chefe do Executivo. "Ele não trabalha para o PCC!”, exclamou um apoiador.
"Coincidência, né?", respondeu Bolsonaro. O momento foi compartilhado nas redes sociais por um canal de apoiadores do presidente.
Durante a conversa, não foi mencionado o nome do contador, identificado como João Muniz Leite, que administrou as finanças do ex-presidente Lula entre 2013 e 2016, conforme demonstrou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
No mês passado, a Justiça de São Paulo decretou o sequestro de bens de integrantes do PCC e do contador. A 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro determinou o bloqueio de R$ 40 milhões em imóveis e ônibus de pessoas de dentro da quadrilha e de Leite.
Muniz Leite cuidava da contabilidade de Lula e divide sala com empresas do filho do petista, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Segundo denúncia da Polícia Civil de São Paulo, ele é suspeito de lavagem de dinheiro do crime organizado. O contador e a esposa teriam ganho 55 vezes em loterias federais e dividido o valor de um dos prêmios com um traficante de drogas ligado ao PCC.
O pedido de sequestro de bens, endossado pelo Ministério Público Estadual de São Paulo, foi feito pelo delegado Fernando Santiago e atinge Anselmo Becheli Santa Fausta, o "Cara Preta", considerado um dos principais fornecedores de drogas do PCC, e seu sócio, Silvio Luiz Ferreira, o "Cebola", chefe da Sintonia do Progresso, o setor que cuida do tráfico doméstico mantido pela facção. Santa Fausta foi morto em dezembro de 2021, em uma emboscada na zona leste de São Paulo.
O advogado de João Muniz, Jorge Delmanto, afirmou à epoca da reportagem do Estado de S. Paulo que iria "acessar o processo", para, então, se manifestar sobre a investigação. "Adianto apenas que a empresa de contabilidade tem mais de 30 anos de atuação, com mais de 60 funcionários e média de mil clientes ativos, sendo empresa voltada ao profissionalismo, legalidade, ilibada e com postura ética em todos os casos", disse.
À época, a reportagem procurou ainda a assessoria de Lula, a sua defesa e a de seu filho. O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o ex-presidente, disse não saber se Muniz ainda presta serviços ao petista. O criminalista Fábio Tofic, que defende Lulinha, não se manifestou. As defesas da família Santa Fausta e dos demais integrantes do PCC investigados não foram localizadas pela reportagem.
Ainda na conversa com apoiadores, Bolsonaro criticou a política monetária argentina. O país, comandado por Alberto Fernández, enfrenta uma crise econômica, além de inflação anual acima dos 50%, impactos da pandemia de Covid-19 e dívidas de cerca de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"O presidente da Argentina falou que a crise na Argentina é porque estamos com excesso de exportações. 'Estamos com problemas e não temos como comprar dólar.' Cada vez que a gente faz dinheiro, aumenta a inflação. Eu posso botar a Casa da Moeda no Rio rodar 24 horas por dia. Vai adiantar alguma coisa? Não", disse.