Enquanto o Presidente Bolsonaro agride, humilha e maltrata jornalistas em suas entrevistas diárias na porta do palácio o governador de São Paulo João Doria os valoriza, eleva e respeita.
Trata-se, claro, de um jogo político do governador paulista que com isso reafirma sua diferença em relação ao Presidente, provável adversário político em2022, quando ambos pretendem disputar a Presidência da República.
Doria, um homem de mídia, conhece os efeitos da empatia por isso cita nominalmente o repórter que vai fazer a pergunta, muitas vezes usando o apelido carinhoso pelo qual ele é conhecido no seu meio. Faz questão de nomear o jornal ou canal a que pertence e nunca se esquece de agradecer a pergunta. Além disso, cuida da expressão facial para mantê-la serena durante o tempo que aguarda a formulação. Enquanto isso o Bolsonaro despreza os jornalistas principalmente se forem de órgãos que ele tem por inimigos.
Os resultados de cada uma dessas atitudes opostas aparecem claramente durante as perguntas: enquanto os jornalistas bem tratados e respeitados por Doria fazem perguntas que garantem oportunidade de repostas positivas, os que entrevistam o Presidente jogam cascas de bananas, nas quais ele escorrega quase sempre. Ou seja, enquanto passam uma bola quadrada, na forma de uma pergunta marota, para o Presidente, levantam outra redondinha, na medida para o Governador chutar e ir pro o abraço.
Tenho defendido seguidas vezes os jornalistas aqui nesta coluna, mas hoje vou fazer algumas objeções à atuação de alguns deles durante as entrevistas, principalmente naquelas mesas redondas onde diversos profissionais de imprensa se juntam para entrevistar um político.
Parece que nestas horas eles (os jornalistas) se sentem na obrigação de constranger o entrevistado para mostrar que não são “chapa branca” – Este jargão no jornalismo é usado para rotular o profissional, o jornal, a TV ou o rádio que paparicam políticos a troco de privilégios ou benefícios.
Só que eles vão longe demais. Algumas vezes para tentar não parecer servis colocam-se no extremo oposto tornando-se prepotentes e descorteses.
Uma situação repetida entre eles é buscar contradições ou possíveis contradições entre a fala atual do entrevistado e outra porventura feita no passado, às vezes sobre assuntos irrelevantes. A intenção no caso é expor ao ridículo o político, que pego de surpresa às vezes não sabe o que dizer.
Em outro cenário os entrevistadores procuram a todo custo tirar declarações desabonadoras de um entrevistado em relação ao seu superior hierárquico, a um subordinado, desafeto ou adversário. Nessas circunstâncias costumam lembrar frases provocativas , que outras pessoas teriam dito, muitas vezes tiradas do contexto para criar ou ampliar um possível conflito. Pedem ainda que avaliem atos polêmicos e frases de superiores ou subordinados com a clara intensão de colocar uns contra os outros.
Interessante que esses comportamentos são facilmente observáveis não somente em jornalistas iniciantes que querem se firmar entre os colegas, como também entre os veteranos que já tem vasta quilometragem.
Nestes tempos funestos repórteres, jornalistas, apresentadores, locutores, articulistas etc. estão se vingando das humilhações e descortesias recebidas levantando a bola para os governadores descerem o sarrafo no Presidente.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor
renato@hotelgranodara.com.