Depois da batalha eleitoral entre Lula e Bolsonaro, os soldados precisavam lamber as feridas e, ao mesmo tempo, unirem-se para afiar a ferramenta mais importante da campanha: as Fake News.
Foi aí que prosperou a ideia de cada turma ou bando reforçar as bolhas refratárias aos não iniciados, onde recebem e de onde retransmitem diariamente notícias mentirosas para deleite dos “companheiros” e regozijo dos “patriotas”. Nessas bolhas sentem-se protegidos de convicções divergentes e alimentam crenças fantasiosas.
A mentira como ferramenta de luta política – embora detestável- sempre foi usada nas disputas eleitorais. Mas no momento político atual há pelo menos duas novidades: 1) a rapidez e a eficiência em atingir um montão de gente em questão de horas ou minutos e, 2) a facilidade das pessoas se ajuntarem em grupos homogêneos conforme suas ideologias. Estamos falando da internet em geral e dos grupos de WhatsApp em particular, onde campeiam as mais absurdas ideias que põem em dúvida o nível cognitivo dos que acreditam nelas.
Dizem os entendidos de estatísticas que cerca de 25% dos eleitores brasileiros são sólidos Bolsonaristas e outros tantos, convictos petistas. Garantem os cientistas políticos que para esses grupos, disseminar asneiras e difamações uns dos outros é uma tarefa a ser cumprida, quase uma missão de evangelização.
E o que é pior, conforme pesquisas realizadas nos Estados Unidos em 2016, os compartilhamentos de notícias falsas (eu prefiro o termo mentira mesmo) foi sete vezes maior entre os idosos acima de 65 anos do que entre os jovens de 18 a 29. A sensatez, que sempre foi prerrogativa dos velhos, parece que está nos abandonando; ou nós a ela.
Aqui no Brasil a divulgação de mentiras no WhatsApp está quase totalmente relacionada à filiação partidária e guardam pouca relação com escolaridade, gênero ou situação financeira. Ou seja, juntando as duas estatísticas (brasileira e americana) o perfil médio do espalhador de mentiras é de um idoso – pobre ou rico, homem ou mulher, intelectual ou semialfabetizado. Mas uma coisa é quase certa: ele idolatra o Lula ou endeusa o Bolsonaro.
Interessante é que os enclausurados nas bolhas refratárias da internet, como recebem e retransmitem somente notícias favoráveis aos seus líderes e contrárias aos adversários, ficam convencidos que todos pensam como eles e por isso ficam cada vez mais propensos a crer nas toscas mentiras que espalham.
Os autores do livro Biografia do Abismo – Felipe Nunes e Thomas Traumann – lançado no final do ano passado criaram o termo “calcificação” para mostrar o tamanho da polarização política no Brasil e a impenetrabilidade de novas ideias na cabeça dos fervorosos defensores de Lula e Bolsonaro.
A herança de ódio e ressentimentos que recebemos do presidente e do ex, por certo ficará entre nós por longo tempo. A esperança é que, quando os atuais jovens substituírem os velhos de hoje, a civilidade volte ao convívio social.
Renato de Paiva Pereira.