Internacional

Boko Haram já sequestrou 2 mil mulheres

Há um ano, o sequestro de mais de 200 mulheres e meninas no vilarejo de Chibok, na Nigéria, expôs ao mundo as atrocidades cometidas pelo grupo extremista Boko Haram, que luta para impor a lei islâmica no país. O caso ganhou importância internacional e fez com que grandes potências oferecessem ajuda ao governo da Nigéria para encontrar as jovens. No entanto, o caso representa um décimo dos sequestros de mulheres realizados pelo grupo desde o começo do ano passado, segundo novo balanço divulgado em relatório da Anistia Internacional nesta segunda-feira (13). De acordo com o documento, 2 mil mulheres foram vítimas de sequestro do ano passado a março deste ano.

Desde o início de 2014 até março de 2015 o Boko Haram matou pelo menos 5,5 mil civis em 300 invasões e ataques durante seu avanço no nordeste da Nigéria, aponta a organização. Além disso, mais de um milhão de pessoas se viram obrigadas a fugir de suas casas e ir a outras cidades.

Recentemente, os ataques do grupo se tornaram mais organizados, mais frequentes e mais letais, de acordo com o grupo. Eles têm como alvo escolas, igrejas, mesquitas, prédios e lugares públicos. Alguns são promovidos por dois ou três homens armados em uma motocicleta, outros por centenas de militantes com armas antiaéreas e apoiados por tanques.

O Boko Haram nasceu como movimento religioso em 2002 e dez anos depois passou a atacar escolas, professores e estudantes para impedir educação ocidental no país. Pelo menos 70 professores e 100 alunos foram mortos ou feridos em ataques entre janeiro de 2012 e outubro de 2013. Cerca de 50 escolas foram destruídas e outras 60 foram forçadas a fechar. Imagens de satélite publicadas no relatório mostram o antes e depois da destruição de ataques do grupo.

O grupo – seu nome significa “a educação ocidental é pecado”- atua principalmente no nordeste da Nigéria, onde controla a maior parte dos estados de Borno, Adamawa e Yobe. Estima-se que tenha cerca de 15 mil combatentes, que operam em células de relativa autonomia e têm como líder político e espiritual Abubakar Shekau.

O que ocorreu em de abril de 2014
No dia 14 de abril do ano passado, um grupo de combatentes do Boko Haram com uniformes militares entrou em confronto com policiais do vilarejo de Chibok e, em seguida, se dirigiu à escola secundária estadual do local. Lá, invadiram as salas de aula e levaram 276 alunas em caminhões. Mais de 50 delas conseguiram escapar durante a viagem ao campo do grupo na floresta de Sambisa, mas 223 chegaram ao cativeiro.

Uma fonte militar ouvida pela Anistia Internacional disse que as meninas foram divididas em três ou quatro grupos e encaminhadas a diferentes campos do Boko Haram, como na floresta de Sambisa, nas proximidades do Lago do Chade e em montanhas no Camarões. Ele também estimou que cerca de 70 meninas foram levadas para o Chade.

A campanha pelo resgate das meninas ganhou repercussão internacional, com o apoio de celebridades, e viralizou nas redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls ('tragam de volta nossas meninas'). Em maio, o exército nigeriano disse ter localizado as meninas, mas descartou o uso da força para resgatá-las a fim de evitar que os fundamentalistas as matassem durante uma operação para sua libertação. Elas permanecem em cativeiro desde então.

Como são feitos os ataques
Quando o grupo pretende tomar o controle de uma cidade, geralmente envia mensagens prévias de aviso aos moradores ou chefes locais. Segundo o relatório, os militantes chegam em grande número e sistematicamente atacam primeiro militares e policiais para capturar armas e munições. Então, como escreve a Anistia Internacional, se dirigem à população civil, atirando contra aqueles que tentam escapar.

Com frequência os militantes se dividem em grupos para cometer os ataques: uns vão de casa em casa para roubar objetos de valor e incendiar moradias, enquanto outros saqueiam lojas, uns matam os moradores e outros sequestram moradores e os impedem de fugir.

Para onde vão os reféns

Durante os massacres, os militantes “poupam” mulheres e meninas solteiras, e homens em idade de lutar ou com habilidades específicas, como médicos e engenheiros, que são levados como reféns. Eles são levados para campos do Boko Haram na floresta de Sambisa, que também fica no nordeste do país, e para comunidades remotas sob seu controle.

As mulheres são submetidas a estupros, casamentos forçados e escravidão sexual. Os homens e meninos são obrigados a prestar serviços aos militantes do grupo ou a unir-se como combatentes.

A vida sob controle do Boko Haram
Uma série de regras é anunciada pelo grupo logo depois que ele passa a controlar uma cidade. Segundo testemunhas ouvidas pela Anistia, os moradores são proibidos de consumir cigarros e outras drogas e todas as transações entre consumidores e produtores devem ser realizadas sem intermediários.

Os homens devem deixar suas barbas crescer, enquanto as mulheres devem se cobrir, inclusive o rosto, em público. Viagens entre as cidades são feitas apenas com uma permissão especial, sendo que geralmente os moradores são proibidos de deixar o território.

Além disso, todos são forçados a receber educação religiosa – os cristãos devem estudar o Islã e suas práticas – e a frequentar as islâmicas rezas diárias. As regras do grupo são reforçadas com duras punições, que incluem espancamentos e execuções públicas.

Violações
O relatório ouviu cerca de 200 testemunhas – incluindo 28 mulheres que foram sequestradas pelo grupo e escaparam -, além de advogados, jornalistas, autoridades do governo local e fontes militares. Segundo a organização, o documento pode ajudar tanto o governo como organizações globais, como o Tribunal Penal Internacional, a proteger os direitos humanos da população ameaçada pelo Boko Haram.

A Anistia Internacional afirma que o Boko Haram cometeu sérias violações de legislação humanitária internacional, como assassinatos, ataques a civis. Seus membros deveriam ser investigados por crimes de guerra como tortura, estupro, violência sexual, escravidão sexual, casamentos forçados e recrutamento de soldados crianças, diz o relatório.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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