Rápido, rasteiro e avassalador. Querida cronista voluntariamente clausurada do outro lado do túnel, estes são os adjetivos que descrevem os rumos do planeta ao qual você, sabiamente, resolveu virar as costas novamente depois de sua escapulida no carnaval.
Sim, cronista, assim como o Grande Irmão que vigia o cotidiano dos habitantes do planeta Terra em todos os seus movimentos, também conseguimos nós, os extraterrestres visitantes, jogar nossa mira telescópica sobre os indivíduos cujas rotinas nos interessam observar. No seu caso, o fiz pelo mais genuíno interesse: a amizade que tenho por quem me introduziu nos meandros humanos. Você!
Nesse período em particular, por nada nesse universo de dados circulantes, deixaria de “bizoiar” suas atividades quase secretas carnavalescas.
Acompanhei a tensão nas inúmeras etapas para obter os credenciamentos dos ensaios técnicos, mais acessível, e o dos desfiles oficiais, na maratona de todos os anos e suas variantes.
Vi seu esforço para tentar o quase impossível: cobrir todas as escolas da Série Ouro e do Grupo Especial.
Senti na minha epiderme protetora (quem aguenta o calor daqui?), sua frustração por não conseguir fotografar parte das escolas que almejavam chegar na elite do carnaval carioca, incluindo aí a Acadêmicos de Niterói que alcançou esse direito. Imagino a sua decepção por não ter o material para incorporar no acervo carnevalerio.com
Vi a emoção brotar explicitada nas fotos e vídeos do ensaio técnico do Império Serrano, por exemplo, após o fogo que lambeu atelier e ceifou a vida de artesãos no espaço incendiado em Madureira.
Falo daquele episódio que parece fazer parte, apenas, de um carnaval que passou. Sem trazer maiores providências para evitar novas tragédias no processo de produção e desenvolvimento das escolas de samba, especialmente as dos grupos inferiores, que desenvolvem seus desfiles em condições tão precárias. Vi tudo e muito bem!
A parte boa é que não faltam imagens para serem editadas e indexadas nos próximos meses em sua reclusão voluntária.
Elas são representativas da paixão inebriante que move a maior festa popular do planeta. Aquela que não se restringe ao berço das escolas de samba, o Rio de Janeiro, mas se expande e prolifera por muitas cidades do Brasil, e até do mundo, em ritmo de samba.
Tudo isso, cronista, é muito bom para garantir sua sanidade. Afasta-a da realidade cruel que movimenta esse planeta Terra que não é mais aquele.
Foi-se o tempo da delicadeza, da gentileza. Uma nova velha geração, no momento, testa as barreiras da intolerância e da brutalidade. Guerras e disputas se retro alimentam apesar dos alertas de quem sabe aonde isso vai dar. São muitos esses avisos. Porém, inócuos.
Não há mais conversas, diálogos, trocas de ideias. Tudo é confronto e, sim, sem regras ou protocolos. No popular: é porrada e bomba. Nada de argumentação.
Não vou particularizar os atos que incluem do desequilíbrio comercial mundial à rapinagem pura e simples. Nesse quesito o status quo foi destroçado.
O pau continua quebrando para enriquecer os senhores das guerras em vários cantos desse mundão. Não há limites para destruição, nem para a exterminação de populações inteiras.
O mais incrível é que eles não aprenderam nada!
Quase ninguém parece se importar com o que estão ensinando à nepobaby Inteligência Regenerativa, aquela que deixou de ser artificial para se (con)fundir com os hábitos, rotinas e o cotidiano da humanidade.
A impressão que dá é que, sabedor de que o próximo passo é ser dominado por ela, o ser humano capricha em incutir no “modelo” seus piores e mais tenebrosos instintos. Aguardem o tratamento que receberão depois. Cansamos de avisar!
Está entendendo, cronista? Por isso tornei espaçada nossa correspondência pela luz da lua que invade sua cela. Prefiro deixá-la às voltas com as imagens capturadas em sua incrível fuga carnavalesca. Estive lá. Disfarçado. Adivinha onde?
Tal qual a freirinha carmelita, que pula o muro do convento de Santa Teresa para se acabar no bloco que leva seu nome, seu objetivo é louvável: cair dentro da folia para fugir da realidade inexorável. É a fresta da festa. A fresta, não a janela panorâmica que a vida deveria ser…
PS: Não mencionei o tombo porque você ensinou a mim, PLuct Plact, o extraterrestre, a ser discreto.
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Das séries “Fábulas Fabulosas” e “É carnaval” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com
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Texto e foto: Valéria del Cueto