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Big Data e Redes: reconfigurando a política internacional

O documentário “O Dilema das Redes” (2020), dirigido por Jeff Orlowski, expõe os impactos das redes sociais sobre a sociedade contemporânea, abordando como algoritmos e big data estão transformando comportamentos individuais e coletivos mundialmente. Mesmo se concentrando nos efeitos internos dos impactos, como polarização política e manipulação de opiniões, o filme também fornece insights valiosos sobre a dinâmica da política internacional, pois a crescente interconexão digital não apenas altera a forma como países interagem, mas também cria novas ameaças e oportunidades em um cenário global.

O big data, assim compreendido como o vasto volume de informações gerado e analisado continuamente, oferece vantagens estratégicas na esfera internacional e os governos e atores não estatais se utilizam ferramentas digitais para influenciar narrativas globais, ampliar seu soft power e interferir em processos democráticos. Como um exemplo claro disso é possível citar a interferência russa nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, que foi revelada por investigações conduzidas pelo FBI e por empresas de cibersegurança, onde redes sociais como Facebook e Twitter foram usadas para disseminar desinformação, exacerbando divisões internas no país e minando a confiança nas instituições democráticas.

Portanto, a relação entre big data e narrativa é o foco central para se entender esse fenômeno, uma vez que, conforme discutido no filme, algoritmos priorizam conteúdos que geram engajamento, frequentemente amplificando mensagens polarizadoras ou emocionais a toda a sociedade. Por sua vez, no cenário internacional, essa dinâmica permite que estados autoritários promovam suas agendas políticas e minem valores democráticos em outras nações. Com um exemplo dessa atuação, a China tem usado sua influência sobre plataformas digitais e redes tecnológicas para difundir uma visão positiva de seu regime e reduzir críticas sobre questões como Hong Kong e os direitos humanos em Xinjiang.

Ademais, a dependência de dados massivos aumenta a vulnerabilidade de estados e organizações internacionais a ataques cibernéticos, onde infraestruturas críticas, como redes elétricas e sistemas financeiros, podem ser comprometidas por hackers patrocinados por governos, como foi o caso do ataque à Colonial Pipeline nos Estados Unidos em 2021. A empresa possui o maior sistema de oleodutos dos Estados Unidos e sofreu um ataque de ransomware que afetou seus sistemas digitais, resultando na paralisação temporária das operações e causando escassez de combustível em várias regiões. Tais episódios não só ilustram a nova face dos conflitos interestatais, mas também destacam a urgência de regulações internacionais mais robustas para proteger o ciberespaço, exigindo ações proativas das autoridades responsáveis.

Por outro lado, deve ser lembrado que o big data também apresenta oportunidades para a cooperação internacional, com ferramentas analíticas que podem ser usadas para prever crises humanitárias, monitorar ações climáticas e rastrear fluxos financeiros ilegais. Nesse sentido, Plataformas como a Global Pulse da ONU exemplificam como os dados podem ser aproveitados para fins globais positivos, integrando tecnologias avançadas em prol do bem comum, o que deve cada vez mais ampliado.

Por fim, o filme “O Dilema das Redes” nos leva a uma reflexão crucial sobre como o uso de tecnologias digitais e big data está remodelando a política internacional, uma vez que por um lado elas ampliam a capacidade de influência e criam vulnerabilidades, e por outro podem impulsionar soluções coletivas para problemas globais. A grande questão central a ser respondida é saber como equilibrar os riscos e benefícios dessas tecnologias, garantindo que sejam utilizadas para promover paz, segurança e desenvolvimento sustentável. E a resposta vai depender de uma governança internacional mais inclusiva e responsável, além de uma compreensão aprofundada das relações entre dados, narrativas e poder. Espera-se que seja alcançada essa resposta para o bem de toda a humanidade.

Referências:

Antonio Horácio da Silva Neto

About Author

Antonio Horácio da Silva Neto é juiz de direito do Tribunal de Justiça de Mato Grosso e presidente da Academia Mato-grossense de Magistrados. Colaborador especial do Circuito Mato Grosso desde 2015.

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