“Em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada”, um fragmento da poesia de Bertolt Brecht, que “passou a denunciar não só a inumanidade das guerras como a estreita ligação, nelas, entre a desgraça dos pobres e o aumento do lucro dos ricos”, como escreveu Leandro Konder, falar em Berta Ribeiro é um acalanto ao coração diante às velhas-novas histórias. Um ano do rompimento da barragem de Mariana, o maior desastre ambiental dos últimos tempos; Mensalão; Lava-jato; rebaixamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; “PEC da Morte”; ENEM em duas etapas em virtude das justas ocupações dos colégios em protestos contra a reforma do ensino médio. Será a lista infinda?
Voltemos à Berta.
Berta Ribeiro (1924-1997), antropóloga e etnóloga, foi recentemente biografada por Ana Arruda Callado, autora do livro, há pouco saído do formo, “Berta Ribeiro, aos índios com amor – uma biografia”. Ana Arruda, viúva do escritor Antonio Callado, o “intelectual-operário”, como costuma dizer, escreve que Berta “foi mais do que a apaixonada e dedicada esposa de Darcy Ribeiro. Mesmo depois de separados, ela continuou a organizar muitos trabalhos dele, a fichar seus livros, enfim, a fazer o que fazia quando estavam casados: pôr ordem naquele turbilhão de ideias de Darcy, sistematizar o que aquele vulcão de imaginação ia criando”.
O livro perpassa pelas várias faces da antropóloga: a Berta mulher, a Berta profissional, referenciada como a maior especialista da cultura material dos índios brasileiros. Em 1948, acompanhou Darcy Ribeiro em suas pesquisas de campo entre Kadiwéu, Kaiwá, Terena, Ofaié-Xavante, povos indígenas habitantes de Mato Grosso do Sul.
Devemos à Berta sua dedicação aos estudos sobre os povos indígenas, especialmente àqueles que se reportam aos artefatos confeccionados por mãos cuidadosas de artistas que expressam patrimônios socioculturais milenares, recônditos das mais belas histórias ainda a serem reveladas.