No último domingo estava eu na tradicional Festa de São Benedito em Cuiabá e enquanto via a multidão de pessoas que acompanhava a procissão do Santo Negro estava a pensar o quanto a devoção dos africanos bantus a esse santo tomou proporções imagináveis com o passar do tempo, afinal de contas, ao contrário do que pensam, a devoção a São Benedito nem sempre foi tão grande e notória da forma que vemos hoje em dia.
Na verdade, Frei Benedito teve sua devoção ampliada à medida que mais escravos eram trazidos ao Brasil; sim, a devoção ao Santo Negro, desde o início, foi prática exclusiva dos negros escravos e seus descendentes.
Por isso é que as iconografias antigas de Frei Benedito o mostram de forma negra tachada, sem se preocupar em maquiar sua fisionomia dando-lhe um ar europeu (embora a imagem que se venera na Igreja do Rosário tenha sido produzida com vestígios faciais europeus de forma proposital pela Irmandade que a mandou esculpir por motivos específicos…). A razão para a grande devoção a ele por parte dos negros escravos não se deve apenas a sua cor, afinal de contas, existiam outros santos de cor negra.
Poucos sabem, mas São Benedito de Palermo tem sua origem na Kissama, reino de Benguela, do qual sua mãe era original.
Aparece nos agiológios com a denominação de S. Benedito de S. Filadelfo, localidade da Sicília onde nasceu em 1524, e de S. Benedito de Palermo onde viveu em comunidade no convento franciscano e floresceu em virtudes. Foi ele o primeiro Santo Africano, um dos raros santos negros e o primeiro e único de origem angolana.
Como sabemos, a maior parte dos negros trazidos ao Brasil era de procedência angolana, os estudos sobre as religiões dos Orixás no Brasil nos mostram isso, e foram exatamente eles, os bantus, aqueles que mais divulgaram a devoção ao seu conterrâneo. Aqui em nossa cidade e estado a grande maioria dos escravos trazidos era de origem angolana, bantu, e foram exatamente esses que, na prática de suas crenças e devoções, renderam desde há muito tempo louvores e amor ao Santo Taumaturgo Negro em nossa cidade. A devoção ao Frei Benedito é tão marcante em nossa cidade que, embora poucos saibam, a Igreja do Rosário guarda em seu interior uma relíquia do santo; trata-se de uma pequena parte de sua pele que foi colocada dentro de uma flor de prata e dada de presente para os devotos de Cuiabá pelo Convento de Palermo, na Itália, onde ele viveu. Acho uma pena que os devotos sempre acorram com tanta fé em direção à estátua dele venerada na paróquia, esquecendo-se dessa relíquia tão preciosa – isso, quando sabem de sua existência. Com a Festa de São Benedito se encerra o ciclo das principais festas religiosas de nossa capital e neste ano todas foram especiais, nos deixando ansiosos para as próximas edições. Benedito Santo de Deus amado, sede no céu nosso advogado.
NZAMBÍ BEKA KUSANGANA NIKUTULUKA KUA MUXÍMA KIOSO MAIALA!