Varia muito! Hoje quem piou primeiro foi a foto perdida num arquivo não editado e reencontrado numa limpeza monstra do hard disk do notebook. A seleção e transferência dos arquivos para um HD externo sempre deixa uma sensação estranha do que poderia ter sido feito e mostrado a mais do período encapsulado a ser transplantado.
Aí começa um re-viver de histórias, sejam elas fotográficas ou escritas. Constato que nunca vou conseguir fugir da narrativa múltipla de um fato, apesar de ter nos registros fotos únicas, capazes de sintetizar uma história inteira. Acontece que não consigo olhar com os olhos de agora quando edito os ensaios.
Já tive algumas experiências que me fazem sempre pensar que o que acho síntese ou essencial no momento de selecionar pode não ter um significado tão relevante depois. E vice-versa. E é aí que mora o perigo. No descarte temporal. Por que o que cair nessa primeira seleção do ensaio, cairá para sempre. Não será editado, trabalhado e equilibrado.
Para justificar essa multiplicidade de produtos comecei a preparar várias séries paralelas. Como por exemplo reflexos, sombras, janelas, mãos trabalhadoras, sapatos do samba, fashion, instrumentos… Isso permite que além da foto síntese, eu também preserve sem culpas o entorno do fato central do mote do ensaio, agora geral. Na hora da edição é um Deus nos acuda, mas fico menos presa a uma rigidez numérica de fotos. Alguns desses grãos de areia ficam preservados e podem virar futuras pérolas.
Um exemplo? Na quadra da Mangueira, há alguns anos, fotografando mais um ensaio da escola, comandado por Delegado, vi uma passista brejeira fazendo graça pra ele. Fiz a foto e postei. Recebi um tempo depois uma mensagem de Rafaela Bastos, geógrafa, sócia da Nova Guarda, empresa de Diálogo e Inovação Cultural e… passista da Estação Primeira.
Hoje sou parceira da Nova Guarda em projetos como o registro da Bateria da Mangueira e a Mostra Carnevalerio graças a foto que sintetiza os caminhos entrelaçados pelo amor à verde e rosa. A imagem liga as histórias do genial Mestre Sala Delegado a da Musa.
O que mais temos em comum? Uma visão voltada para a sustentabilidade. No meu caso desde sempre, por onde passei. É com Rafaela, Cássio Novo, Vitor Art e Pedro Zaidan, os demais sócios – e muita gente do mundo do carnaval e do samba – que acompanharei nos dias 31 de julho, 01 02 de agosto a Carnavália, feira de empreendedorismo e negócios do carnaval – e o 1º Encontro Nacional do Samba (Sambacon), aqui no Rio. A iniciativa da Carnavália é inédita e juntará várias vertentes da economia criativa do carnaval.
Mas não é (só) sobre isso que quero falar, é sobre a visão imediata e o olhar a distância e como as coisas podem ganhar novos significados. Nem precisa ser muito longo, esse distanciamento. Basta um gesto, ou uma ausência dele para que toda a cadeia se altere totalmente!
Mato Grosso e sua campanha eleitoral são exemplos disso. Vejam o que uma insatisfação gerou em uma semana nesse equilíbrio político delicado.
O conselho? Tal como na seleção das fotos, peque sempre por excesso, nunca por omissão. Quem sabe o dia de amanhã?
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É carnaval”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com