Mix diário

BCs devem manter política monetária ágil, confiável e independente, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou nesta quinta-feira, 17, para a importância da política monetária e da independência dos bancos centrais para a estabilidade de preços em um cenário de guerra comercial global. “Para proteger a estabilidade de preços, a política monetária deve permanecer ágil e confiável, apoiada por um forte compromisso com a independência do banco central”, afirmou ela, em discurso que serve de pontapé para as reuniões de Primavera do Fundo, que acontecem na próxima semana, em Washington, nos EUA.

Suas falas ocorreram horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter feito nova pressão para que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) corte os juros nos Estados Unidos, pegando carona na nova redução de taxas na Europa, anunciada nesta quinta-feira.

Expectativas e regulação

Georgieva disse ainda que os banqueiros centrais devem ficar atentos aos dados, em especial, às expectativas de inflação mais altas diante da preocupação dos efeitos do aumento das tarifas nos preços. E também chamou atenção para a importância da regulação do sistema financeiro no cenário atual.

“No setor financeiro, regulamentação e supervisão rigorosas continuam sendo essenciais para manter os bancos seguros, e os riscos crescentes de instituições não bancárias devem ser monitorados e contidos”, avaliou a dirigente.

Cobranças aos grandes países

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional cobrou também nesta quinta-feira esforços dos países para uma economia global mais resiliente ao contrário das rachaduras que têm aumentado face à guerra comercial desencadeada pelas tarifas recíprocas do presidente dos Estados Unidos.

“Todos os países, grandes e pequenos, podem e devem desempenhar seu papel para fortalecer a economia global em uma era de choques mais frequentes e severos”, disse Georgieva. “Precisamos de uma economia mundial mais resiliente, não de uma deriva para a divisão”, reforçou.

Segundo ela, “tamanho importa”, com as ações de China, União Europeia e EUA impactando o resto do mundo. “À medida que os gigantes se enfrentam, os países menores são pegos pelas correntes cruzadas”, avaliou.

Georgieva disse que o momento exige que os países redobrem a atenção com os choques dentro e fora de casa e cobrou medidas específicas das grandes potências econômicas globais.

No caso da China, o FMI tem sugerido ações para impulsionar o baixo consumo privado e aceitação da progressão natural de uma economia baseada na indústria para o setor de serviços para a sua próxima fase de crescimento.

Já a União Europeia precisa de uma união do setor bancário, do mercado de capitais e menos restrições ao comércio interno de serviços. “A lista é longa. Em conjunto, a flexibilização fiscal e uma integração mais forte impulsionariam o crescimento”, disse.

Por sua vez, o principal desafio dos Estados Unidos é controlar a sua dívida pública por meio de reduções significativas no déficit orçamentário federal e uma reforma de gastos, sugeriu a diretora-gerente do FMI.

Georgieva também voltou a pedir por reformas ‘mais ambiciosas’ nos países e maior atuação do Estado. Ela citou como exemplo a importância de medidas voltadas ao setor bancário, no mercado de capitais, na política de concorrência, nos direitos de propriedade intelectual e preparação para a inteligência artificial (IA).

“As compensações políticas podem ser amenizadas elevando o potencial de crescimento. Nesse caso, a economia dos EUA apresentou forte crescimento de produtividade, enquanto outros países ficaram para trás”, disse ela, mencionando a sólida expansão da economia norte-americana.

Treasuries

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional disse também que dentre os ‘movimentos incomuns’ em mercados de renda fixa e câmbio importantes, o comportamento dos Treasuries devem servir de alerta em meio à guerra comercial. “Apesar da elevada incerteza, O dólar se desvalorizou e as curvas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA ‘sorriram’, mas esse não é o tipo de sorriso que desejamos ver”, afirmou a dirigente, mostrando um gráfico com a curva dos rendimentos inclinada para cima no auge das tensões geradas pelas tarifas recíprocas dos EUA. “Tais movimentos devem ser interpretados como um alerta. Todos sofrem se as condições financeiras piorarem”, enfatizou.

Segundo ela, a incerteza elevada e prolongada aumenta o risco de estresse no mercado financeiro.

Emergentes

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional aconselhou economias de países emergentes a preservarem a flexibilidade cambial como um amortecedor diante do cenário incerto gerado pelas tarifas de Trump. “Todos os países devem redobrar os esforços para colocar suas próprias casas em ordem. Em um mundo de maior incerteza e choques frequentes, não há espaço para atrasos nas reformas que visam fortalecer a estabilidade econômica e financeira e aumentar o potencial de crescimento”, disse.

De acordo com ela, as economias enfrentam os desafios da guerra tarifária partindo de uma posição inicial mais frágil, com encargos da dívida pública muito maiores do que há apenas alguns anos. A maioria dos países precisa tomar medidas fiscais para ajuste gradual de suas contas, alertou.

“Alguns países, no entanto, podem sofrer choques que exijam um novo apoio fiscal, mas este, se necessário, deve ser direcionado e temporário”, ponderou a dirigente.

Quanto a países com dívida insustentável, Georgieva disse que será necessário tomar a difícil decisão de recorrer à reestruturação dos passivos. Nesse sentido, a Mesa Redonda Global sobre Dívida Soberana do FMI prepara um manual para auxiliar as economias nessa direção.

Estadão Conteudo

About Author

Deixar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Você também pode se interessar

Mix diário

Brasil defende reforma da OMC e apoia sistema multilateral justo e eficaz, diz Alckmin

O Brasil voltou a defender a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) em um fórum internacional. Desta vez, o
Mix diário

Inflação global continua a cair, mas ainda precisa atingir meta, diz diretora-gerente do FMI

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse que a inflação global continua a cair, mas que deve