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BCE discutiu corte de 50 pontos-base, mas decisão de cortar 25 pb foi unânime, diz Lagarde

Em meio a um cenário de incertezas globais, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu cortar os juros em 25 pontos-base (pb), uma medida unânime, embora tenha sido discutido um corte maior, de 50 pb, revelou a presidente da instituição, Christine Lagarde, durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 17. A decisão ocorre enquanto tensões geopolíticas na Europa e no Oriente Médio continuam sendo uma grande fonte de incerteza, com impactos ainda difíceis de mensurar, afirmou ela.

Lagarde destacou que fatores como a fragmentação das cadeias globais de oferta e eventos climáticos extremos podem pressionar a inflação no médio prazo, especialmente nos preços de alimentos. Por outro lado, a menor demanda por exportações europeias pode ajudar a reduzir os preços na zona do euro.

Apesar dos desafios, a autoridade monetária vê um possível apoio ao Produto Interno Bruto (PIB) com o aumento de investimentos em defesa e infraestrutura. No entanto, as tensões comerciais devem ter um choque negativo na demanda e no crescimento econômico, cuja extensão ainda é incerta.

“Antecipamos que as tensões terão efeitos negativos, mas não sabemos qual será a extensão desses impactos no curto e no longo prazo”, afirmou Lagarde.

Ela admitiu que há visões divergentes dentro do BCE sobre como esses fatores afetarão a economia, reforçando a postura de cautela na condução da política monetária.

Perspectivas econômicas obscurecidas

A presidente do Banco Central Europeu afirmou ainda que o cenário econômico permanece “obscurecido por excepcional incerteza”, mas destacou avanços no controle da inflação e sinais de estabilização na indústria. “O processo de desinflação está encaminhado, e os preços de serviços caíram significativamente”, disse.

Apesar dos desafios, Lagarde indicou que a economia da zona do euro provavelmente cresceu no primeiro trimestre, com a indústria mostrando “sinais de estabilização”. No entanto, ressaltou que exportadores europeus enfrentam “novas barreiras para o comércio, de escopo desconhecido”, enquanto tensões geopolíticas e comerciais pesam sobre o ânimo de empresas e consumidores.

A autoridade monetária reiterou que as decisões futuras sobre juros serão tomadas reunião a reunião, sem compromisso com uma trajetória predeterminada. “Não estamos nos comprometendo com uma trajetória predeterminada para os juros”, afirmou. “Nossas decisões continuarão dependentes dos dados.”

Lagarde observou que os consumidores seguram gastos em meio ao cenário adverso, mas destacou que a economia europeia está “construindo resiliência”. A cautela do BCE reflete os riscos de um ambiente global volátil, marcado por conflitos e mudanças nas cadeias de suprimentos.

Cenário imprevisível

Na coletiva de imprensa, a presidente do Banco Central Europeu destacou a necessidade de a União Europeia (UE) se preparar para o “imprevisível” em meio a tensões comerciais globais. “Há negociações comerciais em andamento, mas tudo pode mudar”, acrescentou, ressaltando que os efeitos e a resposta da UE só poderão ser mensurados quando houver “mais certeza”.

Sobre o euro, Lagarde afirmou que o BCE não tem “como meta uma taxa de câmbio específica”, mas reconheceu que a valorização da moeda pode exercer “mais pressão de baixa sobre a inflação doméstica”.

A autoridade monetária reforçou que o foco da instituição é a “estabilidade de preços”, diferentemente de outros bancos centrais, que podem ter objetivos distintos.

Lagarde pressionou por avanços na legislação do euro digital, afirmando que a UE precisa “completar a união de mercados e legislação” para a moeda virtual. “Esperamos que autoridades europeias acelerem a aprovação de legislação para o euro digital”, disse, destacando que esse é o momento para a Europa estar “sólida e unida” não apenas na política monetária, mas também em iniciativas como a união de mercados de capitais.

Além disso, a presidente do BCE defendeu a criação de regras claras para stablecoins. “Precisamos de regulação para que stablecoins possam operar de forma segura na UE”, afirmou.

Sobre a economia da zona do euro, Lagarde observou que o aumento da produtividade indica um “avanço salarial mais lento”. No entanto, descartou discussões sobre estímulos no curto prazo. “Não discutimos estímulos para a economia”, disse, acrescentando que injetar um pacote de 1 trilhão de euros teria “impacto significativo no crescimento e na inflação”, mas a incerteza atual impede uma decisão desse tipo.

A independência do BCE também foi reforçada: “Para o BCE e a zona do euro, a independência do banco central é essencial.”

Lagarde adiantou que a instituição fará uma “análise intensa de cenários nas próximas semanas”, avaliando não apenas o comércio de bens, mas o saldo comercial como um todo.

Sinalizações

Refletindo os desafios da política monetária em tempos de incerteza, a presidente do BCE afirmou que classificar a política atual da zona do euro como “restritiva” perdeu significado. “Apontar política monetária como restritiva não tem mais sentido”, disse, destacando que o chamado “nível neutro” só poderia ser determinado em um mundo livre de choques, realidade distante do cenário atual, segundo ela.

A única certeza, segundo Lagarde, é o objetivo final da política monetária, mas não seu caminho específico. “O que precisamos é definir a instância apropriada da política monetária para atingir nossa meta”, afirmou, reforçando que o BCE deve ser ágil e preparado para lidar com choques futuros. “Devemos ser mais dependentes e atentos a dados confiáveis neste momento”, destacou.

A presidente do BCE encerrou alertando que “desdobramentos de novas políticas nas próximas semanas serão decisivos”, indicando que o BC europeu permanece pronto para ajustar o rumo da política monetária conforme a evolução de um cenário econômico ainda altamente imprevisível.

Estadão Conteudo

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