Teu racismo me atravessa,
como, na carne, a navalha,
com as lâminas do ódio…
Perpassa séculos de história,
atravessa o transatlântico
e os reinos de além-mar,
o berço da humanidade.
*
Nos teus olhos vejo agora
os cenários de outros tempos,
os troncos, os pelourinhos,
os olhares sanguinários
cortantes, como os açoites,
grilhões, chibatas, feitores
sendo escravos do Sinhô.
*
Esse teu olhar racista
atormenta nossos corpos,
marcados a ferro e fogo,
mutila ossos e sonhos,
joga mais sal nas feridas
abertas nos velhos tempos
e que jamais cicatrizam.
*
Essas marcas, essas dores
nos ensinam que essa luta
não é só nossa, é de todos,
da ameríndia, quilombolas,
dos que vivem nas cidades
sem ter trabalho e comida,
dos sem-teto, sem-lugar.
*
Chega de bala perdida,
de desprezo, humilhação,
de fome, de desemprego,
qualquer forma de exclusão,
de violência nas favelas,
nos campos ou nas cidades,
nos quilombos, na prisão.
*
Chega de bala perdida,
de desprezo, humilhação.
*
Edir Pina de Barros é membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Seus poemas estão disponíveis em vários livros, antologias, revistas eletrônicas e nas mídias sociais. É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.