O Banco Mundial cortou suas projeções para o crescimento global nos próximos dois anos e alertou que a economia caminha para o seu ritmo mais lento de avanço desde a crise financeira de 2008, excluindo-se períodos de recessão. A análise está em seu relatório de Perspectivas Econômicas Globais, lançado nesta terça-feira, 10, e que inclui redução nas previsões de crescimento para aproximadamente 70% de todas as economias em regiões e grupos de renda observados pela organização.
Segundo o documento, o Produto Interno Bruto (PIB) global deve desacelerar para 2,3% em 2025, retomando leve aceleração a 2,4% em 2026 e a 2,6% em 2027, mas sem riscos previstos de recessão. No relatório anterior, de janeiro, o Banco Mundial previa crescimento de 2,7% neste ano e no próximo.
“Se as projeções se materializarem, os primeiros sete anos da década de 2020 terão o crescimento médio mais lento de qualquer década desde 1960”, alerta a instituição.
O Banco Mundial atribui a deterioração do cenário ao aumento de tensões comerciais e incertezas quanto a políticas econômicas, principalmente depois do chamado “Dia da Libertação” dos EUA e anúncio de tarifas recíprocas, em 2 de abril, responsável por reduzir fluxos de comércio global. Por outro lado, os aumentos tarifários e mercados de trabalho apertados ampliaram previsões para a inflação global, que deve avançar 2,9% em 2025, pontua a instituição.
Aproximadamente 60% de todas as economias em desenvolvimento também devem desacelerar neste ano, acumulando crescimento médio de 3,8% em 2025, antes de acelerar a 3,9% nos próximos dois anos. O relatório destaca que esse número é mais de um ponto porcentual abaixo da média pré-pandemia, o que deve dificultar esforços de criação de emprego, redução da pobreza extrema e aproximação de renda per capita na comparação com economias avançadas.
O Banco Mundial projeta ainda que levará pelo menos duas décadas para que essas economias retornem ao ritmo pré-pandemia de expansão do PIB. “A economia global pode se recuperar mais rápido que o esperado se as maiores economias mitigarem tensões comerciais para diminuir incertezas e volatilidade financeira”, pondera.
A instituição também recomenda diversificação do comércio, mais parcerias estratégicas de investimentos entre países, melhora do ambiente de negócios e fortalecimento da postura fiscal, colocando como “crucial” a colaboração global.
EUA, zona do euro, China e Japão
O Banco Mundial cortou projeções de crescimento do PIB para os Estados Unidos, zona do euro e Japão nos próximos dois anos, mas manteve previsões de avanço da China em 2025 e 2026, em relatório de Perspectivas Econômicas Globais. O declínio acentuado nas perspectivas reflete o aumento de barreiras comerciais, nível elevado de incerteza e volatilidade dos mercados financeiros, que minaram a confiança dos consumidores, segundo a instituição.
O Banco Mundial prevê avanço do PIB dos EUA de 1,4% em 2025 e leve aceleração a 1,6% em 2026, abaixo das altas de 2,3% e 2%, respectivamente, projetadas no relatório de janeiro. A instituição observa que a economia americana já estava em processo de desaceleração, mas que as mudanças na política tarifária intensificaram o processo. Para 2027, o relatório vê alta de 1,9% no PIB americano.
A China – alvo das maiores tarifas recíprocas dos EUA e que possui amplas implicações para a economia global – teve as projeções de crescimento econômico mantidas em 4,5% para 2025 e em 4% para 2026.
O Banco Mundial nota que as medidas de estímulo fiscal do governo chinês devem contrabalançar parcialmente o aumento de barreiras comerciais e enfraquecimento da demanda externa, mas nota que a demanda doméstica ainda fragilizada pelos problemas no setor imobiliário seguirá pesando na atividade. Assim, a instituição vê desaceleração do PIB da China a 3,9% em 2027, refletindo o envelhecimento da população, níveis elevados de dívida e menor crescimento potencial e produtividade.
Já a zona do euro deve crescer 0,7% neste ano e 0,8% no próximo, abaixo dos 1% e 1,2% estimados anteriormente, mas deverá acelerar para alta de 1% em 2027. Conforme o relatório, o cenário de forte desaceleração econômica também inclui cortes de juros adicionais pelo Banco Central Europeu (BCE), tendo em vista que a inflação deve seguir oscilando perto da meta de 2%.
O Japão também deve ter expansão do PIB de 0,7% em 2025, antes de subir a 0,8% em 2026 e em 2027, estima o Banco Mundial. Em janeiro, a instituição previa avanço de 1% neste ano e de 0,9% no próximo. O relatório aponta que os gastos com consumo e investimentos de capital terão recuperação moderada, enquanto o Banco do Japão (BoJ, em inglês) continua com aumentos de juros e normalização da política monetária.