Um avião turboélice bimotor caiu pouco depois das 9h15 deste domingo, 22, em Gramado, na Serra Gaúcha, mais especificamente na região da Avenida das Hortênsias. Morreram o empresário Luiz Claudio Galeazzi, sua mulher, três filhas, a sogra, outro casal e duas crianças. Este já é o ano com maior número de mortes em acidentes aéreos no Brasil desde 2016.
Segundo informações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o avião havia acabado de decolar da cidade vizinha de Canela e estava indo para Jundiaí, no interior de São Paulo. Chovia e havia neblina. Ao menos 17 pessoas que estavam na área em que o avião caiu foram levadas ao Hospital de Gramado, a maioria por ter inalado fumaça.
Na queda, o avião atingiu a chaminé de um prédio, o segundo andar de uma casa – onde havia uma pessoa, que saiu sem ferimentos – e, na sequência, uma loja vazia. Os destroços também chegaram a uma pousada, onde duas pessoas tiveram de ser socorridas.
Detalhes
O registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostra que o turbohélice pertencia a Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, administrador da Galeazzi e Associados. Filho do consultor de varejo e ex-diretor do Pão de Açúcar Claudio Galeazzi, morto em 2023, ele era também o piloto da aeronave. Segundo a concessionária que administra o aeroporto de Canela, a família havia viajado na sexta para a cidade de Gramado.
De acordo com o registro na Anac, o avião de prefixo PR-NDN foi fabricado em 1990 e tinha nove assentos. Não havia restrições e tinha situação de aeronavegabilidade normal. A validade do chamado Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade venceria somente em 25 de março de 2025.
Marcelo Sulzbach, presidente do aeroclube de Canela, afirmou que as condições meteorológicas pioraram consideravelmente exatamente no momento da decolagem. “O teto estava um pouco baixo, com nevoeiro. No momento que a aeronave iniciou o taxiamento, a meteorologia mudou”, afirma. Segundo ele, Canela é uma cidade que conta com um clima mais volátil, suscetível a mudanças rápidas.
“(O clima)Deu uma boa piorada. O nevoeiro engrossou após a decolagem”, diz Sulzbach. Segundo ele, a densa neblina pode ter aumentado a carga de trabalho do piloto, que teria precisado confiar exclusivamente nos instrumentos, dada a falta de visibilidade. “Dentro da nuvem, não tem referência.”
De acordo com Sulzbach, o aeródromo não conta com controle de tráfego aéreo e opera apenas em condições de voo visuais. Nessas situações, cabe aos próprios pilotos coordenar as manobras e decidir se as condições são seguras para a decolagem. “A decisão de decolar ou não é do piloto. Agora temos de esperar a investigação para elucidar os fatos.”
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), informou que duas pessoas continuavam em estado grave no domingo, dentre as que foram resgatadas em solo, por causa de queimaduras. “Trabalhamos, além de tudo, para fazer a perícia com a agilidade possível. É uma situação que exige muito cuidado, muita cautela para a remoção da estrutura da aeronave, evitando um colapso no prédio que foi atingido.” Ele esteve no local e observou que a loja foi completamente destruída – a maior parte do avião ainda aguardava perícia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou solidariedade aos familiares dos mortos no acidente e desejou rápida recuperação aos feridos. “A Aeronáutica investiga as causas do acidente e o governo federal está à disposição do governo do Estado e das autoridades locais para esclarecermos (o acidente) o mais breve possível.”
Natal Luz
A Avenida das Hortênsias, onde o avião caiu, é uma das principais vias de Gramado. O local é próximo do centro e se conecta à vizinha Canela. Durante o evento conhecido como Natal Luz, que atrai turistas de todo o Brasil e de outros países, essa avenida e outras áreas centrais recebem decorações temáticas e iluminação especial, intensificando o clima festivo. Em 2024, a expectativa da prefeitura é de que mais de 1,5 milhão de pessoas passem pela região.
Balanço
Conforme dados do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), da Força Aérea Brasileira (FAB), 138 pessoas já morreram em 2024 em acidentes com aviões e helicópteros. No total, foram 186 casos, dos quais 48 resultaram em óbitos. Os dados estão atualizados até 5 de dezembro – e, portanto, não incluem as vítimas do acidente de ontem.
Em todo o ano passado, haviam sido 77 mortes, o que configura alta de 80%. Em 2022, os acidentes aeronáuticos mataram 49 pessoas e, em 2021, foram 68 vítimas. Já em 2020 morreram 55 pessoas.
Os números deste ano foram agravados pelo acidente com o avião da Voepass, no dia 9 de agosto, em Vinhedo, no interior de São Paulo, que deixou 62 mortos. O ATR 72-500 da empresa decolou de Cascavel (PR) e tinha como destino o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, Grande São Paulo.
Família fez carreira em recuperação de empresas
O pai de Luiz, Claudio Galeazzi, foi um dos maiores profissionais especializados em reorganização e recuperação de empresas no Brasil. Ele conduziu reestruturações como a do Grupo Estado, em 2002; do Pão de Açúcar, em 2007; da BRF, em 2013; e da Americanas, no fim dos anos 90. O empresário fundou a consultoria Galeazzi e Associados, que passou a ser dirigida pelo filho quando ele se afastou para fazer tratamento contra um câncer – que o levou à morte.
Luiz Claudio também era especialista em recuperação de empresas, formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Era apontado por consultores da área como um especialista à altura do pai.
Em nota publicada no LinkedIn, a Galeazzi & Associados confirmou a morte de Luiz e de seus familiares. Bruno Cardoso Munhoz Guimarães, funcionário da empresa desde 2007 e diretor desde 2022, também está entre os mortos no Rio Grande do Sul.
“Neste momento de imensa dor, a Galeazzi & Associados agradece profundamente as manifestações de solidariedade e carinho recebidas de amigos, colegas e da comunidade. Nos solidarizamos também com todos os afetados. Pedimos respeitosamente que o direito à privacidade da família seja respeitado”, diz a nota.
Morte anterior
Não é a primeira vez que ocorrem acidentes de avião envolvendo a família Galeazzi. Em 2010, um bimotor de Luiz Claudio caiu em Iperó, região de Sorocaba (SP), pouco depois de levantar voo. A aeronave transportava a sua mãe Maria Leonor Salgueiro Galeazzi, de 69 anos, e o piloto José Andrei Ferreira dos Santos, que morreram na hora.