O estado registrou aumento de 25% no desmatamento na Amazônia e 5,5% no Cerrado no ano de 2025. Os números vão na contramão do compromisso do Estado de zerar o desmatamento ilegal até 2030.
Alta Floresta (MT) – Mato Grosso registrou aumento de 25% no desmatamento na Amazônia e de 5,5% no Cerrado no ano de 2025. Os números acendem um alerta sobre os compromissos e as metas climáticas assumidas pelo Estado com o objetivo de zerar o desmatamento ilegal e reduzir a destruição das florestas até 2030.
A informação consta em uma nota técnica lançada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) nesta segunda (17/11). Ao todo, Mato Grosso registrou 1.572 km² de desmatamento na sua porção amazônica e 455 km² de perda de vegetação nativa no Cerrado de agosto de 2024 a julho de 2025.
Nos dois biomas, 65,5% do desmatamento foi registrado em áreas em que não foram identificadas a autorização para supressão da vegetação nativa. Os especialistas alertam que para que a meta seja cumprida será necessário, além de reduzir o desmatamento não autorizado, derrubar o desmatamento autorizado pela metade no Cerrado.
“Isso exige a continuidade e fortalecimento da governança ambiental apoiada por uma fiscalização eficiente, fomento às alternativas econômicas sustentáveis e a promoção de políticas públicas alinhadas com as metas climáticas. Entretanto, o cenário estadual enfrenta maiores desafios para reverter essa curva de aumento de desmatamento”, diz trecho da nota técnica.
“O controle e combate ao desmatamento no Estado tem enfrentado desafios perante os poderes Executivo e Legislativo, que apresentam propostas que fragilizam essas medidas e vão na direção contrária às ações necessárias para a redução do desmatamento e cumprimento das metas climáticas.”
Ameaças
Conforme explicou a coordenadora de Conservação e Clima do ICV, Ana Paula Valdiones, uma das grandes ameaças à redução do desmatamento em Mato Grosso é o fim dos efeitos da Moratória da Soja no estado. A Assembleia Legislativa (ALMT) decidiu retirar os incentivos fiscais para as empresas que aderirem às regras do acordo. A medida foi sancionada pelo Governo do Estado.
A Moratória da Soja é um acordo multisetorial em que as empresas signatárias se comprometem a não adquirir e nem financiar a produção de soja provenientes de áreas desmatadas na Amazônia após julho de 2008. Seu objetivo é frear o avanço do desmatamento no bioma.
Antes da Moratória, cerca de 30% da expansão da soja ocorreu sob vegetação nativa. Depois da vigência do acordo, esse percentual caiu para cerca de 1%. Atualmente, todos os processos que discutem a legalidade da moratória estão suspensos até julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O fim desse acordo setorial de desmatamento zero pode levar ao aumento expressivo do desmatamento, seja pelo desmatamento causado para dar espaço a soja, pelo deslocamento de outras culturas ou pela especulação fundiária”, destacou Valdiones.
A nota também discorre sobre outros pontos críticos na legislação estadual. Um deles é o Projeto de Lei Complementar (PLC) 18/2024, que busca alterar a classificação oficial da vegetação mato-grossense do tipo floresta para o tipo Cerrado.
O projeto tem o objetivo de reduzir restrições legais aplicáveis a essas áreas e pode abrir caminho para o desmatamento em mais de 5 milhões de hectares de áreas de Reserva Legal (RL). A medida também desconsidera critérios técnico-científicos estabelecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Mapa de Vegetação do Brasil.
Outros números
Dos 1.572 km² desmatados na Amazônia em Mato Grosso, 58,2% foram realizados por meio de degradação progressiva. Esse tipo de desmatamento se dá a partir de grandes incêndios recorrentes, o que ocasiona a perda progressiva da biomassa da floresta e de sua diversidade estrutural.
O desmatamento por degradação progressiva tem aumentado na Amazônia e demonstra uma alteração no padrão do desmate. Mato Grosso é um dos estados com maior área de perda de floresta a partir dessa subcategoria, o que demonstra um impacto significativo do fogo na vegetação florestal.
Quanto às categorias fundiárias, 74,8% da área total desmatada nos dois biomas aconteceu em imóveis rurais cadastrados. Marcelândia, no norte do estado, lidera o ranking de desmatamento em Mato Grosso, sendo que 97,5% não foi autorizado e 84% foram registrados a partir da degradação progressiva.
“O desmatamento é um problema complexo e que precisa de um esforço conjunto para solucioná-lo. Atualmente, o que temos acompanhado à nível estadual são proposições nocivas ao meio ambiente e que pouco contribuem para a conservação ambiental. Isso tem feito com que o Judiciário seja acionado com frequência para proteção do direito constitucional a um meio ambiente equilibrado”, disse Valdiones.
Por fim, a nota técnica alerta que para que as metas sejam concretizadas é preciso de projetos que integrem o capital natural do estado às atividades econômicas de forma sustentável.
“Isso implica em evitar o desmatamento e a degradação dos biomas e valorizar os inúmeros benefícios que a diversidade da vegetação nativa proporciona, como a produção de chuvas, a regulação climática, a conservação dos solos, a preservação da biodiversidade e o próprio suporte à qualidade de vida da população em geral.”
Foto: Alberto Cesar Araújo, Amazônia Real
Assessoria de imprensa
Ana Flávia Corrêa – ana.correa@icv.org.br
Dayanne Dallicani – dayanne.dallicani@icv.org.br



