A Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal (CEAC) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) registrou 34 mortes no trânsito de Cuiabá somente neste primeiro quadrimestre de 2018, um aumento de 21,43% em acidentes fatais na comparação com o mesmo período de 2017.
Entre as principais causas de morte no trânsito da capital está a combinação de álcool e direção. Os acidentes com lesão corporal tiveram queda de 15,28%; em Várzea Grande, os acidentes com sequelas diminuíram 6,9%. Em maio, a Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran) registrou três acidentes com óbitos somente na Avenida Beira Rio, em Cuiabá.
Um dos acidentes que chamaram a atenção da população foi provocado por embriaguez e levou à morte do verdureiro Francisco Lucio Maia, que morreu atropelado na Avenida Miguel Sutil no dia 14 de abril, quando a médica dermatologista Letícia Bertolini conduzia seu carro (uma SUV de luxo) sob o efeito de álcool quando provocou o acidente.
O delegado Christian Cabral, titular da Deletran, revelou que todos os acidentes tiveram relação com imprudência. “Não podemos considerar a via perigosa ou mal estruturada, mas sim que os condutores aumentam sua imprudência, seja porque abusam da velocidade ou quando estão dirigindo sob o efeito de álcool ou outras drogas”, informou.
O artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) deixa claro que é crime conduzir veículo sob efeito de álcool, e a pena é detenção de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor.
Cabral ainda alerta que, apesar das mudanças que tornaram as penas mais duras para quem infringe as leis de trânsito, a violência se manteve no mesmo patamar e, segundo ele, o número de pessoas mortas em acidentes de trânsito tende a ser maior do que no ano anterior.
“Isso tudo nos leva a refletir que os condutores continuam agindo à margem da lei porque ela infelizmente carece de efetividade e eficácia. As pessoas sabem que o risco de serem paradas em uma ação de fiscalização por não respeitar regras de trânsito é mínimo. E se forem paradas, o risco de responder a um processo ou serem penalizadas é menor ainda”, explicou.
Mesmo diante das leis mais exigentes, as infrações continuam com números alarmantes e condutores continuam com a prática de dirigir ou conduzir veículos automotores sob o efeito de álcool ou outras substâncias psíquicas.
Christian ressalta que hábitos culturais precisam ser mudados. “Temos que começar a mudar o nosso conceito. Não basta ter leis com penas e multas altas, temos que ter leis que sejam cumpridas por todos, para que possam ter eficácia e permitir que comportamentos e culturas sejam mudados”, explicou.
A médica Letícia Bertolini, que na audiência de custódia foi encaminhada a um presídio da capital, ganhou liberdade dois dias depois de provocar o acidente que tirou a vida do verdureiro. De acordo com o desembargador Orlando Perri, a conduta da dermatologista não apresentava perigo à sociedade.
Em sua decisão, Perri alegou que o fato de ela (médica) dirigir embriagada não prova a periculosidade da motorista, “ato é que não ficou evidenciada, a meu sentir, a aduzida periculosidade concreta da paciente, a autorizar a manutenção de sua custódia cautelar”, diz trecho da decisão do magistrado.
Acidente:
A médica Letícia Bortolini saiu de um evento open bar realizado em Cuiabá no dia 14 de abril e, acompanhada do marido, conduziu o veículo até a residência do casal, no bairro Jardim Itália, porém, durante o trajeto, acabou atingindo o verdureiro, que morreu no local do acidente.
De acordo com a Polícia Civil, Letícia conduzia seu Fiat Chrysler modelo Jeep branco que atropelou o verdureiro, mesmo assim, após atropelar a vítima, ela e o marido fugiram do local sem prestar qualquer assistência à vítima, porém foram seguidos por uma terceira pessoa, que viu o casal entrando em um condomínio no bairro Jardim Itália.
A Delegacia Especializada de Delitos em Trânsito (Deletran) esteve presente no local do crime. O casal apresentava visíveis sinais de embriaguez e Letícia foi autuada em flagrante por homicídio culposo no trânsito e omissão de socorro.
A filha de Francisco, após o acontecimento, publicou nas mídias sociais um texto em que se mostrava indignada com a situação e relatou: “Meu pai não era cachorro. Merecia, ao menos, socorro”.
Maio Amarelo
O movimento tem objetivo de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Este ano, o Detran está estimulando as instituições a levarem o debate do tema mais a fundo, viabilizando a reflexão sobre a conduta dos motoristas no trânsito do Estado.
Os três acidentes com mortes registrados na Avenida Beira Rio somente neste mês aconteceram em um período de 15 dias. No dia do trabalho, 1º de maio, o soldado do Exército Marcelo Victor da Silva estava na garupa de uma moto e morreu após o condutor perder o controle e bater contra um poste.
Quatro dias depois, um catador de latinhas identificado como Ângelo Pedroso de Lima trafegava por uma avenida quando foi atingido por uma Toyota Hilux SW4 em alta velocidade. Ângelo morreu no Pronto-Socorro da capital, três dias após o atropelamento. O condutor da caminhonete, de 20 anos, não possui habilitação e também apresentava sinais de embriaguez.
O mais recente, no dia 15, Thienes José dos Santos, perdeu o controle de sua motocicleta, invadiu o canteiro central e morreu depois de bater contra uma placa de sinalização. O acidente ocorreu próximo ao Parque de Exposições Jonas Pinheiro.
O departamento realizou no início deste mês um passeio ciclístico pela paz, no qual reuniu 680 pessoas. No dia 9, foi a vez do Dia D da Educação no Trânsito, o evento foi concentrado na Praça 8 de Abril, no bairro Duque de Caxias, em Cuiabá. Quem passou pelo local pôde tirar dúvidas e receber informações sobre o Movimento Maio Amarelo. Além de Cuiabá, municípios do interior do Estado também recebem as atividades.
Para o presidente do Detran, Thiago França, apenas estas ações não são suficientes se cada cidadão não fizer a sua parte. “Não basta só a segurança pública fazer a parte dela. Cada pessoa tem que assumir a responsabilidade e ter consciência em relação às leis de trânsito. Esses dados de mortes no trânsito, apesar de não serem bons, servem de alerta para a população, para que o nível de conscientização seja elevado e todos nós possamos fazer uma caminhada pela paz no trânsito”, comentou.
Blitz Educativa
O Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário da Polícia Militar (BPMTran) realiza blitzen educativas em diversos pontos da cidade, com intuito de conscientizar o condutor em relação às leis para um trânsito seguro.
A unidade também tem projetos que visam a educação no trânsito, como o Salvando Vidas, que realiza palestras em escolas e empresas. Além desse, existe o Amigo da Rodada, feito em parceria com Detran.
“Os agentes convidam pessoas que estão em mesa de bar a fazer o teste do etilômetro e quem não está ingerindo substâncias alcoólicas é escolhido como condutor do grupo e ainda ganha um brinde”, explicou o comandante do batalhão, tenente-coronel PM Esnaldo de Souza.
Lei Seca
Na última operação Lei Seca, realizada na via no dia 28 de abril, 12 condutores foram presos por conduzir veículo sob efeito de álcool, além da apreensão de 33 automóveis. Em 2017, a ação prendeu 128 pessoas em flagrante em Cuiabá e em Várzea Grande. De janeiro de 2018 ao dia 7 deste mês, foram 107 prisões.
A Lei Seca, segundo o coordenador do Gabinete de Gestão Integrada (GGI) da Sesp, major Rafael Dias Guimarães, ocorre em dias e horários estratégicos. “Nós selecionamos as vias e horários que os fatos estão ocorrendo e, em cima disso, é feito um planejamento para a realização da operação”, explicou.
A operação é feita de forma integrada entre Polícia Militar (PMMT) por meio do Batalhão de Trânsito, Polícia Judiciária Civil (PJC) por meio da Delegacia de Delitos de Trânsito (Deletran), Corpo de Bombeiros, Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob).