Além de três representantes do meio acadêmico e do subsecretário-geral político III do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, a audiência contou com a presença do embaixador do Irã, Mohammad Ali Ghanezadeh. Ao ser convidado a expor a posição de seu país pelo presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), o embaixador disse que, se o Brasil pretende se estabelecer como “poder emergente”, deve participar dos debates das grandes questões internacionais.
O diplomata iraniano elogiou o papel desempenhado pelo Brasil e pela Turquia na tentativa de encontrar uma solução negociada para a crise entre o Irã e as principais potências ocidentais, causada pela possibilidade de o programa nuclear do país resultar na produção de armas atômicas. Ele ressaltou o desenvolvimento científico de seu país ao longo dos últimos anos e defendeu maior cooperação bilateral no setor.
– Em alguns campos existem oportunidades de maior cooperação cientifica. Temos muitos cientistas trabalhando em campos como biotecnologia, nanotecnologia e ciências aeroespaciais. A cooperação poderia ser muito proveitosa para o Brasil – sugeriu.
Sugestão semelhante havia sido feita antes pelo pesquisador Jorge Muniz de Souza Mortean, da Universidade de São Paulo. Em sua opinião, o Brasil tem uma boa chance de preencher o que chamou de “vácuo europeu”, ou seja, a grande redução de relações entre a União Europeia e o Irã por causa do programa nuclear iraniano. Ele recordou que existe atualmente uma “grande fuga de cérebros” do Irã, de onde têm saído de 10 mil a 13 mil pesquisadores por ano.
– São técnicos altamente qualificados. O Brasil poderia receber parte desses cientistas, de áreas como nanotecnologia e química – afirmou.
Síria
Ao comentar a crise política da Síria, na abertura da reunião, Collor disse que a comissão apoia as “legítimas aspirações do povo sírio por maior participação politica, repudia a violência contra manifestantes desarmados e espera solução pacífica para a crise, por meio de um processo politico inclusivo, liderado pelos próprios sírios”. Posição semelhante foi defendida pelos representantes do governo brasileiro e do meio acadêmico.
O embaixador Andrade Pinto afirmou que o governo brasileiro pretende manter a tradição de promover o diálogo e, ao mesmo tempo, adotar o que chamou de “princípio da não indiferença”. Ele observou que a constituição recentemente adotada pela Síria ainda tem “muitos elementos de autoritarismo” e que o Brasil, apesar de pregar a paz, não é ingênuo e tem criticado os atos de violência ocorridos naquele país.
– É preciso chamar os países de boa vontade e estabelecer um local onde oposições e governo possam conversar. É necessário fortalecer a democracia, mas não podemos ser lenientes quando a violência atinge situações que deixam qualquer ser humano tocado – disse o diplomata.
Ao comentar a crise política síria, o professor Márcio Scalercio, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, observou que existe naquele país um “tipo de guerra civil”, onde o governo tem uma clara superioridade militar e a oposição é muito dividida. Mesmo que houvesse uma derrota dos aliados de Bashar al Assad, alertou, não haveria garantia de um governo estável naquele país.
Por sua vez, o professor Williams da Silva Gonçalves, da Universidade do Estado do Rio de janeiro, opinou que o Brasil não deve ficar indiferente em relação à crise política no Oriente Médio. Ele elogiou os esforços da diplomacia brasileira de buscar soluções negociadas para os conflitos da região.
– A ordem internacional democrática, que nós desejamos, não comporta intervenções militares. O poder deve ser usado para o diálogo – sustentou.
Ao fim da reunião, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também defendeu os esforços diplomáticos no Oriente Médio, para evitar a eclosão de possíveis guerras – envolvendo, por exemplo, o Irã – que seriam capazes, como recordou, de produzir “incontáveis mortes”.
Agência Senado