A Arena Pantanal, por exemplo, que irá receber quatro jogos da primeira fase da competição, já extrapolou o prazo de inauguração, antes previsto para dezembro de 2013, mas que agora deve ocorrer na segunda quinzena de fevereiro. O ex-jogador e membro do Comitê Organizador Local da Copa (COL) Bebeto, no entanto, põe em dúvida este calendário estipulado pelo Governo do Estado. Ele, que participou da visita realizada no estádio, mostrou bastante apreensão quanto à situação do gramado.
“Como ex-jogador, uma das primeiras coisas que a gente observa é o gramado, e eu estou realmente preocupado com o que vi aqui. Penso que o calendário é muito justo e não acredito que o gramado esteja apto a receber jogo na data definida para a partida teste, que é 25 de fevereiro”, desabafou o membro do COL.
O ex-jogador ainda ressaltou que esta é uma situação que merece total atenção daqueles que estão preparando o estádio, visto que, segundo ele, o gramado é “fator indispensável para que o espetáculo seja bonito. Ele precisa estar em perfeitas condições de uso”.
O governador Silval Barbosa (PMDB), por sua vez, tenta minimizar a situação e garante a entrega do estádio até 22 de fevereiro. “Quando começamos a fazer o estádio, fomos ver o que havia de melhor no mundo em relação a gramados. Não vamos errar por esse detalhe", afirmou.
A instalação das cadeiras na Arena também foi alvo de questionamentos por parte da comitiva da Fifa, liderada pelo secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke. O processo teve início na última semana e do total de 42 mil lugares apenas um lote com 2 mil assentos já está no estádio, porém nem todos já instalados.
O cartola da Fifa disse: "Aquelas cidades-sede que cumpriram o cronograma e entregaram seus estádios em dezembro de 2013 nos deixaram mais confortáveis. Assim como São Paulo, Cuiabá teve problemas e as obras ainda continuam”. Mesmo demonstrando preocupação, Valcke disse acreditar que o palco dos jogos estará concluído até o final de fevereiro.
Atrasada e R$ 200 milhões mais cara
Não bastassem os atrasos, a construção da Arena Pantanal ainda é destaque por conta dos aditivos ao contrato inicial, que somados ultrapassam R$ 200 milhões. Iniciada em abril de 2010, a obra foi orçada inicialmente em R$ 342 milhões. O primeiro aditivo ocorreu em janeiro de 2011, ainda sob a gestão da Agecopa, elevando o custo da obra em R$ 12 milhões. Mais tarde, contrato 009/2010 com o Consórcio Santa Bárbara – Mendes Júnior sofreu novo aditivo, desta vez no valor de R$ 33,5 milhões.
Em julho de 2012, quando as obras já estavam sob a responsabilidade da Secopa, o contrato foi aditivado em R$ 60,6 milhões. E, por fim, em março do ano passado, a Secopa pediu mais um aditivo para contratar serviços de tecnologia da informação e cujo custo ficou em R$ 98.193.406,00. Somados todos os aditivos, a obra da Arena Pantanal passou dos iniciais R$ 342 milhões para R$ 550 milhões.
‘Muro das infiltrações’ e ‘Piscinão do Silval’ estão entre as obras
À medida que algumas obras são inauguradas – ou antes mesmo de serem entregues à população – problemas na execução de tais empreendimentos já podem ser observados. O caso mais recente é o da trincheira Ciríaco Cândia, conhecida como Trincheirinha, em Cuiabá. Pouco menos de dois meses após a inauguração, a obra foi interditada pela própria Secopa por conta de irregularidades. As paredes do túnel já apresentam rachaduras e infiltrações, o que inclusive já rendeu à obra o apelido de ‘Muro das Infiltrações’, numa alusão ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. Não obstante, a pavimentação também já sofre problemas.
Ao interditar a obra que custou R$ 7 milhões, a Secopa inclusive admitiu a baixa qualidade do serviço e inconformidades com aquilo que foi contratado junto à Métrica Construções. Os reparos já estão sendo realizados.
Outra obra recém-inaugurada e que está causando ‘dor de cabeça’ à população é a do Viaduto da UFMT. A falta de drenagem no local faz com que se forme uma espécie de ‘piscina’ a cada chuva que cai na região. O fato também rendeu um apelido curioso à obra, que agora é chamada de ‘piscinão do Silval’. Em perfis das redes sociais, muitos internautas ainda dizem que ao invés do famoso ‘legado’, a Copa trará aos mato-grossenses um ‘alagado’.
Tida a princípio como uma das primeiras obras a serem inauguradas pelo Governo do Estado, o viaduto da Sefaz segue sem previsão de entrega. A obra, que integra o pacote de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), apresentou problemas na massa asfáltica antes mesmo de sua inauguração e os procedimentos tiveram de ser refeitos. Desde então, Governo e o Consórcio VLT Cuiabá – que executa a obra – passaram a evitar falar em data de inauguração.
Turistas e delegações podem ser recebidos sob ‘terminal de lona’
O que também chama atenção na preparação de Cuiabá e Várzea Grande para receberem o Mundial de 2014 é a possibilidade de o Aeroporto Marechal Rondon receber uma estrutura ‘provisória’ no terminal de embarque e desembarque, caso as obras de ampliação e reforma não fiquem prontas em tempo. A alternativa foi inclusive afirmada pela ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em entrevista ao Valor Econômico no início do ano.
Na ocasião, ela admitiu que caso as obras não sejam concluídas até maio, o Governo Federal estuda montar uma estrutura de lona provisória e climatizada para ajudar na recepção aos passageiros. "Não é uma lona fina, ela climatiza, organiza, fica bonito, mas não tem a durabilidade de uma construção", alegou a ministra. Mesmo admitindo a existência de um “plano B”, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) alega que os trabalhos devem ser concluídos até abril.
Enquanto isso, o ministro da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Moreira Franco, nega a instalação de um terminal de lona no Marechal Rondon. Segundo ele, a implantação dessa estrutura foi cogitada apenas para o aeroporto de Fortaleza, onde há um atraso maior nas obras.
Em que pese a proximidade da Copa, apenas 40% das obras do aeroporto estão finalizadas, conforme divulgou a própria Infraero.