Depois de manifestações claras de que a ditadura é sim uma ameaça real, com palavras repetidamente decoradas faladas para 100 milhões de pessoas, assistimos a uma peça de terror leniente que nos faz abrir os olhos para uma situação que, sinceramente e de todo coração, não esperava que acontecesse 10 anos atrás. Não é o Bolsonaro que me assusta. Ele mesmo fala que sempre foi baixo clero, que todos sabem das suas limitações. O que assusta são os que nele se inspiram e se veem refletidos na imagem de herói nacional da República. As aspirações econômicas de uma burguesia machucada com sua perda de consumo fazem a classe média e tudo aquilo que ela engloba pensar no imediatismo das ações. Aí vem o radicalismo. Aí vem o perigoso “antes ele do que eu”.
– Fodam-se os negros. Os índios. As cotas. Agora até nós brancos estamos sofrendo.
Não foi nem uma, nem duas, nem três vezes que li essa frase nos grupos de Whatsapp. Engraçado que são grupos de pessoas que moram ou nascidas em Cuiabá. Amigos do Rio, de Campo Grande, da Europa, não tão radicais. E o Bolsonaro e a filosofia de exclusão não surgiram agora. Existem milhares e milhares de robôs que replicam e usam o melhor argumento da hora “só repassando”. Me intriga essa terra de bororos e escravos, onde todos, absolutamente todos, têm DNA de índios e negros, sermos tão feudalistas.
– Vai com essa esquerda pra Cuba! Comunista! Precisamos ganhar dinheiro para depois pensar nos coitadinhos.
Não sei se Cuba. Mas, definitivamente, o Brasil do jeito que está, e que vai se desenhando, não é o lugar para criar meus filhos.