Trinta e um alunos do grupo cuiabano de karatê Shotokan foram convocados para compor a Seleção Brasileira de Karatê para o 2018 World Traditional Karate-Do Championship, ou Campeonato Mundial de Karate-do Tradicional 2018, em tradução livre. O evento acontece no fim de outubro, porém, apesar da vontade de participar do Mundial, muitos atletas podem não tirar os pés de Cuiabá, por conta da falta patrocínio. Os custos para levar os atletas ao Canadá, onde ocorre o campeonato, é o principal empecilho.
O sensei e fundador da Academia Shotokan, José Humberto, acredita que não conseguirá levar todos os 31 convocados que variam de 9 a 31 anos. O impedimento, na verdade, não é uma grande novidade para os alunos. Em outros campeonatos, alguns alunos acabam ficando de fora pela falta de recursos e a seleção de quem de fato vai participar é feita a partir de critérios como pontualidade e disciplina.
As participações em campeonatos mundiais já estão enraizadas na história da Academia Shotokan. Desde 1992 o grupo é convocado para o Mundial, participando também de Pan-Americanos. Em 92, inclusive, foi justamente no Canadá onde aconteceu o primeiro campeonato mundial em que o Shotokan participou.
Não somente as participações como também os empecilhos são enraizados. José conta que já chegou a vender o carro de sua esposa para conseguir o dinheiro necessário para participação em um campeonato mundial. Os problemas resumem-se ao financeiro e no campeonato deste ano não seria diferente.
A Academia Shotokan consegue, de tempos em tempos, parcerias ou patrocínios para manter a instituição viva. O Shotokan é um dos beneficiários do Criança Esperança, mas a parceria firmada através de um edital só começa a valer em 2019 e não beneficia a todos os alunos. Eles tentam driblar a falta de recursos com a realização de rifas, mas não é o suficiente para levá-los a um Mundial, por exemplo.
Aos que queiram patrocinar a ida dos alunos ao Campeonato Mundial de Karate-do Tradicional 2018, José Humberto explica que basta entrar em contato direto com a Academia Shotokan, pelo número 65 33211140, ou ligar para ele pessoalmente para que possa explicar detalhadamente sobre como ajudar, pelo número 65 984637961.
Outra forma mais simplória de ajudar é com a contribuição através da doação de quimonos, podendo ser até mesmo usados, já que em algumas comunidades onde o Shotokan realiza suas aulas sequer há o recurso para a compra da roupa tradicional. Também há a “adoção” de atletas, podendo gerar recursos para ele.
Apesar da incerteza de participação na competição deste ano, José conta que é gratificante ver seus alunos chegarem ao Mundial. “Você tem 31 atletas convocados para um Mundial. Qual técnico de qual modalidade consegue isso? Se você fizer um comparativo, você acaba polindo o próprio ego; isso a gente não pode fazer. A gente com muita humildade vê que está no caminho certo, acertando naquilo que estamos ensinando. (…) É emocionante, é gratificante. Eu posso dizer que o ápice de um técnico é ver o seu aluno em um campeonato”, conta.
Dentre os 31 convocados para a Seleção Brasileira de Karatê, está o pequeno Theo Nonato, de 9 anos. Foi há cinco anos quando ele conheceu o esporte através de um tio e confessa que acreditou que não iria curtir tanto o karatê no começo, mas hoje já está na faixa roxa, faltando apenas duas faixas para chegar à preta, mas ele mesmo alerta que ainda há as outras fases dentro da faixa.
Theo fez um trato com sua mãe, combinando com ela que treinará o karatê até os seus 16 anos, quando ele atinge a idade mínima para a faixa preta. O karatê não é a primeira arte marcial que o jovem Theo pratica, já tendo contato com o judô, mas a paixão veio mesmo com a luta influenciada por técnicas chinesas, lhe rendendo até mesmo inúmeras medalhas.
O jovem Theo carrega suas 13 medalhas com orgulho. O feito é de se admirar, visto que as medalhas foram conquistadas em um pequeno período de tempo: três anos. O incentivo inicial para as competições veio de sua professora, e até então Theo já participou de campeonatos de âmbito municipal, estadual e nacional, abocanhando ouro, prata e bronze.
Este é o primeiro campeonato de nível mundial para o qual Theo é convocado. Sua mãe, a administradora de empresas Lucíola Gonçalves Nonato, não esconde o orgulho que sente de seu filho. “É mais que um orgulho. É muito gratificante porque hoje a gente vê uma geração em que as crianças têm dificuldades com esporte; e depende muito dos pais incentivar. Quando ele entrou, eu fiz umas quatro aulas experimentais com ele para ter certeza de que ele realmente iria gostar”, explica a mãe que criou até mesmo uma arrecadação online para ver se consegue levar o filho.
José Humberto acredita que o principal ponto que deve ser admirado na participação de um campeonato deste porte é a evolução do atleta. “Quando a gente vê a evolução, vê o crescimento e o resultado, principalmente educacional em crianças, é fantástico. Você vê que eles conseguiram superar grandes obstáculos. Participar de competições não tem a finalidade de ganhar do outro. A competição de caratê é para ganhar dele mesmo: o medo, ansiedade, vergonha, o nosso ego de não querer perder”.
Em rede nacional
Beneficiário do Criança Esperança, o Shotokan se apresenta neste sábado (18) durante a mais nova edição do programa para arrecadar mais fundos para os projetos sociais. Camila Pitanga, Fernanda Gentil, Leandra Leal, Dira Paes, Lázaro Ramos, Flávio Canto e Jonathan Azevedo comandam o evento deste ano.