Quem hoje vê o tenista Robson Nunes ser consagrado campeão do tênis no Estado mal imagina sua história de vida e o suor necessário para leva-lo à posição. Muito além de disciplina, foco e obstinação, a principal arma do atleta foi a superação: usou o caminho do esporte para rebater um caminho de drogas e criminalidade que o levariam a um futuro muito diferente.
“Era para estar morto se não fosse o tênis”, confessa. Segundo ele, dos amigos de infância, a maior parte virou bandido ou foi assassinado. Ele conseguiu driblar o caminho dos colegas quando, aos oito anos, foi convidado para ser catador de bolinhas no Clube Monte Líbano. Inicialmente, aceitou o trabalho para ter “um trocado”. Um tempo depois, por iniciativa de um associado, passou a se interessar pelo esporte, quando ganhou sua primeira raquete e começou a treinar.
Dos oito anos para frente, a vida de Robson foi o esporte. Aos 14 anos, em 1994, foi campeão estadual de tênis. O feito se repetiu nos quatro anos seguintes, quando, aos 16 e 18, reforçou o título.
Atualmente, Robson é, além de atleta, professor de tênis em um clube da capital. Entre treinos e aulas, disputa e organiza campeonatos. Hoje, aos 38 anos, sagrou-se campeão pelo Circuito Estadual de Tênis 2018, na categoria 1ª Classe Profissional (a principal do campeonato), torneio que venceu também em 2015.
Apesar de gostar da disputa, Robson revela que a vida de atleta profissional é muito difícil. Ele, que já viajou para torneios em todo o país, optou por se tornar treinador por avaliar que, com uma família, é necessário ter “os pés no chão”. Segundo ele, a vida de tenista profissional exige, além de dedicação exclusiva, “patrocínio para sobreviver e pagar as viagens”.
“Já viajei bastante. Conheço todo o país, mas me casei e tive filhos. Então isso teve grande peso na escolha. Minha vida é o tênis. É tudo que sei fazer. Sou extremamente competitivo e não conseguiria ficar sem este esporte”, revelou. Diante disso, Robson procurou se atualizar com cursos profissionalizantes e conseguiu o Certificado Internacional da Federação de Tênis (ITF, em inglês), que o permite dar aulas a qualquer faixa etária e nível de jogo.
Ser professor, contudo, também não é fácil e Robson aprendeu a lidar com o dia a dia na prática. “É necessário ter maturidade, prudência na hora de tomar decisões e sabedoria para saber lidar com as pessoas. O professor precisa animar o aluno o tempo inteiro, precisa incentivar para que ele não desista e goste das aulas. Preciso ser tudo dentro de quadra e não apenas professor”, comentou, destacando que a relação com os alunos exige, também, confiança, especialmente quando os atletas o procuram para desabafar.
“Os alunos chegam e desabafam seus problemas e não posso simplesmente ignorar. É preciso mostrar que sou uma pessoa de confiança e que me preocupo com o bem estar dele. É este vínculo forte que constrói a segurança entre o professor e o aluno”, comentou.
Dividido entre professor e competidor, Robson constantemente esbarra com os alunos nos torneios. Para ele, a situação é mais normal do que para os novos atletas, que, eventualmente, deixam de participar de competições ao descobrirem que o professor também irá disputar a premiação.
“Há, sim, alunos que deixam de participar de torneios quando veem meu nome na lista de inscritos. Acham que não vale a pena competir tendo alguém mais forte, mas isso é uma pena. Simplesmente respondo que, se acham a primeira classe difícil, então deveriam tentar a segunda. Mas muitos competem pelo prazer de competir”, comentou, revelando que, ao contrário dos alunos, compete pelas premiações, já que o dinheiro oferecido é um grande incentivo.
Cenário mato-grossense
De acordo com Robson Nunes, o número de atletas profissionais em Mato Grosso ainda é baixo e precisa de ajuda. Ele destaca a falta de incentivo financeiro como um dos principais gargalos. “No profissional, nós pecamos. A razão disso é a falta de incentivo, de patrocínio. É muito caro se manter em um esporte, e o tênis não é um esporte que está sempre na mídia, como o futebol”, destacou.
Segundo o professor, quando um jogador chega a um nível mais avançado e se destaca, costuma migrar para São Paulo ou até mesmo outros países no exterior, como Espanha ou Estados Unidos. “São lugares onde podem evoluir melhor”, observou.
No entanto, o cenário do tênis para Mato Grosso é considerado otimista, já que a modalidade esportiva ganha, pouco a pouco, mais adeptos. “Temos bons atletas aqui para o nível amador, mas ainda precisamos melhorar”, pontuou. Para Robson, ainda falta as famílias incentivarem o passeio em clubes ao invés de shoppings.
“Quando era criança, o cuiabano frequentava bastante o clube e praticava mais esportes”, se lembrou. Segundo ele, o fenômeno ainda acontece no interior do Estado, em cidades como Sinop, Rondonópolis e Tangará da Serra. “São municípios fortes no tênis, porque lá as pessoas passam o final de semana no clube jogando”.
Para o professor, o tênis é, assim como outros esportes, um refúgio para que crianças de bairros mais carentes não circulem em ambientes violentos. “Dá uma oportunidade de ele tomar um rumo, ter uma visão de futuro”, comentou, lembrando a semelhança com sua própria história. Além de uma modalidade na qual se pode trabalhar o porte físico, o tênis também explora o lado competitivo e ensina sobre trabalho e disciplina.
Questionado sobre algum aluno que apresentou mudanças graças ao esporte, ele se lembrou de Pedro, que começou com o tênis quando tinha 11. O rapaz possuía retardo mental leve, raciocínio devagar e pouca coordenação motora. Ao longo dos 10 anos da prática da modalidade, o rapaz apresentou melhoras em vários aspectos, incluindo no âmbito social, já que antes quase não possuía amigos, e no escolar. “O tênis desenvolve a mente”, comentou o professor.
Com tantos benefícios, Robson espera que a escolha pelo tênis cresça no Estado, e que atletas não precisem deixar Mato Grosso para evoluir. Segundo ele, o caminho ainda é longo, sendo necessários maior patrocínio, presença na mídia e até professores. “É comum encontrarmos, nos prédios e clubes, quadras de tênis, mas faltam professores. No entanto, só é possível formarmos mais professores com a entrada de pessoas novas no tênis”, observou.
Para ele, parece clichê, mas o futuro do esporte são as crianças. “É preciso haver uma formação desde a infância, porque serão essas crianças que nos darão uma base de apoio para o futuro. Serão elas que vão alavancar o esporte”, finalizou.