Foto: Valdineia Fernandes/LMTR
Mesmo estando em um dos estados mais tradicionais na cultura dos rodeios, Mato Grosso também entrou no debate internacional contra os maus tratos de animais. No estado, ativistas criaram uma página no Facebook e um site para discutir o tema, que é indigesto e sempre acalorado para algumas pessoas.
O criador do site 'MT Sem Rodeios' explica que não existem competições sem maus-tratos. “Esse tipo de evento tenta iludir as pessoas, fazendo animais dóceis parecerem bravios, e para que isso ocorra são utilizados diversos tipos de instrumentos e métodos cruéis”, disse Márcio (nome fictício, já que o dono do site teme perseguições ao revelar o nome). Ainda conforme o organizador do movimento, ativistas por vezes sofrem pressões por conta de seu posicionamento. “Não pretendo revelar meu nome para evitar aborrecimentos. Já sofri diversas ameaças e tentativas de intimidações em rodeios de outros estados, geralmente via telefone ou até pessoalmente quando reconhecido em rodeios”, revelou.
Maus tratos
Segundo o dono do site, a corda usada na montaria é amarrada na parte genital do animal, que é farta em estruturas nervosas e de captação de dor, sem estrutura óssea para proteger. “Para comprovar os maus-tratos, vídeos e fotos deixam claras as reações desses animais ao serem submetidos as provas de rodeios e bastidores, aliado a isso existem dezenas de laudos técnicos e científicos emitidos por diversas universidades brasileiras e órgãos de perícia oficial, que atestam que esses animais são submetidos diariamente a diversos tipos de agressões físicas e psicológicas”, explica.
"Os animais levam choques elétricos para entrarem no cercado, precisam ficar acordados até a hora do rodeio, quando costumam dormir ao cair do sol e são expostos aquele barulho. Os animais têm uma audição quatro vezes mais sensível que a nossa. Isso sem falar nas quedas, que provocam fraturas e hemorragias", completou.
Outro Lado
Contudo a visão de Márcio é contestada pelo presidente da Liga Mato-grossense de Rodeio (LMTR), Cléber da Costa Soares, que alega que esses argumentos são frutos do desconhecimento do esporte. “Eu desafio qualquer um a ir comigo ver as condições que os bois são tratados nos rodeios, que vão até querer trocar de lugar com eles [ironizou]. Eles têm toda uma preparação física, alimentar e passam por treinadores e veterinários para poderem chegar a entrar no brete”, argumenta Cléber com exclusividade ao jornal Circuito Mato Grosso.
Conforme o presidente da liga, os animais são tratados como verdadeiros atletas e que não passam por torturas, nem estresses. “Os bois estão preparados e são apenas oitos segundos que eles ficam na arena, por três dias, o restante é puro treinamento. Não pé permitida em competições sérias esporas pontiagudas, choque elétrico ou espancamentos de qualquer espécie”, comentou o representante dos rodeios.
De acordo com o presidente da Liga, há nos rodeios o juiz de brete e o juiz oficial que são responsáveis por averiguar as condições e o tratamento que os touros estão recebendo. “Esses juízes vieram com a profissionalização dos rodeios, nós queremos garantir o bom tratamento aos nossos ‘atletas’. Eles são como jogadores profissionais de futebol. Há um olheiro que identifica no ‘DNA’ do boi se ele é apto ao esporte. Não pegamos qualquer touro no pasto e colocamos ele aqui na arena. Leva-se no mínimo três anos de preparação e treinamento para que eles estejam bem capacitados a fazer os show”, explicou Cléber.
Respeito e bom senso
O presidente da LMTR disse também que o respeito as diferenças deve ser levado em conta, na hora da discussão contra os rodeios. “Vivemos em uma democracia e devemos debater esses e outros assuntos. Porém devemos ter respeito a cultura dos rodeios e aos profissionais sérios que estão no mercado”, alegou Cléber.
Valor dos animais
Os touros ‘profissionais’ podem ser vendidos por até R$ 280 mil e Mato Grosso é um dos principais exportadores de bois para esse seguimento. Segundo Soares, o estado é um celeiro de ‘artistas’ que treina, cria e revela grandes e famosos bois de rodeios. “Aqui é como se fosse o Brasil, no futebol. Somos uma potência na questão dos rodeios. Tanto que até São Paulo [estado onde a cultura dos rodeios reúne milhares de fãs] vários touros vem de MT”, comentou.
Além disso os animais têm 'aposentadoria garantida', ja que a carne de um touro de rodeio é dura e ruim para consumo. "No máximo em cinco anos esses touros já podem ter seu espaço de pastagem para aproveitar sua vida", disse Cleber.
Os rendimentos de um peão chegam a alcançar R$ 20 a R$ 30 mil mês. Alguns peões podem alcançar a cifra dos R$ 200 mil se ganhar várias competições num ano, conforme explicou o presidente da LMTR.
Veja vídeo publicado pelo movimento MT Sem Rodeio: