Dois casos chocaram a sociedade cuiabana nesta semana. A mãe de uma criança de três anos de idade denunciou o próprio esposo por ter abusado sexualmente de sua filha; no outro, uma adolescente de 17 anos foi sequestrada, drogada e estuprada por dois irmãos em Cuiabá. De acordo com o delegado da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), Eduardo Botelho, esses são apenas dois dos vários casos que chegam diariamente ao conhecimento da polícia.
“Chegam em média dois a três casos de estupro de vulnerável por dia aqui na delegacia, mas, nem todos são verídicos, o que chega é a denúncia , um boletim de um possível crime de estupro de vulnerável, e as investigações para verificar a veracidade disso começam a partir daí”, explica Eduardo.
OS CASOS
O caso do padrasto, suspeito de abusar da enteada de três anos, aconteceu na última quarta-feira (3) no bairro Jardim Alvorada, em Cuiabá. A denúncia aconteceu após a mãe da criança perceber uma mudança na rotina da família- o acusado deixou de levar a criança para a creche e quando a garotinha disse a seguinte frase a mãe: “O A. mexeu na minha moranguinho”, a mãe explicou que ensinou a garota a associar as partes íntimas com este nome justamente por se preocupar com este tipo de situação.
O segundo caso aconteceu um dia depois, na noite da quinta-feira (4). Uma adolescente de 17 anos foi sequestrada, drogada e estuprada por dois suspeitos, de 21 e 26 anos. Ela foi encontrada por policiais caída em uma avenida no bairro CPA IV, também na capital, e relatou ter sido obrigada a consumir drogas, perdeu os sentidos e foi estuprada por dois homens no bairro Três Barras. A garota disse ainda que acordou nua em um quintal, ao lado de dois homens, também sem roupas.
Dois suspeitos foram detidos no bairro Três Barras e encaminhados para a Central de Flagrantes do Centro Integrado de Segurança e Cidadania (Cisc) do bairro Planalto.
A Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) tem uma equipe especializada nos cuidados deste tipo de caso, mas, para que os casos sejam solucionados, primeiro deve haver a denúncia.
“Esse crimes são cometidos na maioria em domicílio, dentro do convívio familiar e não existe possibilidade de a polícia evitar a prática. A pessoa tem que noticiar o que aconteceu, porque só assim chegaremos ao caso para combater a impunidade”, explica o delegado Eduardo Botelho.
Ele pontua que caso a denúncia não chegue, a sensação de impunidade aumenta. “Se a informação não chegar até a polícia, não haverá investigação e a sensação de impunidade vai incentivar cada vez mais pessoas a prática desses delitos”.
OS CUIDADOS NAS INVESTIGAÇÕES
Eduardo explica que as preocupações que os oficiais devem ter ao tratar deste tipo de caso. “O primeiro cuidado que deve existir diz respeito à criança ou adolescente, a vitima em si”.
Segundo ele, esse cuidado é necessário devido às sequelas deixadas neste tipo de crime. ”O crime sexual deixa sequelas muito grandes. Não adianta o investigador, o delegado, o promotor fazer incontáveis perguntas porque isso vai criar um fenômeno chamado ‘revitimização’, podendo ocorrer um bloqueio e traumas na vítima”.
Segundo ele, esse trabalho deve ficar a cargo de quem tem formação para tanto. “Todo trabalho realizado com a vítima é feito por profissionais que possuem qualificação para isso. Aqui existe uma equipe psicossocial formada por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais”.
Eduardo pontua que o depoimento é realizado de maneira técnica. “Eles mantêm o contato com as vítimas para tentar extrair informações de uma forma técnica, o que de fato aconteceu. É um depoimento sem dano, é falar com a vítima da maneira mais tranquila possível sobre o que aconteceu”.
PRECAUÇÕES
Alguns casos são percebidos por pais e pessoas próximas que notam a mudança de comportamento da vítima, mas, além disso, é necessário manter um diálogo aberto com os filhos, como explica o delegado. “Os pais precisam manter um relacionamento muito aberto com os filhos, para que eles se sintam a vontade de conversar sobre qualquer assunto. Também é necessário ficar atento a mudanças bruscas de comportamento, pois isso pode indicar que algo de errado esteja acontecendo”.
As denúncias podem ser realizadas diretamente na delegacia, e, segundo o delegado, a pessoa pode escolher por se apresentar ou fazer a denúncia de forma anônima, uma vez que a maioria dos agressores são pessoas próximas. “As vítimas ficam muito receosas em noticiar porque a maioria desses agressores são próximos a ela, como parentes, familiares e amigos. Isso acaba dificultando a denúncia e a prisão dos suspeitos, porém, a pessoa pode optar ainda por fazer a denúncia e não se identificar, preservando sua identidade”, finaliza.