Ataques e tiroteios israelenses mataram pelo menos 44 pessoas em Gaza, informaram autoridades de saúde neste sábado, 27. Enquanto isso, cresce a pressão internacional por um cessar-fogo, mas o líder de Israel, Benjamin Netanyahu, continua irredutível em relação à continuação da guerra.
As vítimas incluem nove pessoas de uma mesma família que estavam em uma casa no campo de refugiados de Nuseirat, de acordo com funcionários do Hospital Al-Awda, para onde os corpos foram levados. Outras cinco pessoas morreram quando um ataque atingiu uma tenda para desabrigados, de acordo com o Hospital Nasser, que recebeu os mortos.
O Exército de Israel disse não ter conhecimento de nenhuma vítima por tiros neste sábado, no sul de Gaza, e não fez comentários imediatos sobre os ataques aéreos.
O diretor do Hospital Shifa, na cidade de Gaza, disse à Associated Press que as equipes médicas estavam preocupadas com os “tanques israelenses se aproximando das proximidades do hospital”, restringindo o acesso às instalações onde 159 pacientes são tratados.
“O bombardeio não parou nem por um momento”, disse o Dr. Mohamed Abu Selmiya.
Ele acrescentou que 14 bebês prematuros foram tratados em incubadoras no Hospital Helou, embora o chefe da unidade de terapia intensiva neonatal, Dr. Nasser Bulbul, tenha dito que o portão principal da instalação foi fechado devido à presença de drones sobrevoando o prédio.
Netanyahu e Trump marcam encontro enquanto a pressão aumenta
Os ataques ocorreram horas depois de Netanyahu ter dito a líderes mundiais, na Assembleia Geral da ONU na sexta-feira, 26, que seu país “deve terminar o trabalho” contra o Hamas em Gaza.
As palavras de Netanyahu, dirigidas tanto ao seu público interno – cada vez mais dividido – quanto ao público geral, começaram depois que dezenas de delegados de vários países saíram em massa da sala da Assembleia Geral da ONU na manhã de sexta-feira, quando ele começou a falar.
A pressão internacional para que Israel ponha fim à guerra está aumentando, assim como o isolamento do país, com uma lista crescente de nações decidindo recentemente reconhecer a soberania palestina, o que Israel rejeita.
Os países têm pressionado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que ele force Israel a um cessar-fogo. Na sexta-feira, 26, a repórteres no gramado da Casa Branca, Trump disse acreditar que os EUA estão perto de chegar a um acordo para amenizar os combates em Gaza, o qual “trará os reféns de volta” e “acabará com a guerra”.
Trump e Netanyahu devem se reunir na segunda-feira, 29. O republicano comentou nas redes sociais na sexta-feira que “discussões muito inspiradoras e produtivas” e “negociações intensas” sobre Gaza estão em andamento com os países da região.
Israel, no entanto, avança com outra grande operação terrestre na cidade de Gaza. Segundo especialistas, o local passa por uma situação de fome. Mais de 300 mil pessoas fugiram, mas cerca de 700 mil ainda estão lá – muitas porque não têm condições financeiras para se mudar.
Hospitais sofrem com falta de suprimentos e ataques aéreos
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Os ataques na manhã deste sábado destruíram uma casa no bairro de Tufah, na cidade de Gaza, matando pelo menos 11 pessoas, mais da metade delas mulheres e crianças, de acordo com o Hospital Al-Ahly, para onde os corpos foram levados.
Outras quatro pessoas morreram quando um ataque aéreo atingiu suas casas no campo de refugiados de Shati, de acordo com o Hospital Shifa. Seis palestinos também foram mortos por tiros israelenses enquanto buscavam ajuda no sul e no centro de Gaza, de acordo com os hospitais Nasser e Al Awda.
Os hospitais e clínicas de saúde na cidade de Gaza estão à beira do colapso. Quase duas semanas após o início da ofensiva, duas clínicas foram destruídas por ataques aéreos, dois hospitais fecharam após serem danificados e outros sofrem com escassez de medicamentos, equipamentos, alimentos e combustível, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Muitos pacientes e funcionários foram forçados a fugir dos hospitais, deixando para trás apenas alguns médicos e enfermeiros para cuidar de crianças em incubadoras ou de outros pacientes que não conseguem se mover.
Na sexta-feira, o grupo de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras disse que foi forçado a suspender as atividades na cidade de Gaza. O grupo afirmou que os tanques israelenses estavam a menos de um quilômetro de suas instalações, criando um “nível inaceitável de risco” para sua equipe.
Enquanto isso, a situação alimentar no norte também piorou, já que Israel suspendeu as entregas de ajuda humanitária por meio de sua passagem para Gaza desde 12 de setembro e tem rejeitado cada vez mais os pedidos da ONU para levar suprimentos do sul de Gaza para o norte, informou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
A ofensiva de Israel em Gaza já matou mais de 65 mil pessoas e feriu mais de 167 mil outras, informou o Ministério da Saúde de Gaza. A pasta distingue civis e combatentes, mas afirma que mulheres e crianças representam cerca de metade das vítimas fatais. O ministério faz parte do governo administrado pelo Hamas, mas as agências da ONU e muitos especialistas independentes consideram seus números como a estimativa mais confiável das baixas em tempo de guerra.
A campanha de Israel foi desencadeada quando militantes liderados pelo Hamas invadiram Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1,2 mil pessoas e fazendo 251 reféns. Quarenta e oito reféns permanecem em Gaza, cerca de 20 deles considerados vivos por Israel, depois que a maioria dos demais foi libertada em cessar-fogos ou outros acordos.