“Boa noite, meu nome é Ana* e sou uma Nar-Anon em recuperação. Faz dois meses que meu ex-namorado mora na rua e eu não tenho mais procurado ele, pois estou respeitando os meus limites”, conta uma morena bonita e jovem, de sorriso luminoso e olhar triste. “Fico feliz de pensar que ao menos ele não está mais roubando, apenas mora e consome droga perto da Rodoviária”, diz, e após uma longa pausa revela: “Mas tenho que confessar que agora que o frio está chegando eu estou muito agoniada”.
O local onde o ex-companheiro de Ana vive é um dos principais pontos de concentração dos muitos usuários de droga na capital mato-grossense. A grande maioria é viciada em pasta-base, um derivado da coca. Fabricada das sobras do refino da cocaína, a pasta-base tem poder de vício centenas de vezes superior e, segundo médicos, terapeutas e adictos entrevistados pelo Circuito Mato Grosso, tem causado uma epidemia de adicção no estado.
A sala de paredes bege, cheia de cartazes com mensagens e orações, reúne um grupo de seis mulheres de diversas idades, classes sociais e mundos absolutamente diferentes. Todas têm em comum o olhar carregado de dor, traço compartilhado entre as famílias das vítimas da dependência química. No bairro da Lixeira, em uma noite de terça-feira, depois da Oração da Serenidade, comum a outros grupos de apoio de pessoas que se ajudam na luta contra a doença, elas começam a contar os relatos de suas vidas.
Cibele* diz que a cocaína teve que cair literalmente no seu colo para ela aceitar que seu marido consumia drogas. “Eu estava pondo a roupa para lavar e caiu em cima de mim. Daí eu não tinha mais desculpas para o comportamento dele. O mais difícil é isso, a gente aceitar a doença do familiar. Porque nós adoecemos junto e também negamos essa doença com eles”, conta.
“Não tem como ajudá-los sem nos fortalecermos. Essa é uma das doenças mais ingratas que existem. Ela rouba tudo que o outro tem de melhor. Aqui, neste grupo, aprendemos a separar a adicção do adicto”, diz.
Joana* teve que internar o filho, um rapaz de 35 anos e adicto há 20, em uma clínica fechada e à força. Hoje, ele também é consumidor de pasta-base e segue incomunicável em uma clínica em São Paulo, onde ficará por dois meses. “Sei que foi extremo. Mas um dia ele terá que compreender. Se eu deixasse sair, ele ia voltar para a rua”.
Os relatos dos familiares são um soco na consciência. Eles revelam o drama humano que existe por trás do crescente número de usuários que vagam pelas regiões centrais e bairros afastados de Cuiabá. Vistos pelas autoridades como um “problema a ser sanado” e por muitos da sociedade como meros mendigos perdedores, a fala dos familiares mostra que qualquer um pode ter um filho, pai ou marido nas ruas perdido para a adicção.
“É exatamente assim, do luxo ao lixo. O cara não tem pudor. Ele vende tudo e vai pra rua. Eu já vi meu pai dizer que não tem ninguém em primeiro lugar para ele, só a droga”, conta a filha de Cibele*, que também participava da reunião. A jovem de 21 anos, que cresceu enfrentando as recaídas e a doença do pai em casa, faz um alerta: “Sofro muito. Tenho muita angústia e vivo uma crise emocional imensa. Ao mesmo tempo em que você ama, você detesta a pessoa. E o pior: vejo que aqui nesta sala e nas ruas está cada vez maior o número de pessoas doentes com o vício. Daqui um tempo todo mundo vai ter que passar pelo mesmo drama que vivemos se a sociedade não acordar” (*nomes trocados para preservar o anonimato do grupo).
Para Gonçalo Agnolon, 45 anos, consultor e conselheiro em dependência química há mais de 19, o Estado precisa olhar com mais atenção para a questão da adicção. Ele também acredita que existe uma crescente epidemia da dependência química em Mato Grosso, pois ele mesmo se considera um dependente químico em recuperação e por isso fala da questão a partir da própria história.
Depois de usar cocaína por anos durante a juventude, ele só parou de consumir drogas com o apoio da família e após ser internado em uma clínica no interior de São Paulo, em Bragança Paulista. Foi quando decidiu montar uma instituição de tratamento em Mato Grosso, em 2002, a clínica Limiar, para aplicar o mesmo método que o salvou. O tratamento aqui ainda seguia moldes antiquados, com base apenas na medicação e sem terapia e outras atividades de apoio.
Gonçalo acabou fechando a clínica há poucos anos, devido à dificuldade de encontrar pacientes por questões como as internações obrigatórias pedidas por muitas famílias. Para ele, um erro grave a ser evitado. E ele sabe do que fala.
A história de Gonçalo com as drogas foi semelhante à de muitos usuários – começou com o álcool, passou pela cocaína e chegou na pasta-base. “Foi aí que eu entrei no fundo do poço. O poder de vício e o consumo são muito maiores. A obsessão pelo uso é muito grande”.
Em recuperação há duas décadas, ele é um exemplo de que é possível sim vencer a adicção, mas o primeiro passo da jornada é assumir que ela existe e a própria incapacidade para lidar com ela. “Dependência química é uma doença, logo, estou em tratamento. Não uso nenhum tipo de droga, porque desencadeia no organismo a compulsão. Hoje, a sociedade é muito tolerante com o álcool. Até os pais estimulam o uso entre os filhos. Eles não percebem o mal que fazem”, afirma.
Hoje, o trabalho de Gonçalo é prestar apoio às famílias de adictos e aos próprios doentes que buscam formas de se voltar para uma vida saudável em sociedade. “É difícil, mas não impossível. A pessoa precisa querer. Em 16 anos, vi muitas e muitas pessoas que conseguiram voltar para a sociedade. Tem gente que chegou lá e não era nada e hoje é psicólogo e advogado”, conta.
Outro exemplo de que é possível sim domar o vício vem do estudante Raul Lázaro dos Santos, 35 anos. Ele chegou a viver nas ruas por mais de uma década após se viciar em pasta-base. Sobrevivendo de pequenos bicos e furtos, Raul foi esquecido por seus familiares e amigos.
“Eu passei no Beco do Candeeiro para comprar a droga que eu usava (maconha) e não tinha. Daí o cara me ofereceu a pasta-base para experimentar. Acabou que eu fiquei lá. Não saí. Foram doze anos ali, consumindo aquela droga. Até a roupa nova que tinha comigo eu deixei no local”, expõe.
Raul conta diariamente o tempo que passa livre do vício, são 2.799 dias, ou 91 meses, sem nenhuma droga. Sua saída do labirinto aconteceu com o apoio da sua atual companheira. “Ela literalmente me salvou, me ajudou a encontrar uma clínica e a me internar. Foi quando comecei a minha desintoxicação. Só aconteceu porque tive um chamado de Deus, que me deu forças para me limpar”, conta. Antes dessa limpeza, ele acreditava que iria morrer consumindo pasta-base nas ruas de Cuiabá.
"Eu estava perto da casa da minha mãe, na região do CPA, na noia da droga. Foi quando vi que um cara vinha me executar mas, por algum milagre, acabou não fazendo”, diz. “Ali eu vi que iria morrer se não parasse; foi quando busquei ajuda”.
Raul hoje executa um projeto para ajudar outros usuários a saírem das ruas. Para ele, muitos também podem repetir a sua história e de outros que se limparam (limpar é o termo usado pelos adictos em recuperação que conseguem vencer o vício e se manterem longe das drogas).
Todo ano ele promove o show Hip Hop Combate as Drogas, com atrações nacionais e locais para pontos como a Praça do Porto e a Orla do Porto. O evento este ano vai acontecer em maio, no Beco do Candeeiro, com a mensagem “Fé, Força e Esperança”. O show busca encontrar entre os usuários que vivem nas ruas de Cuiabá pessoas que queiram ajuda para vencer o vício.
“Quero dar apoio como deram pra mim. A proposta do meu projeto é essa, falar com essas pessoas que não têm ninguém mesmo”, conta Raul. “A adicção é uma doença muito cruel, ela faz você matar, roubar, se prostituir. Mas é possível sim vencê-la e eu uso a minha história como uma bandeira disso”, diz.
Tanto Raul quanto Gonçalo afirmam que o governo deveria investir mais em ações de prevenção. “Ninguém fala de drogas nas escolas. Eu mesmo era um bobo. Não sabia de nada. Usei droga para me enturmar com as garotas e rapazes descolados. Se soubesse das consequências, eu nunca teria usado. Hoje, tenho várias deficiências, atrasei a minha vida. Faltou conscientização”, diz Raul.
Para Gonçalo, existe um tabu em se tratar o tema drogas em Cuiabá. “É como se fosse um problema das classes sociais baixas. Mas eu, como alguém que trabalha com dependentes químicos, afirmo: não há classe social para adicção. As escolas deveriam fazer um programa de conscientização desde cedo e o próprio governo deveria olhar isso com muita atenção. Depois que a pessoa está na rua, é muito mais difícil reverter”.
A arte-terapeuta Zenaide Camargo, 59 anos, e que atua há quase duas décadas na Unidade 3, do Centro Integrado de Apoio Psicossocial (Ciaps) Adauto Botelho, também relata a dificuldade de os pacientes retomarem suas vidas. Entre os quadros pintados por seus pacientes, na sala de artes, Zenaide explica que muitos têm habilidades que infelizmente nunca serão exploradas pela sociedade, pois foram roubadas pelo vício. “Os desenhos são dignos de muitos artistas contemporâneos mato-grossenses, mas a droga praticamente anulou a vida dessas pessoas a tal ponto que esse talento foi embaçado”.
A dificuldade em encontrar tratamento nas redes públicas é outro empecilho para os adictos no Estado.
Os caminhos da recuperação
Mato Grosso inteiro dispõe de um único centro de internação para dependentes químicos – álcool e drogas ilícitas – e ele conta com somente 50 leitos, 20 dos quais estão em reforma, abrigando hoje 21 internos do sexo masculino, com 11 outros nomes na fila de espera. As idades variam entre os 18 e os 58 anos.
Além de obviamente não dar conta da demanda, lá não podem ser internadas mulheres. Não há, aliás, sequer uma unidade destinada a elas. “Isso é obviamente um problema social muito grave”, lembra o clínico geral Vinícius Sandrini e Silva, um dos médicos lotados na unidade. Lá, uma construção de cerca 535m2 abriga várias alas terapêuticas, cozinha, quadra de esportes, uma sala de arte-terapia.
Todos chegam lá por demanda espontânea ou encaminhada por várias áreas, como saúde, trabalho, escola ou justiça. “Seguimos as etapas de acolhimento com avaliação e diagnóstico. As famílias podem procurar o serviço aberto dos Caps (são mais de 40 no estado) ou o serviço básico. Se houver necessidade ambulatorial, a pessoa vem para o nosso serviço”, explica o ex-diretor-geral do Hospital Adauto Botelho, João Botelho, um contador de 59 anos que começou seu trabalho em gestão hospitalar no Pronto-Socorro de Várzea Grande. De lá, foi para a unidade 1 do Adauto Botelho, localizada próximo ao bairro Coophema, em 2001.
Naqueles tempos, não havia separação entre pessoas portadoras de transtornos mentais dos dependentes químicos. Isso, infelizmente, ainda acontece com as mulheres. Por não haver uma unidade delas, são internadas junto com a ala feminina da matriz do Adauto Botelho, destinada ao tratamento de doenças mentais.
No caso dos homens, isso só acontece se eles coincidem, devido ao tempo de uso ou à preexistência de uma condição ainda não diagnosticada, transtorno mental e consumo abusivo de drogas lícitas (álcool, remédios, solventes) ou ilícitas (cocaína, pasta-base, crack).
Para evitar que isso ocorra, equipes multidisciplinares, compostas de psicólogos, médicos clínicos-gerais e psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, educadores físicos e arte-terapeutas, designam juntos a modalidade terapêutica recomendada a cada paciente.
Só aos mais graves é recomendada a internação. E apenas por um breve período.
“Há um período de previsão para desintoxicação hospitalar avaliado caso a caso, mas a internação não pode ultrapassar um período superior a 45 dias”, explica o ex-diretor-geral do Adauto Botelho. Ele lembra a extensão territorial de Mato Grosso, com seus 141 municípios, e a dificuldade em lidar com o tráfico intenso de drogas por todo lado.
Somente em 2017, foram 400 atendimentos, mais ou menos o mesmo número de 2016, e isso só para casos de desintoxicação/internação. Some-se a isso que muitos dos profissionais da equipe multidisciplinar devem ficar na unidade 24 horas por dia, casos dos médicos e enfermeiros. Os 20 leitos desativados na unidade 3 fazem muita falta, portanto.
Devido a essa ausência do Estado, quem nada de braçada são as comunidades terapêuticas, muitas delas ligadas a igrejas neopentecostais. Mesmo pagas na maioria, ou diretamente ou através de trabalho compulsório dos internados, ajuda de custo das famílias ou recepção de doações das igrejas a que são ligados e até mesmo verbas governamentais, o tratamento não costuma ser o mais adequado nesses lugares, lembra a psicóloga Priscila Batistuta Nóbrega, especialista no auxílio a dependentes químicas há 15 anos.
“Não é falta de uma política pública de atendimento a eles, porque essa política pública existe, o que falta é interesse dos gestores do Estado em efetivar essa rede de atenção psicossocial”, argumenta Batistuta Nóbrega. “Dependência química não se trata só com medicação, porque não é derivada de um fator só. Nem é só social, nem é só genético ou produto do meio ou mental. É uma série de fatores e são um conjunto biopsicossocial”, explica o médico Sandrini e Silva.
Os vários talentos ali guardados explicitam bem tudo isso. Elivelton, um ajudante de serviços gerais de 39 anos, morador do bairro 7 de Maio, em Várzea Grande, dá razão às palavras dos especialistas de saúde. Artista nato, Elivelton compõe raps durante praticamente toda a condução da entrevista pelas alas do Ciaps Adauto Botelho III. Também desenha, pinta e é um dos mais aplicados no ateliê de arte-terapia.
Sorridente, só franze a testa quando lembra seu problema com álcool e pasta-base. “Comecei a beber aos 14 anos. A fumar base aos 20”, diz, olhando pra baixo. O excesso de álcool dá a ele o aspecto de um homem muito mais velho, além de um olhar de íris opaca e globo amarelado. Os anos no cachimbo levaram-lhe vários dentes e causam-lhe feridas.
O melhor caminho, para evitar que outros artistas, poetas, engenheiros e várias e várias outras profissões tenham pessoas e grandes profissionais cujas vidas sejam interrompidas pelo vício é a prevenção, muito mais que o tratamento. “Falar sobre drogas, nós precisamos conversar sobre as drogas, seus usos e malefícios nas escolas e em vários lugares. O prejuízo que traz à sociedade, à família, é muito grave. Temos que esclarecer as crianças porque elas vão ter contato com elas mesmo nas escolas mais elitizadas e exclusivas”, encerra o médico Vinícius. O traficante, afinal de contas, está sempre ali, ao alcance de qualquer um, à porta, no máximo à esquina. “É mais fácil comprar drogas do que pão”, conforme o artista Raul.
Políticas de combate às drogas
A prefeitura de Cuiabá reativou na última terça-feira (17) o Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas (Compod). A medida foi tomada depois de Cuiabá passar mais de um ano – desde o início da gestão Emanuel Pinheiro – sem nenhuma ação para auxiliar no tratamento de usuários de drogas.
O Compod será gerenciado pela Secretaria Municipal de Ordem Pública, liderada pelo coronel Leovaldo Sales. De acordo com a prefeitura, a reativação do Compod faz parte do plano de governo do prefeito para “aumentar as ações de prevenção, combate ao tráfico de drogas e reinserção social do usuário”.
Conforme a Secretaria Municipal de Ordem Pública, o conselho tem o objetivo de planejar, fiscalizar e auxiliar na execução de políticas públicas voltadas à prevenção e combate ao uso de drogas. Sem o conselho não era possível executar nenhuma política pública de combate no município, que enfrenta uma verdadeira epidemia de usuários de pasta-base.
Um dos fatos que chamaram a atenção na criação do conselho foi ele estar na Secretaria de Ordem Pública, tendo em vista que comumente esse tipo de atividade está relacionado à Saúde ou Assistência Social.
Para o secretário de Ordem Pública da capital, o fato de o conselho estar na pasta que impõe ações de comando e controle não afetará o seu desempenho. Ele justificou que a secretaria foi a escolhida para gerir o projeto, pois foi considerada com a maior condição para lidar com o tema.
“Penso que o objeto de intervenção não muda. O resultado pode ser produzido aqui, como na Secretaria de Saúde, como em qualquer outra secretaria, desde que haja participação de todos os conselheiros. Não vai ter uma predominância de ideia do segmento militar. Evidentemente, vai ser uma voz no conselho, mas não vejo nenhuma situação de ser menos ou mais no resultado disso, por estar aqui ou em qualquer outro lugar”, declarou ao Circuito Mato Grosso.
Sales pontuou que o conselho deverá fazer políticas de prevenção, de enfrentamento e de recuperação e inserção na sociedade. “Será um enfrentamento prático, no qual procuraremos nos alimentar de todas as informações, em todas as esferas do poder. Poderemos fazer um censo, para dimensionar o tamanho do problema, para que também possamos decidir sobre a intervenção, se será de acolhimento, de prevenção, se é de repressão”.
Apesar de o município ter passado mais de um ano sem políticas de combate e prevenção às drogas, o secretário de Ordem Pública afirma que o período foi necessário para que o Executivo Municipal pudesse desenvolver um trabalho melhor para a área. “O conselho é ativado agora porque hoje já temos esse conhecimento melhor da problemática. Já sabemos identificar os nossos parceiros. Já fizemos vários contatos, inclusive com o Poder Judiciário, no sentido de vir para o conselho”, disse.
Em relação ao orçamento, o secretário afirmou que o conselho ainda fará um levantamento de quanto o município dispõe em caixa para as ações. Anteriormente, o montante estava na pasta de Cultura, Esporte e Turismo da capital. “Ainda vamos fazer esse levantamento [para descobrir o montante de que o conselho dispõe]. Iremos utilizar o valor da melhor maneira possível. Ainda vamos realizar nossa primeira reunião de trabalho, depois iremos nos estruturar, eleger secretários e tesoureiros”, comentou.
Ele declarou que, além do que dispõe em caixa, o Compod buscará outros recursos para que possa aplicar suas ações. “Existem várias fontes [em que poderão obter recursos]. Uma delas é o Tribunal de Justiça. Lá existe um núcleo que pode nos trazer essa retaguarda [financeira]. Vamos utilizar todas as possibilidades que puderem trazer algum resultado positivo para o Compod. Temos que saber onde há esses recursos e vamos buscá-los”, pontuou.
Conforme apuração feita pelo jornal, o Compod funcionará com orçamento limitado. Isso porque nenhum centavo do Fundo Municipal de Política sobre Drogas foi executado para esse fim no ano passado. O ex-prefeito Mauro Mendes (PSB) deixou aprovado no Orçamento Municipal, em 2016, um valor de cerca de R$ 250 mil para o Fundo, porém conforme prestação de contas da prefeitura, aprovada no Tribunal de Contas do Estado, esse dinheiro não foi gasto. O montante, que estava sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, desapareceu do caixa, sendo desviado para outras finalidades consideradas prioritárias para a prefeitura.
Hoje, restam somente R$ 50 mil em caixa. Este montante é o que resta para ações concretas ainda no primeiro semestre de 2018. O valor, considerado baixo, será o maior desafio do Compod durante os primeiros meses de sua reativação. A expectativa é de que as ações do conselho sejam muito limitadas neste primeiro semestre.
Vício gera violência na região central
Um dos maiores problemas enfrentados na região central de Cuiabá é o grande número de usuários de drogas que transitam e vivem nas ruas da região. Para os comerciantes, eles são os responsáveis pelos roubos e furtos cotidianos.
A comerciante Maria Cândida Silva, membro do Conselho de Segurança Pública do Estado, afirmou que os proprietários de estabelecimentos comerciais no centro têm sofrido com a insegurança. “Uma loja é assaltada todos os dias. As pessoas sempre são roubadas ou furtadas. Há também muito assalto à mão armada. Isso tudo denigre a imagem do comércio”, diz Cândida, que possui um estabelecimento lá.
Para ela, há descaso do poder público com a região. “É uma situação delicada. O Estado e o município precisam agir, procurar medidas para ajudar esses usuários de crack, pois muitos deles já foram tão consumidos pelas drogas que nem respondem por si”.
Outro comerciante, que pediu para não ter a identidade revelada, relatou que os crimes na área central aumentaram nos últimos meses. “A situação tem ficado cada vez pior. Vejo muitos assaltos à mão armada, bolsas sendo levadas pelos criminosos, além de outros crimes. Muitos usuários de droga têm entrado nos estabelecimentos para roubar ou furtar. Está uma situação muito complicada”, relatou.
Secretário Municipal de Ordem Urbana, Leovaldo Sales afirmou que a prefeitura tem feito ações para coibir a criminalidade na região. “Fazemos limpeza nos locais onde há muitos usuários, como o Morro da Luz. Também estamos questionando alvarás de locais que funcionam como prostíbulos, mas que na fachada são como restaurantes ou bares”, explicou.
“O município não tem atribuição constitucional de fazer segurança pública. O que o município provê, por meio de um termo de cooperação com a Polícia Militar, é o policiamento naquilo que é do interesse do Executivo municipal. A prefeitura é uma força de apoio, não a instituição responsável pela segurança pública”, acrescentou.
Em relação aos usuários de drogas, Sales pontuou que a prefeitura, antes da criação do Compod, costumava fazer ações esporádicas. “Chegamos a fazer a assistência deles no local e fornecemos assistência médica quando preciso. Não temos um local específico para o acolhimento desse pessoal. Segundo o Poder Judiciário e alguns órgãos de defesa dos direitos humanos, aqueles que optaram por viver na rua, como no centro de Cuiabá, devem ter essa decisão respeitada”, concluiu.
O jornal solicitou que a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) repassasse dados referentes aos crimes que acontecem na região central de Cuiabá. No entanto, a pasta não respondeu à solicitação até o fechamento desta reportagem.