Opinião

As seitas políticas.

Há doenças que dão e passam, outras, após um período agudo, podem ficar crônicas.
Algumas saram, mas costumam deixar sequelas.


O Brasil nos últimos anos pegou duas sérias doenças políticas: a primeira, depois de
um período em que parecia ter sumido, reapareceu. Trata-se da esquerda que voltou
revitalizada e já causa danos na economia.


A outra (a extrema-direita), que nos assolou por algum tempo, prosperou em
consequência dos estragos de sua antecessora – a mesma esquerda que ressurgiu há
dois anos.


Ambas as doenças se nutrem de mentiras, alimentando e retroalimentando as
chamadas câmaras de eco, onde são potencializadas. Câmara de eco na física é o
ambiente fechado onde o som produzido é ouvido repetidamente, fazendo o ruído
original parecer mais potente do que de fato é.


Metaforicamente, mídias sociais e WhatsApp são câmaras onde as ideias circulam
somente entre os participantes e a cada interação ficam mais fortes. Ali não há espaço
para discórdias, pois todos buscam somente o viés de confirmação, reforçando o
pensamento dominante do grupo.


Assim, cada grupo, vivendo em seus universos paralelos, tal qual uma seita fanática,
acaba pensando da mesma forma e acreditando que os demais creem nos mesmos
valores e que o pensamento que desenvolvem é o único possível.


Não são como os partidos mais ao centro, que, a despeito das diferenças, mantêm
uma relação civilizada. Os militantes da extrema-direita e da esquerda mais parecem
torcedores de futebol, sempre dispostos ao confronto físico, se precisar.


O grande mal é que as pessoas passam a se alimentar politicamente somente nas suas
câmaras de eco, potencializadas por influenciadores digitais com seus posts e lives.


Viciados nestes textos sensacionalistas, terminam por ignorar e repudiar toda a
imprensa tradicional. Os próprios grupos doutrinam os participantes a rejeitarem
jornais, revistas, rádios e televisão, atribuindo-lhes a pecha de comprados, comunistas,
tendenciosos, etc.


Os dois universos paralelos (extremas direita e esquerda) compartilham a ideia de
combater a grande imprensa. O Lula, por exemplo, por muitos anos atribuiu ao
principal canal televisivo do país sua derrota para o Collor em 1989. O Bolsonaro,
durante todo o mandato, atacou a mesma rede de televisão que o Lula odeia e
desancava o maior jornal do País como sendo seus principais inimigos.


Os fanáticos sectários são ridículos na fila do “gargarejo” nos discursos do demiurgo de
esquerda, ou gritando “mito, mito” no palanque do “messias” da direita. Seus
“deuses” – mostrando um pouco da essência de que são feitos, esta semana
desmereceram as mulheres com frases inconvenientes. O primeiro, pretendendo ser galante, mas soando misógino, disse que nomeou uma “mulher bonita” como
interlocutora do governo, para facilitar acordos com os parlamentares.


O segundo, usando sua costumeira finesse, foi quase um poeta lírico: “as mulheres do
PT são feias e incomíveis”.


Pode ser que essas doenças um dia refluam, mas uma sequela já ficou. O ato de
informar-se seguramente através da imprensa profissional já está comprometido.


Renato de Paiva Pereira.

Foto Capa: Chat GPT

Renato Paiva

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