Quem viu o filme “Thor” sabe que a chamada ponte Bifrost é descrita pela namorada do deus do Trovão como sendo a ponte de Einstein-Rosen, sobrenome dos físicos Albert Einstein e Nathan Rosen que desenvolveram a teoria do chamado ‘wormhole’ ou Buraco de Minhoca. Os físicos acreditavam na possibilidade de ser possível se realizar viagens no tempo por meio de buracos no universo que atuam como portais que permitiriam o trânsito entre o futuro e passado, ou ligar duas regiões distantes do espaço. De forma simplificada, a teoria defende a possibilidade da viagem no tempo. Viu como quase sem querer você aprendeu astrofísica com uma forma de arte? Pois quem se interessa por essa ligação física e arte pode ver a representação de um desses chamados ‘wormholes’ neste sábado, último dia do FisicArte, evento gratuito e aberto ao público de todas as idades realizado pelo Instituto de Física da UFMT com apoio da Procev e que tem essa proposta. O evento vai das 14 às 21h.
Além do buraco de minhoca, outros tipos de artes ligadas à área astronômica também estão expostas ao lado de outras expressões artísticas para explicar as demais áreas da Física traduzidas, todas, pela arte, que, no caso do buraco de minhoca é uma instalação de rede do teto ao chão. No local, quem levar crianças de 5 a 10 anos pode deixá-los soltar a criatividade no ‘Ateliê Planetário’ onde monitores e muitas tintas vão deixar os pequenos soltarem a imaginação em pinturas de planetas.
Enquanto isso os pais podem conferir pelos corredores e outras salas, cartoons do artista e aluno Rodrigo Vinícius relativos ao tema Física e Arte e ainda exposição de desenhos, astrofotografia e fotos, como a Mostra “Espaço-tempo”, dos alunos de Física e fotógrafos: Vinícius Motta e Emanoele Daiane da Cruz. Todas as obras são autorais dos alunos de Física e visam entreter e propagar o conhecimento aos visitantes.
Desde sempre
Na abertura oficial que ocorreu ontem, os professores deram destaque à importância de popularizar o conhecimento da Física porque ela está presente no dia a dia de todos e com compreensão tudo fica mais fácil e a matéria fica sem a pecha de “difícil”, conforme lembrou um dos professores fundadores do Instituto de Física da UFMT, Abílio Fernandes Neto. “Quando fui professor aqui na UFMT a gente sempre criava uma situação para desmistificar a Física. Mostrar que não é aquela coisa difícil. A Física é o dia a dia da gente. Tudo que está numa sala é Física e tudo que veremos neste evento também é. O que falta é tirar aquele medo de que esta é uma área do conhecimento difícil, complicada e que não se gosta de Física. Isso também vai levar aos professores o desafio de mudar a metodologia do ensino. Hoje, ensinar Física entre quatro paredes é complicado porque o tablet e o celular estão aí desafiando os professores a ensinar de forma diferente. E quando vemos uma exposição como o FisicArte, vemos que a Física está muito além daquilo que a gente pensa”, complementou.
O coordenador do evento, professor-doutor Marcelo Marchiori, fez questão de frisar que o FisicArte não é um evento dele ou do Instituto, é um evento da sociedade porque, segundo ele, é nítido no convívio, principalmente com quem está fora da universidade, de que a ciência é algo que atrai o indíviduo, que há interesse pelas novidades e pelas descobertas, há curiosidade. “O que falta é um caminho de expressão de comunicação entre dois mundos que, em geral, não se dialogam. Eu gosto dessa manifestação, mas, mais do que isso eu gostaria que todos que estivessem aqui hoje tivessem a chance de compartilhar ao menos um pouquinho da magia do que de fato é entender, conhecer um pouco mais das regras do universo. As regras que regem o comportamento e a dinâmica das coisas. Então, é um prazer ver esse evento sendo feito praticamente do nada, com o valiosíssimo apoio da Procev que foi em todo momento muito solícita”, ressaltou.
Ele disse ainda que é óbvio que o evento também não teria saído sem a ajuda dos alunos, que, de diversas formas contribuíram executando e/ou produzindo material autoral. “Tudo que está em nosso corredor exposto é autoral. Então toda a conceituação das obras e idealização, tudo foi produzido por nós para que todos se sintam em casa”, finalizou.
Dentre os componentes da mesa estava também o professor-fundador do Instituto, João de Vasconcelos Coelho. Em seu discurso lembrou que a história da Arte e da Física começou na Grécia, com Pitágoras, quando este pegou um barbante e fez vibrar e depois dividindo o tamanho do barbante viu que a vibração era o dobro da anterior e assim conseguiu classificar as freqüências e daí surgiram as primeiras notas musicais. “Hoje, aqui, depois de dois mil anos estamos aqui conversando sobre Arte e Física que têm uma relação incrível uma com a outra. Posso dizer que a arte se divide em três estágios: o Tempo, da Física; Geometria Plana da arte, e Geometria no espaço volumétrico. Com o tempo, por exemplo, enquanto um cantor está cantando uma melodia a arte está ocorrendo e quando acaba a música acaba a arte porque acabou seu tempo. Ela, a melodia, só existe enquanto é executada. Na geometria plana, enquanto um pintor como Caravaggio, por exemplo, está preenchendo os espaços de uma tela com suas pinturas, ali está surgindo uma arte no plano. Então, nesse caso, o pintor morre, mas a arte dele ficou no tempo. Já em um espaço de três dimensões como foi o caso de Michelangelo com suas esculturas em mármore de carrara ele deixou sua arte no tempo e no espaço”, garantiu.
O professor salientou ainda que hoje temos diversas formas de fazer arte como o celular, que é um dos objetos que pode nos fazer voltar para o tempo e para a arte. “Mas a arte não para aí porque a música que escutamos no celular entra pelo tímpano que, com cada reentrância vibra de maneira diferente e nos faz escutar uma melodia. Se não fosse assim, não escutaríamos o que chamamos de música. E não para por aí, se apontarmos um telescópio para uma das galáxias vamos ouvir o som diferente que é o do universo. E isso é Física e Física é arte. Um dos maiores cientistas da humanidade, Albert Einstein, descansava tocando violino, portanto existe uma conexão entre a música e a obra do cientista”, salientou.
Como representante da reitora Myriam Serra, o coordenador do Procev, Fernando Tadeu de Miranda Borges foi outro que destacou a importância imprescindível da Física para a compreensão do mundo que nos cerca. “Com o evento o Instituto de Física abre mais um canal de interesse de jovens por essa formação que é uma formação que precisamos atender de todos os ângulos. A Física vai ser nossa salvação em um futuro próximo porque nós precisamos investigar mais a Astrofísica, os planetas, as relações para que possamos compreender esse mundo de partículas invisíveis, as relações da Terra e desse universo. Então por isso a Física tem que continuar sendo, sempre, a princesa dos olhos desta universidade Federal de Mato Grosso e para o Brasil conquistar mais desenvolvimento que traga bem estar e menos preocupação para as pessoas”, frisou.
A diretora do Instituto de Física, Iramaia de Paulo mostrou-se muito satisfeita com o projeto do FisicArte e tem interesse que o evento tenha ainda muitas outras edições. “Estou movida por sentimentos de ver este evento acontecer vendo o Marcelo (Marchiori) orquestrando tudo isso me engrandeceu profundamente enquanto professora, porque é importante demais a nossa capacidade de dar oportunidade de vivências e conhecimento aos nossos alunos. Se minha gestão se encerrasse agora eu estaria absolutamente realizada”, finalizou.
(Adriana Nascimento – Space News MT)