Pessoas caminham com velas e cartazes pedindo justiça pela morte do promotor Alberto Nisman (Foto: Eitan Abramovich/AFP)
Milhares de pessoas homenagearam nesta segunda-feira (18) na Argentina, com uma vigília e pedidos de justiça, o promotor Alberto Nisman, que morreu há um ano em circunstâncias ainda não esclarecidas, quatro dias depois de ter apresentado na época uma denúncia contra a então presidente Cristina Kirchner.
"Velas para Nisman" foi o nome do evento que reuniu em uma praça da cidade de Buenos Aires figuras da Justiça e da política do país, além de familiares e simpatizantes do promotor falecido.
O ato teve início com a leitura de uma carta das filhas do promotor e serviu como um pedido de justiça de parte da população argentina, que ainda procura esclarecer o quê aconteceu no dia 18 de janeiro de 2015, quando Nisman foi encontrado morto em sua residência com um tiro na cabeça, dias antes de comparecer ao Congresso para detalhar a denúncia contra Cristina Kirchner.
Após um ano da morte do promotor, as investigações não conseguiram esclarecer se se tratou de um suicídio ou de um homicídio. No entanto, Federico Casal, advogado das filhas de Nisman, disse hoje em entrevista à Agência Efe que a denúncia tem provas de que o promotor foi rendido e assassinado.
"Não temos nenhuma dúvida de que Alberto Nisman foi assassinado", garantiu de maneira contundente o advogado.
Para Casal, a morte de Nisman foi "uma ação planejada e executada com eficácia e complexidade própria de profissionais", por isso a defesa suspeita que os serviços de inteligência da Argentina e de outros países estejam envolvidos.
A morte do promotor, que investigava o atentado contra a associação israelita Amia, em Buenos Aires, cometido em 1994 e no qual morreram 85 pessoas, abalou a sociedade argentina no ano passado e gerou uma grave crise política.
Nisman foi encontrado morto apenas quatro dias após apresentar sua denúncia contra Cristina pelo suposto acobertamento dos iranianos suspeitos de estarem por trás do ataque, uma acusação baseada no memorando de entendimento assinado entre a Argentina e o Irã em 2013.
"Alguém ordenou a morte de Nisman antes que ele apresentasse suas provas no Congresso", comentou hoje o jornalista argentino Joaquín Morales Solá, um dos oradores na homenagem realizada em Buenos Aires.
A denúncia contra Cristina foi rejeitada na Justiça argentina no ano passado, mas, com a mudança de governo no país sul-americano, voltaram os pedidos para que o caso seja reaberto, especialmente após a declaração de inconstitucionalidade do memorando.
"O que é importante é que Nisman continue sendo uma chama que ilumine as reivindicações por verdade e justiça que nós argentinos temos que ter se queremos uma democracia de verdade", disse à Efe Graciela Römer, analista de opinião pública e que compareceu à homenagem.
"Temos que seguir pensando que uma Argentina melhor é possível, então, nós temos que apoiar", acrescentou, por sua vez, Gabriel Muñiz, outro presente ao evento.
O ato também contou com a vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti, assim como vários funcionários do Executivo de Mauricio Macri e da prefeitura de Buenos Aires, líderes da comunidade judaica no país e representantes de várias embaixadas.
Até o momento, o único acusado no caso pela morte de Nisman é Diego Lagomarsino, um técnico de informática que trabalhava com o promotor e era o proprietário da arma que acabou com sua vida.
Lagomarsino, que afirma "ter emprestado" ao promotor a pistola calibre 22 de onde saiu o disparo que provocou sua morte, defendeu hoje a hipótese de que Nisman "estava sozinho quando morreu".
"Não sei o que pode ter acontecido. Se ele se suicidou, é preciso saber se foi por motivação própria ou se ele foi forçado a fazê-lo", disse o técnico de informática em entrevista publicada hoje pelo site "Diez Sudacas".
Fonte: G1