Plantão Policial

Arcanjo é julgado por assassinato de empresários em 2012

Airton Marques – Da Redação / Ulisses Lalio – Da Reportagem

Considerado pelo promotor de Justiça Vinicius Gahyva, como um “réu de alta periculosidade”, o ex-comendador João Arcanjo Ribeiro chegou ao Fórum de Cuiabá na manhã desta quinta-feira (10) sob forte esquema de segurança. O ex-bicheiro está sendo julgado pela acusação de ser o mandante do assassinato de Rivelino Jacques Brunini, Fauzer Rachid Jaudy e pela tentativa de assassinato do pintor Gisleno Fernandes. O julgamento teve ínicio às 08h15min.

Cumprindo prisão no presídio federal de Porto Velho (RO) há seis anos, Arcanjo chegou a Penitenciaria Central do Estado, em Cuiabá, na manhã desta quarta-feira (09), onde fica até amanhã (11).

O promotor Vinicius Gahyva espera uma pena de no mínimo 50 anos para o ex-comendador. E a defesa, representada pelos advogados Zaid Arbid e Paulo Fabrini, alega não existirem provas da participação do réu no caso. 

Testemunha passa mal após ver Arcanjo de relance

As 14h, a quarta testemunha de acusação Joaci das Neves, ex-fuzileiro naval, pediu para que esvaziassem o auditório do Fórum para que ele pudesse depor. Joaci é uma das quatro testemunhas de acusação arroladas pelo promotor de justiça Vinicius Gahyva. 

A testemunha se sentiu mal quando entrou e viu Arcanjo saindo do auditório, por um breve instante eles se viram. Joaci ficou trêmulo e pediu água, contudo disse a juíza que não teria condições de depor naquela situação. “Estou com meu emocional abalado, por gentileza a senhora me dê alguns minutos para poder me recompor”, ele disse. 

A magistrada suspendeu o depoimento e deu uma pausa de 30 minutos na audiência. Ao retomar a oitiva pediu que todos deixassem o local – incluindo repórteres, familiares e os demais presentes – para colher seu depoimento.

Joaci disse que Arcanjo era o mandante do assassinato de Rivelino Brunini, com base em conversas que ouviu entre Célio Alves de Souza com o irmão dele, um policial militar – o depoimento foi dado ao Ministério Público Federal. Nessa conversa eles teriam dito que o autor dos disparos que mataram Rivelino, era o ex-cabo da PM Hércules de Araújo Agostinho.

 

Provas

Segundo o promotor de Justiça, Vinivius Gahyva, o Ministério Público tem provas suficientes para comprovar o envolvimento de Arcanjo no crime, que matou Rivelino e Fauzer.

"São várias apreensões. 29 volumes recheados de elementos de convicção, que foram suficientes para formar a opinião do Ministério Público, no sentido de que ação deve ser julgada como procedente", declarou a imprensa.

Testemunha de defesa

O detento Paulo Cesár Moura, o 'Paulo Cabeludo', é o terceiro a prestar depoimento. Ele é testemunha da defesa de Arcanjo. Conta a juíza que está preso – dessa vez –  por crime de roubo (artigo 157). Com logo histórico criminal, ele esteve preso com os pistoleiros da organização liderada por João Arcanjo, ex-policiais Célio Alves e Hércules Araújo. 

Paulo Cabeludo negou que tenha conhecimento sobre a autoria das mortes do empresário Sávio Brandão e do sargento José Jesus de Freitas. 

Nesse momento, ele disse que inventou inúmeras histórias e que todas elas não procedem. Disse que o ex-detento, Ronaldo César, também inventou inúmeras histórias sempre no intento de conseguir algum benefício da Justiça.

Segundo depoimento

A segunda testemunha, Ronaldo Sérgio Laurindo, começa a ser ouvido, após o intervalo para almoço (13h15min). Arcanjo volta a acompanhar os depoimentos no Tribunal do Júri.

Laurindo ficou preso (por crime de latrocínio) com o uruguaio Júlio Bachs (segundo homem na hierarquia de Arcanjo), por 18 dias. Ele afirma que soube do plano de 'Papai do Céu' (como Arcanjo era chamado) para matar Rivelino. O uruguaio chegou a comentar a ele, que o assassinato seria cometido, pois Rivelino falava demais.

Relato do filho

O filho de Rivelino, Ricardo Brunini, conversou com a impresa, que acompanha o desenrolar do Juri. Quando seu pai foi assassinado, em 2012, ele tinha 11 anos e declara que se sentiu indefeso sem a presença paterna. Com o julgamento de Arcanjo, Ricardo alega esperar a justiça e a condenação do ex-bicheiro.

"A nossa expectativa é que a impunidade não reine no nosso país. Esperamos que ele seja condenado com a pena máxima, para que possamos passar uma segurança jurídica para o país. Meu pai sempre falava ‘se perder a guarda dos meus filhos eu perdi a minha vida. Vou entregar todo mundo, vou falar tudo’. Ele era mais que um pai, um superpai. Estava presente em todos os momentos", relatou Ricardo Brunini. 

Advogado de defesa

O advogado de João Arcanjo, Paulo Fabrini, afirmou que o depoimento da irmã de Rivelino Brunini foi feito em cima de relatos que foram contados a ela, Raquel Brunini, e não fatos presenciados.

“Trata-se da irmã da vítima, obviamente foi um depoimento muito cheio de emoções. Mas a verdade é que, o que a Raquel sabe é o que ela ouviu falar, não o que presenciou. Ela tem a convicção dela, algo que a gente não pode mudar. O que tem que ser feito é as provas dos altos serem analisadas. A gente não tem a menor duvida na absolvição de Arcanjo. Esperamos que seja feita a justiça", afirmou Fabrini, após o depoimento de Raquel.

O advogado ainda afirmou que Arcanjo é inocente. "A questão do Arcanjo não é processual, e sim um mito que se criou em doze anos em que ele está preso. De que ele fez, aconteceu e mandou. Esse é o grande trabalho da defesa, acabar com esse mito e mostrar realmente quem é o homem e as provas que existem nos altos".

Irmã da vítima

A primeira das dez testemunhas previstas para prestar depoimento no Tribunal do Júri, na Comarca de Cuiabá, é a irmã de Rivelino, Raquel Spadoni Brunini.

Antes de começar seu depoimento, Raquel solicitou a retirada do réu, por se sentir coagida por Arcanjo. A depoente relatou que há 12 anos mora fora do país, por temer o ex-bicheiro.

Segundo Raquel, Rivelino começou a trabalhar com máquinas caça-níqueis em 2000, em parceria com vizinhos da casa de praia que a família possuía no município de Cabo Frio (RJ). Eles fecharam um negócio para trazer cerca de mil máquinas para Mato Grosso, mas toda a operação teria que ser autorizada por João Arcanjo.

A testemunha garantiu que "na época, Arcanjo tinha o poder no Estado de Mato Grosso, no Judiciário, tudo passava por ele". Contando mais detalhes de como funcionava a ação no estado, Raquel relatou que para o aval de Arcanjo, era necessário o pagamento de R$ 200 por cada máquina caça-níquel por mês.

De acordo a testemunha de acusação, as máquinas foram distribuídas a vários bicheiros, que operavam em regiões diferentes. Após uma série de roubos de maquinas e disputas pelo dinheiro envolvido, levou ao surgimento de intrigas entre eles.

Endividado, Rivelino teve as suas máquinas caça-níquelsconfiscadas por Arcanjo. Raquel ainda relatou que seu irmão chegou a fugir para Poxoréu, onde ficou na casa de uma tia. 

Após a morte de um integrante do braço armado de Arcanjo, o sargento Jesus, Rivelino teria confessado a sua irmã o medo de ser assassinado.

Acusação

Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), Rivelino Jacques Brunini era sócio da empresa Mundial Games, concessionária de máquinas caça-níqueis da organização criminosa chefiada por Arcanjo, que explorava com exclusividade o ramo de jogos eletrônicos em Mato Grosso. Mesmo assim, segundo o MPE, Brunini associou-se a um grupo do Rio de Janeiro, que pretendia acabar com o monopólio no Estado. Essa seria a motivação do crime. Fauze Rachid Jaudy e o pintor Gisleno não eram alvos, no entanto, foram atingidos.

De acordo com o processo código 139220, as vítimas estavam em uma oficina mecânica quando foram surpreendidas por Hércules Araújo Agostinho, que se aproximou em uma motocicleta e efetuou disparos contra todos usando uma arma de fogo 9mm. Enquanto Hércules atirava, Célio Alves de Souza lhe dava cobertura. Nas imediações ainda estavam Júlio Bachs Mayada (uruguaio responsável por instalar maquinas caça-níqueis em Mato Grosso) e Frederico Carlos Lepesteur.

Fauze foi atingido por sete tiros e morreu na hora. Os outros dois receberam apenas um disparo cada. Hércules Agostinho teve o processo desmembrado, foi julgado e condenado a 45 anos de prisão pelos crimes, em 2012. Frederico Lepesteur faleceu no curso do processo e por isso teve a punibilidade extinta. 

O julgamento de Arcanjo estava previstos para o dia 30 de julho. Porém, o advogado de defesa pediu desmembramento do caso.

Última atualização 15h04min.

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