O empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf, pretou novo depoimento ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), sobre desdobramentos das investigações da Operação Rêmora, que apura fraudes a licitações e cobrança ilegal de propinas de empresários que tinham contrato de prestação de serviços na Secretaria de Estado de Educação (Seduc).
Ele chegou por volta das 14 horas acompanhado de seu advogado, Huendel Rolim, e de um assessor de imprensa. Sem falar com os jornalistas em sua chegada, Alan ficou na sede do Gaeco por cerca de 40 minutos e saiu por um local longe do alcance dos jornalistas.
Apenas seu advogado falou a imprensa. De acordo com Rolim, o processo está sob sigilo de Justiça e o Gaeco não teria permitido que seu cliente falasse sobre os fatos.
Alan é acusado de integrar organização criminosa e de ter praticado corrupção passiva por 19 vezes.
O novo depoimento de Alan ocorre um dia após ele se tornar réu em ação penal, por determinação da juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, que aceitou denuncia do Gaeco, referente a 3ª fase da Operação.
De acordo com o promotor de Justiça Carlos Roberto Zarour César a nova intimação de Alan servirá para tentar esclarecer novos fatos que surgiram, após os interrogatórios dos réus da ação penal derivada das duas primeiras fazes da Rêmora.
“São fatos investigados em desdobramentos da Operação Rêmora. Ainda são as práticas de corrupção existentes na Seduc. A investigação partiu de novos documentos apresentados pelo empresário Ricardo Sguarezi [dono da Aroeira Construções], no dia do comparecimento ao juízo. Foi feito o compartilhamento de provas com o Gaeco”, explicou o promotor.
Segundo Zarour, tais documentos e interrogatórios podem ocasionar novas fases da operação, assim como novos indiciamentos e ações penais.
“Sim, podem surgir novas fases e novos indiciamentos envolvendo pessoas sem foro. Hoje ele [Alan] vem como investigado”, disse.
Veja imagens do momento da chegada de Alan Malouf ao Gaeco:
Sem delação
O advogado de Alan negou que os boatos de que o empresário estaria firmando um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Estadual (MPE) seja verdadeira.
"Nós estamos trabalhando para constituir a defesa dele no processo. Alan irá comparecer a todos os atos do processo e a delação não foi cogitada", declarou.
Rolim ainda declarou que seu cliente não foi notificado sobre a decisão da juíza Selma Arruda, que aceitou a denúncia do Gaeco.
"Dentro do processo nós vamos apresentar os argumentos para combater as acusações. Se for exigido algum ressarcimento, o Alan já colocou seu patrimônio à disposição para que isso seja feito", afirmou.
Depoimento
O primeiro depoimento ao Gaeco sobre as investigações da Rêmora foi feito no dia 16 de dezembro, dias após Alan ter sido preso na deflagração da 3ª fase da operação – ele foi solto no dia 24 de dezembro, por decisão da juíza plantonista, Maria Rosi Meira Borba, do Fórum de Cuiabá.
Aos promotores de Justiça, o empresário confirmou que ajudou o governador Pedro Taques (PSDB) a pagar por débitos não declarados de sua campanha eleitoral, em 2014.
Ainda em seu depoimento, Alan disse que foi procurado pelo delator e empresário Giovani Guizardi, que é casado com sua prima Jamille Grunwaldi, que lhe relatou a ocorrência de um esquema na Seduc, com envolvimento de empresários do setor da construção e servidores da pasta.
O empresário também confessou que recebeu aproximadamente R$ 260 mil do esquema na Seduc, diretamente de Giovani Guizardi.
“Recebi o valor em três ou quatro vezes, por meio de envelopes contendo dinheiro que foram entregues em minha residência ou nas dependências da minha empresa”, afirmou.
Veja as declarações do advogado de Alan Malouf, Huendel Rolim:
Ex-servidor da Seduc também presta depoimentos, mas não fala com a imprensa
Após a passagem rápida de Alan Malouf pelo Gaeco, o ex-servidor da Seduc, Wander Luiz dos Reis, chegou a sede do órgão com uma antecedência de 20 minutos para prestar depoimento.
Acompanhado do advogado, Wander não quis falar com a imprensa presente, no entanto respondeu positivamento quando foi questionado se iria responder aos questionamentos dos promotores.
Wander era servidor efetivo e é acusado de integrar o esquema de direcionamento de licitações para obras de reformas de escolas da rede pública estadual.
Segundo o organograma esboçado pelo Ministério Público, o ex-servidor atuava no núcleo de agentes públicos, que era responsável por facilitar o acesso dos empreiteiros aos contratos administrativos da Seduc. "Através da colocação de informações sobre licitações cujo edital de abertura sequer foi publicado ao dispor deles”, aponta a denúncia.
Na denúncia, os integrantes deste núcleo, ao qual Wander estaria incluso, agiam internamente interferindo nos certames licitatórios a fim de assegurar que os empresários ligados ao grupo se sagressem vencedores.
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