De acordo com o inquérito da polícia, Odilaine cometeu suicídio com um tiro na boca dentro do consultório do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, no dia 10 de fevereiro de 2010. No documento, consta que ela comprou um revólver calibre 38 pouco antes de ir à clinica. Além disso, também há o registro de um bilhete em que a secretária do médico, Andressa Wagner, entregaria ao patrão, alertando sobre a chegada de Odilaine. O processo conta com depoimentos de testemunhas que estavam na sala de espera no dia da morte e com documentos referentes a uma possível divisão da pensão a ser paga após o processo de separação do casal.
Ao voltar a questionar o inquérito nesta sexta-feira (2) mediante a análise de laudos periciais, o advogado da avó materna de Bernardo também avaliou que a polícia teria ignorado informações sobre o percurso da bala que matou Odilaine. "A perícia diz que a perfuração do pálato (céu da boca) superior esquerdo se deu de baixo para cima indo à direção esquerda do crânio. Fazer isso com a mão esquerda, em tese, é humanamente impossível", avaliou o defensor, em entrevista ao G1.
Para Taborda, contudo, o dado mais relevante para provocar a reabertura da investigação seria a identificação de resquícios de pólvora na mão esquerda. "O exame residual refere duas coisas: ela poderia estar com a mão próxima da arma ou poderia estar fazendo movimento de defesa. Ela não era canhota e sim, destra. E o laudo diz de forma categórica que pode ter sido outra [pessoa] ou uma reação de defesa. O laudo diz isso", enfatizou.
Taborda listou outras duas informações que, segundo ele, constam no inquérito e poderiam gerar uma reviravolta no caso: documentos apontam para a existência de uma informação anônima, vinda de alguém com voz de mulher, que teria o objetivo de direcionar a investigação. Além disso, o acesso ao inquérito lhe permitiu concluir que o caso foi encerrado antes da chegada de laudos da perícia.
Procurada pelo G1, a delegada Caroline Bamberg Machado, que investiga a morte de Bernardo e atuou no caso de Odilaine, em 2010, se mostrou irritada com os questionamentos do advogado. “Não vou discutir o inquérito. Ele pode falar o que quiser. Eu não tenho motivo nenhum pra acobertar uma morte. Não vou discutir isso. Isso foi pra esfera judicial e depois de quatro anos vem falar. Pergunta para ele [o advogado] por que ficou tanto tempo sem falar nada".
Questionada sobre o laudo que indicaria presença de pólvora na mão esquerda, a delegada relatou não recordar dos detalhes. "Eu teria que rever tudo. Mas essa é minha posição: não irei tocar nesse assunto".
A possibilidade de um pedido de reabertura do inquérito já vem sendo ventilada pela defesa da avó de Bernardo, Jussara Uglione, de 74 anos, desde o mês passado. Logo após o corpo do menino ser achado, provocando a prisão do pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, a madrasta dele, Graciele Ugulini e da assistente social Edelvania Wirganovicz, Jussara afirmou em entrevistas que a mãe de Bernardo, não teria coragem e perfil para se matar.
Segundo testemunhas, a morte de Odilaine mudou o rumo da vida de Bernardo, que passou a buscar amparo e carinho com vizinhos e pessoas próximas à família.
Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.
G1