O governador Pedro Taques (PSDB) e o secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, anunciaram nesta sexta-feira (23) a substituição do comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso.
O coronel Marcos Vieira da Cunha vai assumir o Comando-Geral da PM no lugar do coronel Jorge Luiz de Magalhães, que estava na função desde abril de 2016.
A confirmação da troca da PM ocorre após rumores de que a Justiça teria decretado a prisão preventiva dos secretários Evandro Alexandre Ferraz Lesco (Casa Militar) e Airton Benedito Siqueira Júnior (Justiça e Direitos Humanos), por suposto envolvimento no esquema. O Executivo, por meio do Gabinete de Estado de Comunicação (Gcom-MT), negou as prisões.
A saída do coronel Magalhães tem relação com o vazamento de informações sigilosas, no âmbito do inquérito e ação judicial que investiga a existência de suposta central de interceptações telefônicas ilegais evolvendo membros da Polícia Militar e Palácio Paiaguás.
De acordo com documento elaborado pelo governador e encaminha ao desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) – responsável pela condução da ação -, na manhã desta sexta-feira (23), os secretários Lesco, José Adolpho de Lima Avelino Vieira (Casa Civil), e Airton Siqueira, foram abordados, no gabinete da Casa Militar pelo coronel Alexandre Corrêa Mendes e pelo tenente-coronel Victor Paulo Fortes Pereira, respectivamente corregedor-geral e diretor da PM (veja documento abaixo).
Na abordagem, o corregedor-geral e diretor teriam orientados os secretários a se prepararem, pois eles haviam sido chamados pelo coronel Jorge Catarino de Moraes, encarregado do Inquérito que apura os grampos no Estado, para a realização de uma operação, com mandados de prisão e busca e apreensão, tendo como alvos a Casa Militar e servidores do local.
No documento, Taques diz que “por não compactuar com vazamentos de informações sigilosas, quebra de segredo de justiça e cometimento de crimes, pois, no mínimo, e, em tese, o corregedor e o oficial cometeram os delitos de quebra de sigilo de informações”.
Troca
A troca será oficializada na segunda-feira (26), em solenidade no Comando Geral da Polícia Militar, em Cuiabá.
Coronel Cunha tem 44 anos, dos quais 25 foram dedicados à Polícia Militar. Ele ingressou na instituição como soldado e fez carreira até chegar ao posto de coronel, em setembro de 2016. Durante 19 anos, coronel Marcos Vieira da Cunha atuou no interior do Estado.
O governador Pedro Taques e o secretário Rogers Jarbas agradeceram o trabalho desenvolvido pelo coronel Jorge Magalhães, que já foi comunicado pessoalmente da mudança, no período em que atuou à frente da instituição no Estado.
Arapongagem em MT
A existência de suposta central clandestina de grampos telefônicos em Mato Grosso veio à tona no 11 de maio, quando o governo do Estado anunciou a exoneração do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Sua saída foi anunciada como um acordo entre Paulo e seu primo, o governador Pedro Taques, para que o homem forte do Executivo deixasse o Palácio Paiaguás e cuidasse pessoalmente das investigações envolvendo a suposta “arapongagem”.
No dia 23 de maio, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada em Crimes Militares de Cuiabá, determinou a prisão preventiva do ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa, que teria atuado não só como mandante, mas como o responsável por manter contato pessoal com magistrados para viabilizar a quebra de sigilo telefônico ilegal em Mato Grosso.
O cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Golveia Junior – integrante do Núcleo de Inteligência da PM e teria assinado alguns pedidos de grampos à Justiça -, também foi preso.
O caso até então investigada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), após denúncia do ex-secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), o promotor de Justiça Mauro Zaque, apontou que membros da Polícia Militar aproveitaram uma investigação relacionada ao tráfico de drogas na região de Cáceres (177 km de Cuiabá), para inserir números telefônicos de políticos adversários ao governo, médicos, advogados, jornalistas, servidores públicos e até desembargador aposentado de Mato Grosso, em um pedido de quebra de sigilo.
O requerimento para as interceptações teria sido encaminhado ao MPE, que por sua vez formalizou a solicitação à Justiça estadual. A autorização teria partido do juiz Jorge Alexandre Martins Ferreira, que não teria tido conhecimento de que nem todos os números relacionados pela PM estavam relacionados com o crime tratado no processo.
As escutas ilegais teriam começado no período das eleições de 2014, quando Silval Barbosa (PMDB) ainda era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas.
Segundo a denúncia, o esquema de escuta teria o envolvimento direto de pelo menos três policiais militares: os cabos Gerson Luiz Ferreira e Clayton Dorileo Rosa de Barros, e a sargento Andrea Pereira de Moura Cardoso.
Até o momento, o que se sabe é que os contatos supostamente inseridos de forma criminosa foram: a deputada Janaina Riva (PMDB); o advogado eleitoral José do Patrocínio; o jornalista José Marcondes dos Santos “Muvuca”; o atual secretário municipal de Trabalho e Desenvolvimento Humano de Cuiabá, Vinicius Hugueney (PP); o assessor do deputado Wagner Ramos (PR) Eduardo Gomes Silva Filho; o assessor especial da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) Romeu Rodrigues da Silva; a jornalista Larissa Malheiros Batista; Kely Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro; os servidores da Assembleia Legislativa Mario Edmundo Costa Marques e Carlinhos Bergamasco (já falecido); o desembargador aposentado José Ferreira Leite; e a gerente de Inteligência e Contra-Inteligência da Casa Militar, Claudia Rodrigues de Gusmão.
A lista de grampeados é composta, até mesmo, por uma empresária que teria tido um relacionamento amoroso com o ex-secretário-chefe da Casa Civil Paulo Taques, Tatiane Sangalli.
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