Era mais uma noite de sábado de plantão na cidade de Ipiaú (BA). Mas a mineira Iara Brandão, de 26 anos, teria uma emergência a mais para resolver e que nada tinha a ver com sua formação médica. Ao ser informada de que alguém havia batido em seu carro, estacionado em frente à clínica onde estava trabalhando, Iara foi conferir o que havia ocorrido. E qual não foi a surpresa ao chegar à cena do acidente, acompanhada de um funcionário do hospital.
Iara foi recebida com ofensas pelo rapaz que havia colidido com seu veículo, chamada de “preta”, “pobre”, “feia” e “baixinha”. O funcionário que acompanhava a médica também foi agredido com termos de cunho racista.
Em seu perfil no Facebook, Iara desabafou.
A médica confidenciou mais alguns detalhes sobre o ocorrido.
— O rapaz estava completamente descontrolado, visivelmente embriagado. Mesmo com a chegada da polícia, não se conteve. Xingou os policiais e até depredou a viatura — conta.
Ao chegarem à Delegacia de Polícia Regional de Ipiaú, Iara foi surpreendida pela abordagem de José Raimundo Lima, pai do agressor, Alighieri Estevão Lima.
— Ele me pediu desculpas, contextualizou a história do filho, que seria uma pessoa de temperamento difícil, com tendência à depressão e bipolaridade e que não se medicava de forma correta. Fiquei muito sensibilizada com o depoimento dele, mas decidi manter o boletim de ocorrência — comenta a médica.
Posteriormente, Iara ainda foi surpreendida por um pedido de perdão público, escrito por José Raimundo no post que ela havia feito no Facebook. “Defendemos o RESPEITO por todos, independete de cor, tendência sexual, beleza, altura, religião, pois essas características não diferenciam as pessoas em superiores ou inferiores. O caráter sim! Meu filho faz uso de medicamentos para depressão e quando ingere álcool, às vezes, parece sofrer um "surto psicótico" e comete atos que ele mesmo condena com veemência”, escreve José Raimundo, em um trecho do seu post.
— Decidi não processá-lo, muito por conta da situação em que este rapaz se encontra, digna de pena. Muito também pelos meus pais, que pediram para que eu refletisse com mais calma — revela.
Liberado pelo delegado Ivan Lessa após pagamento de fiança (dois salários mínimos), Alighieri, no entanto, será indiciado por injúria racial, dano ao patrimônio público e por conduzir veículo sob efeito de substância alcoólica. Agora caberá à Justiça traçar o destino do rapaz, independentemente do perdão de Iara.
Fonte: G1