“Tomamos conhecimento de que a área teria sido reservada para o projeto Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. Se isso for verdade, muda todo o cenário. Isso nos preocupa em definir” diz Apurinã. As outras duas opções de terrenos são na zona norte: um terreno em Bonsucesso e outro na Quinta da Boa Vista.
Andrea Sepulveda, subsecretária de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro e responsável pelas tratativas junto aos índios, afirma que o boato de que o terreno esteja empenhado para outro projeto não preocupa e que, para dar andamento ao processo de construção do Centro de Referência, que passa por licitação e trâmites burocráticos, basta exclusivamente o consenso dos índios.
“A construção depende unicamente da decisão deles. Assim que eles sinalizarem qual área será escolhida, passaremos para as reuniões que definirão as plantas, para a verificação do orçamento, para a licitação das obras e, por fim, ao processo de construção do Centro de Referência”.
Mas obter consenso entre os índios parece não ser uma tarefa muito simples. Quando ainda viviam na Aldeia Maracanã, a casa contava, de acordo com Dauapuri, um dos líderes da tribo, com 22 moradores fixos.
Só que desses 22 moradores apenas 12 foram para Jacarepaguá. Com a saída da Aldeia Maracanã o grupo se dividiu entre quem conversaria com o governo e buscaria soluções para a construção do Centro de Referência e os dissidentes, que se aliaram aos manifestantes e boicotam qualquer tipo de negociação.
A ação dos manifestantes no dia da saída da Aldeia Maracanã e o comportamento da ala indígena rebelde foram duramente criticados por Xamakiry Apurinã. Ele considerou que os índios foram convencidos por argumentos que serão prejudiciais no longo prazo.
“O comportamento dos manifestantes em nada nos ajudou. Pelo contrário! Só nos prejudicou! Eles não analisaram a nossa causa. Eles tinham os motivos deles para protestarem e usaram da nossa situação para se promoverem. Não pensaram em nenhum momento na gente. E ainda tivemos alguns índios que moravam na casa e que compraram a ideia de não sair de lá de jeito nenhum. Isso só prejudicou e ainda nos prejudica para definirmos as coisas”, argumentou Xamakiry, que ainda afirmou não saber onde estão alojados os dez dissidentes.
Boa estrutura em alojamento em Jacarepaguá
Com uma grande área verde ao redor e ótima recepção pelos moradores vizinhos, o período que os índios estão passando não é encarado como um martírio. Muito pelo contrário.
A estrutura oferecida aos indígenas inclui contêineres para os quartos, banheiros e cozinha. Os casais têm seus quartos separados e os demais ficam em um quarto coletivo – com exceção ao Cacique Tukano, que tem um quarto só para si. Todos contêm camas, ventiladores e alguns móveis. A cozinha tem geladeira, fogão e utensílios domésticos. Há banheiros masculino e feminino em contêineres exclusivos e mais um apenas com chuveiros.
Além de toda infraestrutura física, os índios também recebem cestas básicas e podem trabalhar tranquilamente na produção de seus artesanatos cuja venda é sua principal fonte de renda.
Requisição de área central para venda de artesanatos
A posição estratégica da Aldeia Maracanã, próxima de áreas centrais do Rio de Janeiro, fazia com que os índios pudessem produzir seus artesanatos e escoassem, de maneira fácil, de acordo com o índio Dauapuri, seus produtos como colares, arco e flechas, entre outros.
Mas o fato de ter o Centro de Referência da Cultura do Povo Indígena cravado em Jacarepaguá, uma zona não tão próxima ao centro do Rio de Janeiro como a Aldeia Maracanã fez com que os índios requisitassem, também, um espaço em uma região mais central para que pudessem continuar a venda dos materiais que são produzidos quase que diariamente enquanto estão na aldeia temporária.
“Estamos tratando alguns pontos. Um assunto é a moradia e o Centro de Referência. Além disso, temos necessidade de ter uma área comercial mais próxima ao centro. Isso é uma coisa que ficou de se acertar. Por enquanto, eles estão sendo bem responsáveis conosco, mas precisamos de agilidade”, cobrou Dauapuri.
A subsecretária Andrea Sepulveda, por sua vez, afirmou ter conhecimento da requisição e disse que esse é um assunto que ainda precisa ser debatido com mais detalhes.
“Nas conversas, eles chegaram a aventar uma ideia de ter um espaço em uma região central. Compreendo as necessidades que eles têm quanto à produção e venda de seus produtos artesanais, mas vamos analisar ainda esse quesito. O que importa é que temos um diálogo constante e, assim, vamos resolvendo as demandas conforme os interesses deles e do governo”, concluiu Andrea.
Fonte: Último Segundo