Circuito Cinema

Após dança de salão, chinês de “Made in China” quer ser ator no Brasil

Há 20 anos no Brasil, Tony Lee ainda se enrola com as palavras em português. "É muito complicado", observa o ator chinês. A reportagem diz então que ele pode falar em inglês, uma de suas línguas fluentes, se achasse melhor. Ele se recusa: "Eu quero português. Agora sou ator brasileiro", responde com uma gargalhada.

Lee estreia no cinema brasileiro em "Made in China", comédia estrelada por Regina Casé sobre a chegada dos orientais no Saara, o mais popular centro comercial do Rio de Janeiro. Na telona, ele é Chao, um misterioso comerciante que vende produtos por uma pechincha e abre a boca, confuso, toda vez que a vendedora Francis (Casé) se indigna com o pisca-pisca de Natal que custa R$ 1,99. "Muito calo?", responde, reforçando o 'l' no lugar do 'r'. 

Aos 59 anos, ele comemora a estreia. Tony era ator na China, mas sua carreira não decolou em seu país. Ele diz que não gosta de falar sobre o assunto, prefere contar de como sua vontade em estar atrás das câmeras o trouxe ao Brasil.

"Trabalhei durante anos com documentários. Em uma empresa que faz programas para agências de viagens. Eu tenho documentário sobre Porto Seguro, fiquei 45 dias lá. Naquela época não falava nenhuma palavra em português", relembra. Encantando com o país, resolveu ficar. Se casou com uma brasileira, teve uma filha e foi fisgado por outra paixão: os ritmos brasileiros. "Fiz dança de salão, lá na [avenida] Paulista", relembra. "Continuei dançando durante três anos, e agora sou professor de dança de salão também".

Ele garante que tem ritmo no corpo para ensinar forró, samba rock, gafieira e zouk na Liberdade, para um monte de chineses nada malemolentes. "Os professores brasileiros falam português muito rápido. Difícil os chineses entenderem para aprender".

Entre um passo e outro, Tony Lee conheceu alguns produtores e voltou a sonhar com a atuação. Apareceu no primeiro capítulo na série "Som e Fúria", de Fernando Meirelles, em uma cena em que cobra aluguel do personagem de Felipe Camargo. Em seguida, fez pontas na novela "O Astro" e na série "Beleza S/A". "Mas apenas no 'Made in China' eu tive mais espaço para criar", revela. "Sou um vilão. Mas não bandido".

"Atravessada?"

Tony assistiu ao filme na pré-estreia na semana passada, mas evitou chamar os amigos conterrâneos. "Tive medo que eles não fossem entender".

A confusão entre línguas diferentes permeia todo o longa, além das tiradas em torno de mitos sobre os orientais. Chao ouve no filme dúvidas pueris dos brasileiros: "É verdade que vocês comem cachorros?", "Aquilo da chinesa é atravessado?".

"Eu tive um colega de uma aula de Zouk que sempre me perguntava se era 'atravessado'", ele ri, deixando claro que não acha as piadas ofensivas. "É a cultura brasileira. É uma piada, não tem como levar a sério".

Lee defende que o filme mostra a realidade dos chineses. E ele sabe do que está falando: "Cheguei a trabalhar com comércio durante um ano. Bolsa Victor Hugo: quinhentos [reais]. Uma bolsa nossa: duzentos", relembra. "Tudo legal, documentado", faz questão de ressaltar.

Agora, no entanto, o sonho de ser um ator profissional voltou a brilhar nos olhos. "Aqui é mais fácil de tirar DRT [Registro de ator]", comemora.

UOL

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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