Esportes

Após acidente, ex-seleção de futebol de areia quer disputar Paralimpíadas

 
O incidente na carreira de Wagner foi no dia 12 de dezembro de 2010. Após participar da abertura de um campeonato local, na Baía da Traição, cidade do Litoral Norte da Paraíba, ele voltava de carro para João Pessoa com mais quatro pessoas. O motorista cochilou e o veículo capotou várias vezes em um trecho da BR-101, que corta a Paraíba. O ex-goleiro garante que não “estava nem disposto a seguir viagem” para ir ao evento. Mas, com a insistência e o pedido dos amigos para prestigiar a competição, decidiu mudar de ideia.
 
– Quando a gente estava voltando, o motorista que estava conduzindo o carro dormiu, infelizmente. Na hora, fiquei meio desligado do mundo, sem saber o que tinha acontecido. Quando olhei, o pessoal da Polícia Rodoviária Federal já estava no local e perguntou o que tinha acontecido comigo. Não tive um arranhão, mas quando tentei colocar a cabeça do lado de fora do carro para sair, eu não conseguia mexer mais nada e não entendia o que tinha acontecido. Foi uma lesão medular e hoje estou, por enquanto, em uma cadeira de rodas – relembrou Wagner. 
 
Antes deste fato, ele vivia um dos melhores momentos da carreira. Durante quatro anos, era figura frequente nas convocações do Brasil. E, no momento mais difícil da vida, a família e os amigos da seleção brasileira foram peças fundamentais. 
 
– Sempre estou em contato com eles por meio da internet, telefone… Os caras me deram uma cadeira de rodas. Sempre me deram força, um incentivo, um abraço. Isso é muito bom. A minha convivência com eles é como a de uma família. Graças a Deus, o legado que deixei foi muito bom, muito bom mesmo. 
 
O atual goleiro da seleção brasileira e um dos principais ídolos do futebol de areia, Mão relembra a relação que tem até os dias atuais com Wagner.
 
– Wagner é maravilhoso. É um irmão. Fomos companheiros de quarto na seleção brasileira. Tenho um carinho muito grande por ele. Até hoje temos contato. Fico muito feliz em poder retribuir esse carinho por ele agora. Amo demais aquele cara e sei que nossa amizade vai durar para sempre. Tivemos várias conquistas juntos – disse Mão.
 
No currículo, o paraibano tem dois títulos expressivos: o bicampeonato do Mundial no Rio de Janeiro (2007) e em Marselha, na França (2008). Em um quarto de sua casa, Wagner guarda recordações de tudo o que conquistou no esporte: luvas, camisas, fotos, medalhas e troféus. 
 
– Os mundiais foram as duas coisas mais expressivas na minha vida, pois todo mundo quer ser campeão mundial. Eu fui bi. Foi muito importante. Aprendi muito e ganhei muito também. Fui um vitorioso. Foram diversos títulos nacionais e internacionais. Então para mim foi excelente. Uma carreira grandiosa. 
 
Um dia depois de sofrer o acidente, o goleiro iria oficializar a oportunidade de jogar pela primeira vez em uma grande equipe: o Corinthians. Na época, o Timão estava iniciando os treinamentos para disputar o Mundial de Clubes. Até então, ele só havia atuado por times mais modestos da cidade natal João Pessoa, como Auto Esporte e Litoral.
 
– Ia ter esse torneio na época e estava tudo encaminhado para fechar com o Corinthians. O técnico era Alexandre Soares e já tinha até conversado comigo. Seria uma grande chance na minha carreira. Mas infelizmente não tive como participar dessa competição. 
 
DESCONTRAÇÃO NAS AREIAS
Por algum tempo, Wagner dividiu o quarto na seleção brasileira com um dos principais ídolos da atualidade no futebol de areia: o também goleiro Mão. O camisa 1 do Brasil diz que o ex-companheiro de quarto era muito sério. E não gostava de muitas brincadeiras.
 
– Ele não gosta de apelido. Ele não gostava de ficar colocando apelido nas pessoas para não se envolver. Era muito engraçado, pois quando eu era companheiro de quarto dele, eu ficava brincando com ele e ele falava que não queria mais ficar ali comigo por eu ser muito brincalhão e ele muito sério. 
 
Anos depois, o paraibano revela que "a linha dura" era para tentar se firmar no elenco, justamente por ser recém-chegado ao grupo. E conseguiu. Foram quatro anos sempre sendo lembrado na lista de convocados. 
 
Ele não gosta de apelido. Ele não gostava de ficar colocando apelido nas pessoas para não se envolver. Era muito engraçado."
 
Mão, sobre relação com Wagner na Seleção
 
– Estava chegando naquele momento. E Mão já tinha bagagem e eu querendo me firmar. Mas eu sempre brincava, mas não era tanto como ele. Mão me perturbava muito. Minha relação é maravilhosa com ele. 
 
As brincadeiras de concentração entre Mão e Wagner foram além do esporte. A amizade tornou-se uma relação de "irmãos". Há cerca de 15 dias, inclusive, a dupla se reencontrou em João Pessoa para matar as saudades. 
 
– Ele sempre me visita. Faz poucos dias que ele esteve na minha casa com Bueno (zagueiro, companheiro de Mão na seleção brasileira). Passeamos e tivemos a oportunidade de conversar muito. São sempre bons os nossos encontros. 
 
PARACANOAGEM
A chance para experimentar uma nova modalidade esportiva surgiu em março deste ano. O presidente da Federação Paraibana de Canoagem (FPC), Ricardo Costa, percebeu em Wagner uma aptidão para desempenhar a modalidade e o convidou para testar o novo esporte. 
 
– Pelo tempo que eu lhe conheço, pelas vitórias que você já conquistou no futebol de areia, você está disposto de participar da canoagem modalidade olímpica para representar a Paraíba e o Brasil em qualquer lugar? – questionou Ricardo Costa à época.
 
E Wagner aceitou:
 
– Como sempre na minha vida, tudo que eu abraço é com o coração. E a canoagem é mais um esporte que vou abraçar com o coração e com o objetivo de levar o nome da Paraíba e do Brasil para frente. 
 
E a partir desse instante, Wagner passou a ter novos desafios. Após praticar o badminton e o basquete em cadeira de rodas, ele começou a dar várias remadas. A primeira aula foi no Rio Sanhauá, na capital paraibana. 
 
– Os primeiros passos de Wagner ou de todo atleta, seja ele de qual idade for, de cinco até noventa anos, têm que ser em um barco escola. É um mistral adaptado no caso da situação dele. Fizemos um barco escola mistral adaptado exclusivamente para Wagner – explicou o presidente da FPC.
 
E Wagner se empolgou tanto com o novo esporte que já começa a sonhar mais alto. Pensa em disputar as Paralimpíadas em 2016 no Brasil. O caso do ex-goleiro é semelhante ao do ex-BBB Fernando Fernandes, que é dono de quatro títulos mundiais de paracanoagem na categoria K1 200m.
 
– É uma sensação incrível. Pronto ainda não estou. Mas é uma sensação maravilhosa. Gostei, adorei muito e com certeza vou continuar. Todo atleta quer disputar uma Olimpíada, um Mundial. Não sou diferente. Quando me proponho a fazer alguma coisa, tenho que fazer bem feito. Para isso, vou lutar. O projeto é esse daqui até lá. Não sei o que vai acontecer. Mas vou tentar de todas as formas. 2016 estamos aí – falou confiante. 
 
APOIO DOS AMIGOS E DA FAMÍLIA
O gás extra de Wagner é ter o apoio dos amigos e da família, principalmente. O goleiro Mão está na torcida para que o antigo companheiro de quarto na seleção brasileira consiga superar todas as barreiras e seja um vitorioso na paracanoagem. 
 
– Ele é um homem e um atleta muito competitivo. Esse novo desafio, tenho certeza absoluta, ele está encarando com todas as forças. Tenho certeza que ele vai dar bons frutos e trará grandes resultados para o Brasil. Desejo boa sorte, toda a felicidade do mundo. Ele vai ter um amigo e um torcedor também na paracanoagem – comentou Mão. 
 
Casada com Wagner, com quem tem uma filha de 14 anos, Silene Santos reconhece que não existem barreiras para o marido. E, se depender dos esforços dela, o homem que brilhou nas areias vai continuar a fazer sucesso, agora na água. 
 
– Para ele não tem barreira para nada. Eu senti muito mais do que ele quando tudo aconteceu. Mas, como ele está acostumado, como foi um atleta de alto rendimento, para ele agora a canoagem vai ser só questão de adaptação com relação ao esporte. Mas para ele nada é impossível. 
 
Wagner agradece o suporte de Silene e chama a esposa de "guerreira" por todos os obstáculos que os dois enfrentaram na vida. 
 
– Ela me acompanhou, como diz o ditado, na saúde e na doença. Ficou do meu lado e Deus queira que continue para o resto da vida, que não vai ser curta. Eu não estou com pressa de morrer. Minha vida será bem longa. 
 
Mesmo com todas as dificuldades na vida, Wagner não tira o sorriso do rosto. A alegria de viver transformou-se em uma "marca" do ex-goleiro. 
 
– A vida é muito boa. A gente tem que rir sempre. É apenas uma. Então, temos que aproveitar de todas as formas – finalizou Wagner. 
 
Globo Esporte

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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