Era uma sexta-feira, dia 12 de março de 2010, quando Claudia Dias abriu o portão de sua casa em São Paulo e deixou a filha Gabriela Carvalho Boutros, então com 6 anos, passar um final de semana com pai. Após a separação do casal, a rotina se repetia a cada 15 dias com horários determinados. Mas o empresário libanês Pedro Boutros Boutros não voltou com a filha e deu início a uma viagem ilegal ao Líbano. Após quatro anos, ainda com poucas notícias de Gabriela, Claudia sonha em trazer a menina para casa.
“Mesmo após a separação, o Pedro tinha uma vida sólida aqui no Brasil, com as empresas, casa própria. Nunca falou em voltar ao Líbano, mas ainda assim nunca deixei os documentos da Gabi com ele por medo”, disse Claudia ao iG na sexta-feira (12), um dia antes de embarcar para Trípoli, onde enfrentará na quinta (18) uma nova audiência sobre a guarda de Gabriela. Já com o direito sobre a criança no Brasil, ela hoje luta pelo reconhecimento da justiça libanesa.
O caso reforçou a fragilidade das fronteiras brasileiras na época. Segundo a polícia, após deixar a casa de Claudia em São Paulo, Boutros dirigiu até Foz do Iguaçu e cruzou a fronteira com o Paraguai. Lá desligou o celular, falsificou os documentos da criança e embarcou com ela em um voo ao Líbano, com escalas na Argentina e França.
“Foram três meses de silêncio, fiquei desesperada. Até que a Interpol confirmou que eles estavam em Beirute desde o dia 18 de março, seis dias depois da visita. Se não fosse a Interpol, o paradeiro da Gabi seria um mistério até hoje”, garantiu Claudia, que superou a depressão e trabalha como gerente de loja. Até hoje o empresário está na lista dos mais procurados pela Interpol, acusado de subtração de incapaz. Gabriela aparece na lista de crianças desaparecidas do órgão.
Para o advogado criminal José Beraldo, que representa Claudia desde o desaparecimento da filha, a principal preocupação é resgatar a criança que está crescendo longe da mãe e da família brasileira. "Gabriela nasceu no Brasil, foi registrada aqui e é filha de uma brasileira. O pai a levou criminosamente."
“Eu te amo, mamãe”
Claudia teve poucos contatos com a filha desde a separação. Em 2011, com apoio do Itamaraty, ela conseguiu viajar para Trípoli e encontrar Gabriela. "Fiquei três meses no país, mas a vi apenas duas vezes e ainda acompanhada por seguranças." Desde então, segundo ela, o ex-marido se comunica duas vezes por ano, enviando fotos recentes de Gabi ou mensagens de áudio pelo aplicativo Whatsapp, onde a menina já mostra dificuldades com o português. "Nunca consegui ter um diálogo com ela. Apenas recebo mensagens soltas. Eles [família de Boutros] estão ajudando a esconder minha filha."
Para conseguir informações periódicas de Gabriela, Claudia chegou usar a rede social do Consulado do Brasil em Beirute. Em uma postagem publicada no dia 19 de outubro de 2012, a gerente escreveu: “Solicito informações da minha filhinha, como: saúde, física, psicológica, etc. Ressaltando a este consulado, embaixada e aos diplomatas que eu não abandonei minha filha, ela foi levada criminosamente dos meus braços para o Líbano”. A resposta consular veio dois dias depois. O órgão confirmou que Gabriela vive em Bechare, cidade próxima a Trípoli, “bem, física e psicologicamente”, segundo declaração do pai.
Questionada sobre a audiência desta quinta-feira e a possibilidade de voltar com Gabriela ao Brasil, Claudia disse que vive momentos de emoção e medo. “Imagina uma mãe que está em desespero tentando ver a filha. Ela está crescendo longe de mim. Hoje está com quase 11 anos e tenho medo de não conhecê-la como antes. Mas sei que a relação de mãe e filha supera tudo. Só quero trazer ela para casa”, desabafa.
Fonte: iG